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Julio Gomes

Neymar dá a melhor resposta: a "humilhação do bem"

Julio Gomes

10/06/2018 12h58

Aleksandar Dragovic é um daqueles jogadores de quem provavelmente só falaremos hoje. Depois, nunca mais. Um desses caras que precisam estar no futebol, porque nem todos são craques. Temos que ter também os que caem de bunda no chão antes de Neymar meter um golaço.

Aqui na TV russa, meu paupérrimo conhecimento do idioma me permitiu entender uma expressão do narrador. "очень класс!". Tipo… "otchin class!". Muita classe. Emendou com um "d-jo-go bo-ni-to".

Essa é a marca do Brasil no mundo, quer o pessoal queira ou não. É por isso que a seleção brasileira é adorada. Não por vitórias. Mas por encanto.

O gol absurdo de Neymar, deixando Dragovic sentado como um pato no chão antes de concluir a gol, é a melhor resposta possível para o adversário.

Como mandou mal a Áustria neste domingo! Não permitiu o minuto de silêncio a Maria Esther Bueno antes do jogo (e isso em um dia em que um tenista austríaco jogava a final de Roland Garros). E não cansou de bater em campo.

É verdade que os amistosos pré-Copa tiveram a marca da competitividade. Algumas entradas mais fortes, jogos "sérios". Mas uma coisa é jogar sério, outra é bater gratuitamente.

Prodl deu uma entrada criminosa em Neymar, seguida de um grito também, convenhamos, exagerado. Escutei aqui em Moscou sem precisar da TV. Schopf foi só madeira desde o início. Na falta do cartão vermelho, o próprio técnico austríaco, o senhor Foda (desculpem, a culpa não é minha), retirou o rapaz de campo. E Dragovic chutou Marcelo no chão, fingindo que queria tirar a bola. Primeiro levou dura de Paulinho. Depois, virou meme. Bem feito pela humilhação.

Foto André Mourão / MoWA Press

Essa é a humilhação válida. Nunca na vida criticarei Neymar por dar um drible maravilhoso como este para tirar o rival da jogada e meter o gol. Critico as carretilhas inúteis no meio de campo apenas para humilhar outro profissional.

Recado dado. Neymar será caçado na Copa. Porque é craque e porque é detestado por muitos – o que fala dele tanto quanto fala dos outros. Caberá às arbitragens coibir os açougueiros. E a Neymar responder na bola, como fez hoje.

O Brasil enfrentou um adversário duro, que acaba de ganhar da Rússia e da Alemanha – jogando bem, não por acaso. A seleção não deu chance alguma, fez 3 a 0 e poderia ter feito mais.

A Copa pode vir ou não. Isso é um jogo. Mas essa é uma seleção pronta para algo grande na Rússia.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.