Topo

Julio Gomes

Diário da Copa: Sem segredos

Julio Gomes

18/06/2018 16h42

Décadas em segredo. Samara, hoje mundialmente conhecida, sede de Copa do Mundo e com o estádio mais bonito que eu já vi, foi uma cidade fechada por décadas.

Durante a Segunda Guerra Mundial, os soviéticos, diante de eminente invasão dos alemães a Moscou, transformaram Samara na segunda capital. Se o pior acontecesse, o governo se mudaria para lá. Tudo estava pronto. Tudo mesmo.

Até mesmo um bunker foi construído para Stalin, 37 metros abaixo da terra – não se sabe se um dia ele colocou os pés lá, afinal, o Exército Vermelho derrotou Hitler.

Após o final da guerra, Samara, que tinha outro nome (Kuibychev), passou a ser uma cidade fechada para estrangeiros. Ninguém poderia entrar – aliás, até hoje há alguns cursos nas universidades russas que são proibidos para estrangeiros, como o que ensina a construir mísseis. É até compreensível, convenhamos.

A abertura e a mudança para o nome antigo só vieram após o colapso da União Soviética. Foi também quando o bunker de Stalin, desconhecido até da população local, foi descoberto.

Para mim, é difícil imaginar uma cidade fechada. O conceito nos é estranho e desconhecido. E eles não gostam muito de falar sobre isso. Elena, a guia que mostra o bunker para os turistas (só em russo, como tudo por aqui), conta que não se lembra de Kuibychev, só da cidade como ela é hoje.

Foi em Samara que Yuri Gagarin passou seus primeiros dias após se transformar no primeiro homem a viajar para o espaço – em um foguete construído em… Samara. Hoje, um pequeno e simpático museu relembra a epopeia e expõe, na porta, um foguete de verdade, 60 metros de altura, dado à cidade para celebrar o feito dos soviéticos.

É uma cidade bonita e feita, alegre e cinza ao mesmo tempo. Podemos encontrar nela várias micro Rússias. A nova, que se abre, a antiga, fechada e secreta.

Por falar em segredo, não deveríamos estar tão surpresos com os tropeços de Brasil, Alemanha e Argentina na estreia. O futebol mudou demais, o equilíbrio é total. Nunca os favoritos foram tão pouco favoritos como hoje em dia.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.