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Julio Gomes

Asensio deixa o projeto PSG contra a parede

Julio Gomes

14/02/2018 19h50

O PSG fez quase tudo certo durante quase todo o tempo. Mas o Real Madrid é o Real Madrid. E, se de um lado alguns gols foram perdidos, do outro eles foram feitos.

Os 3 a 1 do Real Madrid no Bernabéu não acabam com a eliminatória. É claro que o PSG pode ganhar por 2 a 0 ou mais em Paris. Mas, convenhamos, é o atual bicampeão europeu quem tem o comando da disputa pela vaga nas quartas de final.

O projeto bilionário do PSG está contra a parede. Não é exatamente o plano gastar toda essa grana para conquistar torneios domésticos e ser eliminado nas oitavas de Champions.

Quando o Paris Saint-Germain melhor jogava, quando parecia que o time de Neymar faria o segundo gol, entrou Asensio. 22 anos de idade. Já conhecido por quem acompanha mais de perto o futebol europeu, mas não de tanta gente que fica restrita ao futebol local. O menino simplesmente acabou com o jogo – olho nele, que pode explodir de vez na Copa.

Em pouco mais de 10 minutos em campo, Asensio fez as jogadas dos dois gols que decretaram a virada e a vitória do Real Madrid.

Neymar jogou bem, ainda que tenha tomado um cartão amarelo bobo e perdido algumas chances de gol. Daniel Alves, restrito à defesa no primeiro tempo, foi importantíssimo para o domínio do PSG no segundo. Marquinhos fez uma partida impecável – que Thiago Silva tenha sido deixado no banco é uma notícia e tanto. Quem confia no homem?

O técnico Unai Emery foi bem também – falarei disso mais para frente. Colocando-se no lugar do torcedor do PSG, é difícil entender por onde veio o trem branco que passou por cima e gerou esse resultado.

Mas ele veio na forma de Asensio e os dois gols de Cristiano Ronaldo, apesar de alguns outros perdidos.

A escalação do PSG, sem um volante de origem, foi ousada. Incrível que um elenco milionário como este tenha para jogar de 5 apenas Thiago Motta, um jogador com a carreira marcada por lesões. Foram desenterrar Lass Diarra no mercado de inverno, mas seria bizarro colocá-lo em um jogo como este.

Sobrou para o jovem argentino Giovani Lo Celso, 21 anos apenas. Não foi uma escalação inédita, mas uma coisa é ter Lo Celso por ali em partidas do Francês, em que o PSG domina completamente e o adversário mal passa do meio de campo. Outra coisa é jogar assim no Santiago Bernabéu. Lo Celso acabaria cometendo um erro grave, no gol de empate, típico de quem tinha que fazer o que não sabe.

Zidane optou por Isco no meio de campo. E, como se esperava, o Real Madrid dominou o setor e o jogo nos primeiros 10 minutos.

Mas o PSG conseguiu, pouco a pouco, controlar as ações. Rabiot, que foi o melhor em campo, Verratti e Lo Celso passaram a ditar o ritmo do jogo, sem chutões. E, consistentemente, encontraram Neymar pela esquerda. Ele chegou a ter algumas bolas em 1 contra 1 para cima de Nacho, um lateral que na verdade é um zagueiro.

Se de um lado Neymar teve duas bolas em que recebeu em velocidade, trouxe para o meio e tomou as decisões erradas, do outro lado Cristiano Ronaldo perdeu dois gols que não costuma perder e ainda bateu mal uma falta que seria "meio gol" em outros pés – inclusive os dele.

Até que, quando finalmente trocou de lado e avançou pela direita, o PSG viu uma boa jogada de Mbappé acabar em gol. O cruzamento sobrou para Rabiot, que finalizou livre enquanto Modric só assistia.

O PSG era superior em campo, jogando com personalidade e com muita obediência tática. Não víamos o Neymar anárquico de alguns jogos e, sim, o Neymar jogando como rende melhor. Pela esquerda, com liberdade para flutuar.

O Real Madrid achou o empate no final do primeiro tempo, em uma infantilidade de Lo Celso, que agarrou o pescoço de Kroos na área. Cristiano Ronaldo bateu bem e fez seu gol número 100 pelo Real Madrid em Champions League.

O segundo tempo começou melhor para o Real Madrid. Casemiro, Modric, Kroos e Isco passaram a fazer valer a maioria no meio de campo, e o time da casa tinha o jogo sob controle, ainda que sem grandes chances de gol.

Foi aí que Unai Emery mudou o jogo. Com uma substituição suspeita, no papel, e ótima taticamente, na prática. A entrada do lateral Meunier no lugar de Cavani. O futebol é maravilhoso também por isso. Uma substituição que parecia defensiva, com 1 a 1 no placar, deixou o PSG muito melhor em campo.

Daniel Alves, que estava em campo apenas para impedir os avanços de Marcelo, passou a jogar pela direita na linha ofensiva – como no Barcelona ou na Juventus. Mbappé foi para o comando do ataque, trocando de posição com Neymar constantemente. O time passou a atacar de forma dinâmica e criou várias chances de gol.

Mas… não fez.

A resposta de Zidane demorou alguns minutos. Ele colocou em campo Asensio e Lucas Vázquez – Bale já havia entrado. E tirou Casemiro e Isco, que caíram muito do primeiro para o segundo tempo. Deu certo. Quando o Real Madrid se encontrava pior em campo, duas jogadas de Asensio acabaram nos gols de Cristiano Ronaldo e Marcelo.

Meunier acabou entrando mal em campo. A substituição de Emery foi ótima taticamente, mas na parte individual o trem passou por cima de Meunier.

Eliminatória aberta. Pero no mucho.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.