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Julio Gomes

A Premier dá mais uma lição: jogadores que não desistem nunca

Julio Gomes

04/02/2018 16h54

Liverpool e Tottenham fizeram um jogo daqueles de dar gosto. Os clássicos da Premier League costumam ser fantásticos. Os do Liverpool então, nem se fala – afinal, é um time de DNA ofensivo e com defensores que cometem muitas falhas infantis.

O Liverpool, único capaz de ganhar do todo-poderoso Manchester City na Premier, vencia o Tottenham por 1 a 0 em casa. Foi melhor no primeiro tempo, podia ter feito mais. Na sequência, o time londrino dominou totalmente o segundo tempo, mas esbarrava na defesa de Liverpool.

Até que tudo aconteceu nos 15 minutos finais. O empate saiu dos pés de Wanyama, com um petardo inacreditável de fora da área. Um dos gols do ano.

Em vez da satisfação com o empate, o Tottenham mostrou sede. Foi para cima e conseguiu um pênalti. Em um lance difícil, em que Kane estava em posição de impedimento, mas a falha de Lovren, que ataca a bola e fura, tocando de leve nela, habilita o atacante. Kane, em uma rara tarde infeliz, chuta no meio do gol e desperdiça o que seria a virada.

Tudo indicava que o jogo acabaria empatado. Mas aí o egípcio Salah, que certamente é um dos cinco melhores jogadores da temporada, fez o inimaginável. Recebeu uma bola pela direita, cruzou e ela tocou no braço de Delle Ali. Pênalti não marcado. Salah é tão rápido, tão rápido, que deu tempo de reclamar, desistir de reclamar, insistir na jogada, driblar três e meter o 2 a 1. Outro gol do ano.

Impossível não pensar em tantos jogadores que ficariam lá reclamando de pênalti e correriam babando para cima do árbitro. Vemos isso com frequência no Brasil. O jogador que desiste da jogada para reclamar ou cavar alguma falta.

Acabou, certo?

Nada disso. Ainda deu tempo de o Tottenham jogar uma bola na área e Van Dijk, o zagueiro mais caro do mundo, chutar Lamela na área. Teve a intenção? Não vejo intenção de fazer falta no lance. Mas o fato é que Lamela se antecipa na jogada, ganha o espaço e é acertado. Pênalti.

Só que o juiz não viu! Passaram alguns segundos até que o assistente chamou o árbitro para falar do pênalti. Aos 49 do segundo tempo, em um clássico, fora de casa.

Quantos bandeiras no mundo têm a capacidade técnica e, o principal, a coragem, a tranquilidade para marcar um lance desses? Saber que não será agredido, não irá para a geladeira, etc, etc…

E lá se foi Kane para a segunda chance e seu gol número 100. Depois de perder a chance da virada, não perdeu a do empate. 2 a 2.

A Premier League dá lições para todo mundo, principalmente aqui para nós, todos os dias. Mas, à parte toda a organização magnífica extra-campo, o que mais têm encantado são as lições dentro das quatro linhas.

Jogadores que não simulam, respeitam as decisões de arbitragem, que escolhem jogar bola. E não desistem nunca.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.