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Julio Gomes

Sul-Americana expõe elenco mal planejado e desequilibrado do Flamengo

Julio Gomes

14/12/2017 04h00

O Flamengo acabou o jogo contra o Independiente depositando suas esperanças de título em Lincoln, de 16 anos, Vinícius Jr, de 17, e Vizeu, de 20. Paquetá, que também tem 20 anos, foi o melhor jogador do time e autor do único gol.

Isso, claro, antes de Cuéllar fazer um pênalti estúpido que decretaria o empate e o título para os argentinos. Diego e Arão, os outros meio campistas, fizeram um jogo abaixo da crítica. Ainda bem que Márcio Araújo não estava em campo, senão a culpa, como sempre, seria toda dele. Éverton Ribeiro, que chegou com status de pop star no meio do ano, começou no banco e não mudou nada depois de entrar.

O jogador mais confiável do Flamengo na decisão da Sul-Americana era o goleiro, quem diria. Mais um jovem, César, que não deixou o time na mão.

Onde estavam Geuvânio, Rômulo, Rhodolfo….?

Resumindo: o clube mais popular do Brasil, que acertou suas finanças e tinha (tem) tudo para criar uma verdadeira dinastia no continente, acabou o péssimo ano precisando que os meninos da base salvando a pele de todo mundo. Não conseguiram.

Nada contra usar a base. Mas este não foi o caso de um uso planejado. Foi desespero.

As únicas chances de gol no segundo tempo vieram com Réver, que falhou no ataque e atrás também. Não dá para reclamar dele. Nem dele nem de Juan. Mas parece um pouco arriscado depositar a defesa nos pés de dois veteranos. Réver jogou mancando a partida toda.

Dá para reclamar do árbitro pelo pênalti? Dá. Dá para reclamar pelos pouquíssimos minutos de acréscimos? Dá.

Mas o buraco do Flamengo é mais embaixo. O Independiente está aí para mostrar como é possível montar elencos competitivos e equilibrados com pouco dinheiro.

O tal Barco, de 18 anos, que joga muita bola, vai para a MLS, lá nos Estados Unidos. Nenhum clube brasileiro tem um olheiro decente para pescar este tipo de talento no país vizinho?

Não basta ter grana. O Flamengo precisa contratar com mais inteligência, montar um elenco mais bem pensado e equilibrado. Simples assim. Vai ter de atacar o mercado de forma diferente, vendendo quem tem valor, mas que talvez não se encaixe neste projeto. Outros precisam ser dispensados.

Não adianta só comprar. O Flamengo precisa vender muita gente e, depois, comprar. Guardadas as devidas proporções, sabem quem fez isso no último mercado europeu? O Manchester City. Não foi só atrás de jogadores. Antes de comprar, mandou muita gente embora.

Este foi um time bom o suficiente para se classificar para a próxima Libertadores, ganhar o Estadual e chegar a duas finais de torneios que não eram prioritários. Mas, com todo esse dinheiro, e mesmo com a falta de sorte por algumas lesões e desfalques de outros tipos, o Flamengo precisava ter feito mais. Muito mais.

A diretoria mandou mal no planejamento. Mandou mal ao afastar o torcedor, cobrando preços abusivos ao longo do ano. Muitos jogadores mandaram mal em campo. E, claro, torcida que pula grade, invade estádio e estoura rojão em hotel não merece muitos elogios.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.