A viagem milagrosa que curou as costas de Philippe Coutinho
Philippe Coutinho não jogou ainda pelo Liverpool na temporada. Seu time teve duelos importantíssimos contra o Hoffenheim, da Alemanha, pela fase prévia da Champions League. Depois de tanto batalhar para acabar em quarto lugar no último Campeonato Inglês, faltava passar essa barreira para garantir a presença (e os milhões) no campeonato europeu mais importante.
Coutinho não estava lá.
Seu time já jogou três partidas pelo Campeonato Inglês e é o vice-líder, com sete pontos. Já precisou encarar um clássico, ontem, contra o Arsenal.
Coutinho não estava lá.
A versão oficial é de dores nas costas. Dores que não lhe impediram de se apresentar à seleção brasileira, já classificada para a Copa do Mundo, para dois jogos de eliminatórias sul-americanas. E tem mais! Santa viagem milagrosa. O jogador chegou curado!
Passou pelo Rio de Janeiro para "bater um papo" com um médico antigo de sua confiança, como mostra a reportagem de Pedro Ivo Almeida, do UOL Esporte. O diagnóstico: estresse.
Vamos falar o português claro, né. Coutinho não tem dores nas costas. O que ele tem é vontade de ir jogar no Barcelona, e o Liverpool não quer liberá-lo. Está forçando a barra para sair. Não é o primeiro e nem o último a fazê-lo, e infelizmente a maioria de casos parecidos (não todos, mas a maioria) tinha jogadores brasileiros no meio.
O jogador de futebol brasileiro de alto nível vai sendo criado em uma redoma de proteção, são mimados, paparicados e raramente contrariados. Seja por dirigentes, empresários ou até mesmo familiares. Curiosamente, a maioria deles sai de condições humanas terríveis. Da proteção nula para a proteção total.
Será que alguém teve coragem de dar um esporro em Coutinho por ter deixado seu clube na mão em um momento tão delicado, que selaria toda a temporada do Liverpool?
Coutinho não é um novato na Europa. Já completou sete temporadas por lá. Foi contratado muito jovem pela Inter de Milão, não deu certo por uma temporada e meia, foi emprestado pro Espanyol para ganhar experiência, melhorou, voltou à Itália, voltou a não dar certo e, quando já parecia ser mais um caso de brasileiro de quem muito se esperava e pouca coisa entregaria, foi parar no Liverpool.
Foi o Liverpool que apostou nele, não o Barcelona ou qualquer outro. Foi na Inglaterra, em quatro temporadas e meia, que ele cresceu, aprendeu e virou um grande. Em uma das camisas mais pesadas do mundo.
Ninguém parecia estar com uma arma na cabeça de Philippe Coutinho quando ele renovou o contrato por CINCO temporadas em janeiro deste ano, para ganhar R$ 2,5 milhões por mês. E mais: sabendo que na Inglaterra não há cláusula de rescisão. Ele tinha contrato até 2020 e fez um novo acordo até 2022, ganhando mais, logicamente.
O jogador tem direito de querer sair e ir jogar em outro lugar. E o clube tem direito de querer que o contrato seja cumprido por sua maior estrela.
O que ninguém tem direito é de deixar o outro na mão, como Coutinho vem fazendo neste início de temporada. Isso não é o que chamamos de profissionalismo.
Imaginem se o Liverpool não vende Coutinho e, só de bronca, lhe dá um ano sabático para pensar melhor na vida? O que seria da Copa do Mundo dele? Seria pouco profissional da parte do Liverpool e todos se revoltariam, certo?
Outra coisa: Coutinho tampouco tem direito de guardar em segredo o milagre da companhia aérea que cura dores nas costas. É uma poltrona mágica? Minha lombar está me matando ultimamente…
PS – se o Liverpool prometeu em janeiro, no momento da renovação, facilitar a saída ou qualquer coisa do tipo, que isso seja falado. Até para o jogador não ficar mal visto no mundo inteiro, que é o que está acontecendo.
Mais no blog: Quatro impressões iniciais da temporada europeia
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