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Julio Gomes

Superioridade do Real deve aumentar desespero do Barça no mercado

Julio Gomes

16/08/2017 20h24

O Real Madrid passeou de novo contra o Barcelona, venceu por 2 a 0 e levantou a Supercopa da Espanha. É um troféu menor, sem dúvida. Mas que ganha corpo quando os dois gigantes se enfrentam. E que amplia o inferno astral vivido pelo Barcelona.

Não usemos meias palavras. O Barcelona sofreu uma humilhação brutal ao ver Neymar querer sair para o Paris Saint-Germain. A humilhação fora do campo tem tudo para preceder algumas no campo.

É a primeira vez desde 2011 que o Barça não marca um gol em um clássico (24 jogos desde então). E a primeira vez desde maio de 2008 que o Barça acaba um clássico com menos posse de bola que o Real. Aquele jogo foi emblemático. Foi um banho do Real, que entrou em campo campeão espanhol – assim, os jogadores do Barça tiveram de fazer o tradicional (e, naquele caso, humilhante) "pasillo", o corredor para aplaudir os campeões.

Aquele jogo marcou definitivamente o fim do ciclo Ronaldinho-Rijkaard no Barcelona. Naquele verão de 2008, chegariam Guardiola, Daniel Alves e o resto da história já sabemos. A diferença é que aquele jogo ocorreu no finalzinho da temporada. Já estes dois jogos da Supercopa, de total domínio do Real Madrid, marcam o início da temporada 17/18.

Romário, Ronaldo, Figo, Ronaldinho, Neymar… parece ser um padrão, não? O Barcelona simplesmente não consegue convencer seus craques (brasileiros, na maioria) a ficar. Ou não consegue fazer as coisas certas nos bastidores.

Não podemos nos esquecer da forma como um multicampeão como Daniel Alves saiu do clube. Espinafrando todo mundo, mostrando que, se dependesse dele, jogaria lá para sempre – mas não para aqueles dirigentes.

No ano passado, perguntei (atenção, perguntar não é afirmar): será que não valia à pena para o Barcelona vender Messi? Arrumar algum biruta que pagasse, sei lá, 300, 350 milhões de euros pelo cara.

Se fosse para escolher ou Messi ou Neymar DAQUI PARA FRENTE… quem você escolheria? Não estou perguntando quem é melhor. E não, não acho que Neymar atingirá um dia o patamar que Messi atingiu. Mas que a fome do argentino está diminuindo, isso é nítido. Messi passa muitos momentos dos jogos andando em campo. Raras são as atuações com faca nos dentes, como aquela do Bernabéu pela Liga, do gol do fim e a camisa mostrada para o público.

Não tenho a resposta para a pergunta acima. Mas me espanta que o Barcelona nunca tenha passado nem perto de se fazer essa pergunta. O fato é que o clube não fez planejamento algum pensando na transição Messi-Neymar. Achou que ela aconteceria naturalmente. E ela simplesmente não vai acontecer.

Ao ser humilhado pela decisão de Neymar, que já ficou muito perto de ocorrer um ano atrás, o Barcelona se coloca em uma situação de dar respostas.

E dirigentes fracos com muito dinheiro em mãos e muitas respostas para dar costumam fazer besteiras.

A contratação de Paulinho por 40 milhões de euros foi muito contestada na Catalunha, por ser um jogador de 29 anos e sem potencial de revenda. E que não se encaixa tão claramente no jeito de jogar do time. Com a ida de Matuidi, um volante com mais história no futebol europeu de alto nível do que Paulinho (não estou falando que é melhor, apenas que gera menos dúvidas sobre o retorno), por 20 milhões do PSG para a Juventus, a diretoria do Barça ficou ainda mais exposta.

Como Philippe Coutinho e Dembélé estão forçando a barra para ir ao Barça, possivelmente irão. Mas certamente Liverpool e/ou Borussia Dortmund vão arrancar muito dinheiro dos catalães.

Aí a gente lembra dos 35 milhões de euros pagos por André Gomes. 30 por Paco Alcácer, 34 por Arda Turan, 20 por Mathieu. 19 por Vermaelen e por Song. 25 por Chygrynskiy. 14 por… Keirrison.

Gastar bem não tem sido exatamente a marca registrada do Barcelona nos últimos 10 anos.

Os grandes rivais europeus, Real, Bayern, Juventus, City, United, Chelsea e, claro, PSG, esfregam as mãos. O tão poderoso Barcelona está numa forte pegada de autodestruição.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.