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Julio Gomes

Mou x Pep, capítulo 20: a batalha para voltar ao topo da pirâmide

Julio Gomes

10/12/2017 04h00

Em algum momento, parecia que José Mourinho e Pep Guardiola haviam atingido tal tamanho que mastodontes como Real Madrid e Barcelona estavam a seus pés. Não era o Barcelona que dominava a Europa e seria, um ano após o outro, desafiado por Chelsea, Inter, o próprio Real. Não. Era o Barcelona de Pep. E o desafiante era o time de Mou, onde quer que ele estivesse.

O tempo passou, Mourinho saiu do Real Madrid, viveu altos e baixos, perdeu um pouco do status adquirido. Guardiola foi para o Bayern, não chegou a uma final europeia, começou mal no Manchester City. E, neste domingo, eles se reencontram em mais um dérbi de Manchester.

Será o dérbi número 175 da história e o vigésimo jogo com os dois técnicos mais falados do mundo se enfrentando. O capítulo número 20. São dois técnicos que há muito tempo não atingem o olimpo que costumavam frequentar. Que não são unanimidade.

Mas que, nesta temporada, dão toda a pinta de que estão prontos para triunfar novamente. Não é apenas mais um Mou x Pep. É um clássico importante para situar a força dos times deles, que são candidatos a tudo na Europa e querem justificar o rótulo.

Amigos nos tempos de Barcelona anos-90 (Mou era auxiliar, Pep era jogador), eles romperam completamente em 2011, no auge da rivalidade. E agora, na mesma cidade, cinzenta, onde não há nada o que fazer e já há alguns anos sem se enfrentar diretamente por algo grande, parece que reataram.

Nas coletivas pré-jogo, não tivermos farpas para lá e para cá. Guardiola se recusou a criticar o jogo supostamente "negativo" do United ("cada técnico entende o futebol de uma maneira, essa é uma beleza do esporte"). Chamou Mourinho de "irmão gêmeo" na vontade de ganhar que ambos compartilham. O português, do outro lado, elogiou muito o time do City e seu "técnico fantástico". Para não dizer que não era Mourinho, alfinetou os jogadores e as arbitragens (já fazendo aquela tradicional pressão) dizendo que às vezes "o vento derruba os jogadores do City".

O fato é que os dérbis disputados na temporada passada tiveram um tamanho muito menor do que o esperado, pois os times de Manchester fizeram uma campanha pouco espetacular. Pareciam jogos envolvendo técnicos com mais passado do que futuro. Mas, neste ano, tudo mudou.

O City lidera a Premier com uma campanha surreal, 14 vitórias e 1 empate. O United tem respeitáveis 35 pontos, mas já está 8 atrás. Ou seja, o dérbi é crucial para o time de Mourinho, que joga em casa, tentar quebrar a invencibilidade do City, diminuir a diferença para 5 pontos e mostrar que o campeonato está vivo.

Mais do que isso. São dois times que claramente podem ir longe na Europa. Fizeram uma primeira fase de Champions League muito boa e podem, por que não, se encontrar em fases agudas no ano que vem. Guardiola e Mourinho voltam a ser fortíssimos aspirantes a tudo. A reconquistar a Europa – coisa que um não faz desde 2011, o outro, desde 2010.

Até hoje, foram disputados 19 confrontos diretos entre Mourinho e Guardiola. Pep ganhou oito jogos, Mou ganhou quatro e foram sete empates. Em pontos corridos, foram seis jogos, com três a um para o catalão (dois empates) – o mais marcante foi o primeiro, os 5 a 0 do Barça sobre o Real, a pior derrota de Mourinho. Esta é a quarta temporada em que eles treinam times na mesma liga.

Em mata-matas, o placar mostra 1 a 1 em Champions League (Inter sobre o Barça em 2010, Barça sobre o Real em 2011), 1 a 1 em Copas do Rei, 2 a 0 para Pep nas Supercopas da Espanha e Europa, que pouco valem, 1 a 0 para Mou na Copa da Liga Inglesa (ano passado), que também tem menos importância.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.