Argentina não aprende a lição: os malas sempre se dão mal na Copa
Para torcedores e jornalistas, ir ao quartel general da Argentina na Copa é castigo, não é prazer. Os argentinos se isolaram no vilarejo de Bronnitsy. Não é apenas longe de Moscou, é longe de qualquer estação de transporte público (e olha que os trens chegam a qualquer lugar na área da capital russa). Até aí, tudo bem. A seleção argentina tem de pensar no que é melhor para ela esportivamente.
A guerra da seleção com a imprensa é conhecida. Mas será que as condições de trabalho precisavam ser tão precárias? Será que era necessário deixar de fora do tal treino público uma quantidade razoável de jornalistas (quase todos asiáticos, não amigos do assessor de imprensa argentino)? Será que era necessário estabelecer contato zero (nada de entrevistas, nem mesmo as chatíssimas coletivas)?
Tudo isso ainda seria relativamente compreensível se houvesse uma relação próxima da seleção argentina com seu público, com seu torcedor. OK, não precisamos da imprensa. Porém… não é o caso. O distanciamento é flagrante. E ficou comprovado com o descaso da Argentina com seu público no treino "público" de ontem, apenas para russos (na foto abaixo, a turma que ficou de fora).
Esta é minha quinta Copa do Mundo. E tive a sorte de, de alguma maneira, ter visto e sentido de perto o ambiente das quatro seleções campeãs dos Mundiais que cobri.
Em 2002, a seleção brasileira era a mais aberta da história moderna. A família Scolari abraçava todo mundo. Os jogadores davam entrevistas todos os dias, se encontravam com jornalistas e torcedores no lobby dos hotéis, andaram até de trem – sem aquele isolamento completo na plataforma ou no vagão.
Em 2006, a Itália recebia todo mundo em sua Casa Azzurra perto de Dortmund. Tinha comida (da melhor), vinho e, claro, o que importa, respeito e acesso aos jogadores e comissão técnica. Em 2010, a Espanha na África também vivia um ambiente relaxado. Em 2014, a Alemanha fez o que fez na Bahia. Sempre ambientes positivos, para cima. De confiança e boa convivência.
Em nenhum dos quatro Mundiais eu encontrei tal ambiente na seleção argentina. Nenhum. Sempre uma atitude muito negativa entre jogadores, comissão técnica e dirigentes e o entorno que os rodeia. Eu não tenho nada contra argentinos e a Argentina. Pelo contrário. Não faço parte do medíocre time dos que tentam criar esse ódio entre nós e eles.
Mas é inegável o mau humor. Os caras são malas no ambiente seleção. A exceção, claro, sempre foi o estádio, onde o torcedor argentino de Copa do Mundo é, disparado, o melhor que tem. Aqui na Rússia, certamente empurrará sua seleção de novo.
Só não sei se ela merece.
Nas quatro Copas e duas Euros que vi de perto, as seleções malas – me lembro também da França-2006, da Inglaterra sempre, do Brasil-2010, entre outras, sempre acabam se dando mal. Sempre. E as seleções que mantêm ambiente positivo, com seus seguidores e jornalistas, sempre se dão bem.
Claro, porque o que vemos pessoalmente é apenas um cheiro do que deve estar acontecendo lá dentro dessas seleções – descontração, pensamento positivo, boas vibrações. E também nunca é bom deixar tanta gente irritada, né? Começa a rolar torcida contra, vudu, essas coisas.
A Argentina tem grupo difícil, cruzamento difícil, time que não está pronto, melhor jogador falando em aposentadoria, técnico que vai sair e não tem confiança de ninguém, relação de guerra com quem a rodeia. A receita perfeita do fracasso.
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