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Julio Gomes

Será que Roger Federer é o maior atleta de todos os tempos?

Julio Gomes

28/01/2018 13h12

Quem é o maior atleta de todos os tempos? Essa é uma pergunta que vai gerar um zilhão de respostas e de linhas de argumentação para justificá-las.

Talvez seja a emoção do momento. O choro de um mito, que é tão mito que se emociona até com o que já viveu. Mas Roger Federer deu neste domingo mais um passo. Será que podemos considerar o suíço o maior da história?

Em Melbourne, Federer levantou hoje seu vigésimo troféu de Grand Slam, o sexto na Austrália. Mas não falo apenas de tênis, e, sim, de todos os esportes.

O futebol nos deu Pelé, o basquete nos deu Jordan, o surfe nos deu Slater, o automobilismo nos deu Schumacher, a natação nos deu Phelps, o atletismo nos deu Bolt. E, mesmo dentro destes esportes, os citados não são unanimidade.

Por que, então, Federer?

Acho que são duas as principais razões.

A primeira é que Federer joga um esporte individual. É ele e a raquete. Ele com ele mesmo. O máximo que o tênis tem de fator externo é o tipo de piso. E Federer ganhou em todos eles.

Pelé e Jordan estavam em times. Tinham companheiros, participavam de um jogo coletivo. Na Fórmula 1, os pilotos pilotam carros, uns são melhores, outros piores, uns quebram. No surfe, existe o fator "nota", a avaliação dos juízes. Não é preto no branco. E são justamente tantos cinzas que fazem as discussões serem intermináveis.

Pelé ou Maradona? Jordan ou Magic? Schumacher ou Senna ou Fangio?

E Phelps e Bolt? Mitos olímpicos. Mas mitos de esportes mais, digamos, físicos. Sem querer diminuir, mas atletismo, natação, ciclismo, fazem parte de uma gama de esportes de força. Correr mais rápido, nadar mais rápido, saltar mais rápido. "Basta" fazer o melhor, independente do adversário. Os recordes de todos esses caras serão superados um dia. Sempre será assim.

O tênis é um esporte de alcance e audiência mundiais, assim como os mais populares. Os atletas estão sob nossos olhos todas as semanas, não uma vez a cada dois anos. Não é jogado em três ou quatro lugares. É jogado em todas as partes, todos os continentes. E é um jogo em que entram muitas mais variáveis do que nos esportes de força. Como, por exemplo, o "jeito".

E aqui chegamos à segunda razão para colocar Federer no topo do topo.

Ele foi capaz de aliar estética a resultados. Não é um portento físico. É um virtuoso. E que, jogando de uma forma plasticamente magnífica, conseguiu bater recordes e mais recordes.

Se um cidadão se dopar fortemente, ele pode ganhar tudo no ciclismo (vide Armstrong). No tênis, pode se dopar o quanto quiser. Não ganhará de alguém que jogue melhor.

 

Sabem o debate (falso) criado na discussão Messi versus Cristiano Ronaldo? Aquele do talento contra força física? Com o suíco, não existe.

Federer tem talento, estética, força física, empenho, profissionalismo, longevidade, capacidade de se adaptar ao longo dos anos, capacidade de superar sua nêmesis (Nadal), carinho e respeito aos fãs. E, claro que sem restar importância a todo o seu staff e pessoas que lhe ajudaram ao longo dos anos, mas ninguém foi lá sacar uma bolinha sequer por ele. Na hora H, é ele com sua raquete e suas emoções. Tem isso também. Por ser tão individual, o tênis é um esporte muito emocional, muito mental.

Tipo, não falta nada. É o atleta perfeito.

Eu respeito todos os nomes gigantescos do esporte mundial. Mas está ficando difícil colocar algum nome acima deste.

"O conto de fadas continua", disse Roger, troféu em mãos, lágrimas no rosto.

O conto de fadas continua. Deste mundo, o homem não é.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.