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Julio Gomes

Clássico sonolento expõe a época mais difícil de ver jogos no Brasil

Julio Gomes

04/02/2018 18h55

Entre janeiro e maio, é o buraco negro. O fundo do poço. A hora mais difícil de ver jogos Brasil afora. Principalmente, se for logo depois de algum jogo grande da Europa. É o luxo seguido do lixo.

Neste domingo, a emenda foi Liverpool 2-2 Tottenham com Palmeiras 2-1 Santos (claro, o clássico foi visto por quem está onde passou esse jogo – fora de São Paulo, tivemos outros jogos sendo transmitidos na TV aberta. Vou me ater ao que vi).

A outra dobradinha tradicional que vemos entre janeiro e maio é em meios de semana. Jogos de Champions League ou finais das Copas europeias à tarde seguidos de duelos modorrentos das fases iniciais da Libertadores e Copa do Brasil à noite. Dá depressão.

Liverpool e Tottenham, neste domingo, foi um daqueles jogos incríveis da Premier League. A 110 por hora, sem parar por um segundo sequer, de tirar o fôlego e, de quebra, com golaços, placar maluco, pênaltis e gols nos acréscimos, etc. Já Palmeiras x Santos foi um sono só.

Um jogo muito, muito, muito difícil de ver. É claro que há atenuantes, já falaremos deles. O calendário não ajuda nada, nada, nada.

Quem está emocionalmente envolvido nem precisa perder tempo cornetando aqui. É lógico que o palmeirense está feliz e o santista está triste em função do resultado e das perspectivas de cada um deles na temporada. Mas isso pouco importa, falo da qualidade do jogo. Nem mesmo o mais fanático torcedor pode estar satisfeito com o ritmo do clássico paulista. Quer fazer um teste? Tente encontrar um amigo não-palmeirense que tenha assistido aos 90 minutos e tenha gostado.

É claro que não são todos os jogos que são bons na Europa. Óbvio que não. Não me venham com aquele argumento profundo de "vá ver Getafe x Leganés então". Falta qualidade técnica lá em muitos times. Mas os jogos são mais bem jogados, os times são mais organizados. E, o principal, as arbitragens não ficam parando tanto tudo.

No Palmeiras x Santos isso ficou claro. Tudo é falta, tudo é cartão, tudo é reclamação, tudo é motivo para ficar rolando no chão. Os árbitros são permissivos, e os jogadores ficam o tempo todo querendo enganá-los e pressioná-los.

O ritmo de jogo já é lento por natureza, porque estamos no começo da temporada e os times estão longe do melhor momento físico. E os árbitros fazem com que esse ritmo seja ainda mais lento.

Mesmo com o placar apertado, o clássico paulista foi um sono só. Parecia ritmo de Copa de 70. Para quem viu Liverpool x Tottenham minutos antes, parecia um jogo em slow motion. O Santos achou um gol (ilegal, pois a bola havia saído pela linha de fundo segundos antes) e, ainda assim, não passou nem perto de empatar.

O Palmeiras, apesar de ter um elenco muito, mas muito, mas muito melhor que o do Santos, nunca apertou, nunca fez valer a superioridade. Roger tem escalado sempre o que tem de melhor, colecionado vitórias com segurança e está ganhando a tranquilidade que outros não tiveram para trabalhar. Está sendo inteligente.

A superioridade do Palmeiras só ficará mais clara conforme a temporada avance. O grande vilão, para todos, é o calendário. Ninguém teve nem pré-temporada.

Virão as finais dos Estaduais, com algumas partidas mais emocionantes, porque serão clássicos e jogos eliminatórios. Acabará a temporada europeia. Virá a Copa do Mundo. E, lá para agosto, o Brasileirão, com times mais prontos e melhores fisicamente, passará a ter partidas melhores.

No segundo semestre, chegam também as fases agudas de Libertadores e Copa do Brasil. É o que nos resta. Esperar. E tentar não dormir.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.