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Julio Gomes

CBF joga para a torcida ou não sabe como funciona o VAR

Julio Gomes

19/06/2018 06h41

Como deve ser usado o árbitro de vídeo? Qualquer conversa sobre o tema precisa começar com essa explicação. Eu, em meia hora de entrevista de Massimo Bussacca, o suíço chefe da arbitragem, e uma rápida visita ao lugar onde ficam as comissões vendo os jogos, já entendi. Mas, aparentemente, a CBF e outras pessoas do futebol não entenderam – ou fingem que não entenderam.

É assim: o juiz de campo toma as decisões que tomar. Se, em algum momento, a comissão de vídeo perceber alguma coisa clara, que pode não ter sido vista pelo juiz ou pelo bandeirinha, eles avisam. O juiz de campo pode aceitar a opinião de fora cegamente. Ou pode querer rever ali à beira do campo o lance em discussão. E ele, o juiz de campo, toma a decisão final.

Então vamos falar do lance de Brasil x Suíça. O juiz de campo não vê o lance ou não vê falta no lance. Não existe essa de ele "consultar o VAR", como muita gente vem dizendo.

Os árbitros de vídeo irão rever a imagem. Se eles virem uma falta clara ali e perceberem que o juiz não viu no campo, cabe a eles a iniciativa de avisar. "Olha, tem um lance que achamos que pode ser falta dentro da área". E aí cabe ao árbitro de campo dar a falta ou rever a imagem na lateral do campo.

Mas, se o árbitro de vídeo também interpretar que não houve nada ou então se o árbitro de vídeo perceber que o de campo tinha uma clara visão do lance, ele não tem que falar nada mesmo. Senão o futebol vai virar uma chatice. Play on. Segue o jogo.

Não adianta esperar do árbitro de vídeo uma reinterpretação do que foi definido no campo. Ele só chamará o juiz no rádio para falar de lances muito claros, sem quase nenhuma margem para interpretação.

Inicialmente, achei boa a postura de Tite, normal a dos jogadores e exagerada a dos colegas de imprensa. Mas, depois, a partir do momento em que a CBF resolve reclamar oficialmente sobre o uso do VAR, me parece uma falta de conhecimento sobre o sistema. Ou o famoso "jogar para a torcida". Reclamar só para dar satisfação.

Em sua representação, a CBF questiona como foi a comunicação entre os árbitros. O que isso importa? Simplesmente não está sendo aceita uma outra interpretação sobre os lances.

Vocês acharam falta em Miranda? Eu, por exemplo, não achei. Se ele tivesse atacado a bola, aquele empurrão seria suficiente para desestabilizá-lo e ele possivelmente iria ao chão. Mas, estáticos na área, o uso de braços é normal. Eu não daria a falta, e este deve ter sido o mesmo pensamento dos árbitros envolvidos. Respeito quem diz que é falta. É lance de interpretação, não de revisão.

Querem outro exemplo? Os ingleses estão reclamando até mais do que os brasileiros. Ontem, Inglaterra e Tunísia. Eu não daria o pênalti que o colombiano Wilmar Roldán deu para a Tunísia. Mas ele viu o lance e decidiu. Não existe essa de o VAR falar "olha, não foi, viu". Não é assim que funciona! A não ser que o árbitro de vídeo veja algo claro, do tipo, "reveja a imagem, porque o defensor toca na bola antes", ou algo do tipo, ele não tem nada a fazer. A interpretação do árbitro de campo manda.

Outra coisa são os dois agarrões em Harry Kane na área, lances que o juiz de campo pode não ter visto e, aí sim, cabe ao pessoal do vídeo alertá-lo.

Acredito que a tendência daqui para frente é árbitros marcarem menos coisas – bandeirinhas então, nem se fala. É muito mais simples não marcar e depois ser avisado/rever para marcar. Do que apontar um pênalti e depois desmarcá-lo.

O VAR, e a Fifa deixou isso bem claro, não é uma consulta constante. E não é um debate constante de interpretações por rádio. Ele aparece para ajudar em lances muito claros. Não foi o caso da suposta falta em Miranda e nem nos lances reclamados pelos ingleses.

Segue o jogo!

 

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.