Diário da Copa: no trem com Dmitri, Andriy e Ronaldo
Primeiro, me senti como se fosse em um filme daqueles antigos, de espiões. Estação de trem. Uma praça escura. Um pequeno lance de escadas leva à plataforma. Também escura. Sai fumaça da parte de cima de um dos vagões. Não está frio nem calor. Em frente a cada uma das portas, uma mulher. Todas vestidas com o uniforme verde escuro da companhia de trens russa.
Encontro meu vagão. "Passport". Eu pego o passaporte, esboço um sorriso, que não tem retribuição. Fico pensando se não tenho nenhum microchip na mochila, algo que me faça ser preso e levado ao interrogatório numa salinha da estação, com um comandante soviético fumando cigarro atrás da mesa. Enquanto penso na bobagem, levo uma bronca. Tipo, "vai entrar ou não vai?". Entro.
Minha cabine tem quatro camas. A minha é a 27. Fica na parte de baixo, ainda bem. Do outro lado, um senhor de bigode acena com a cabeça e continua fazendo o que estava fazendo no celular.
Saio, percorro o corredor e vejo dois russos assistindo ao Portugal x Espanha no celular. É verdade! O jogo! Eu havia visto só o primeiro tempo. Quando passo pela cabine, Diego Costa empata a partida. Pergunto se posso assistir com eles. Falo logo que sou do Brasil.
Aí sim, sorriso no rosto. Dmitri e Andriy viraram meus melhores amigos por meia hora. Torcedores do Krylia Sovetov, time de Samara, estão indo para o mesmo lugar que eu. Saransk, para o jogo entre Peru e Dinamarca.
Dmitri fala um pouquinho melhor o inglês. Conversamos de Tite, de Samara, do Rio de Janeiro, de Lopetegui e, claro de Cristiano Ronaldo. A história não é nova, mas é incrível a capacidade que o futebol tem de produzir amizades, ainda que efêmeras.
Último minuto, falta para Portugal. Eu já sei o que vai acontecer. Eles, acho, também sabiam. Todo mundo sabia. Cristiano é o maior e melhor atacante que já vi jogar.
Andriy aplaude, Dmitri cerra os punhos. Eu arranho meu russo. "Ôtchin haraxó!". Ele é muito bom! Andriy me pergunta. "Como se fala muito bom em português?". Cristiano Ronaldo? Não, ele não é muito bom. Ele é gênio. É a palavra que me vem na cabeça. Gênio, Andriy.
Nos despedimos, volto para minha cabine. O senhor de bigode já está dormindo. Ele não ronca, ainda bem.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.