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Julio Gomes

Neymar estreia "à la Messi", armando jogo e mais longe do gol

Julio Gomes

13/08/2017 17h52

Neymar fez uma boa estreia com a camisa do Paris Saint-Germain. Fez o terceiro gol da vitória de 3 a 0 sobre o pequenino Guingamp, após passe de Cavani – o uruguaio havia marcado o segundo, na primeira assistência de Neymar pelo PSG. A lata havia sido aberta em um gol contra patético do Guingamp no início no segundo tempo.

Um gol, um passe para gol, uma caneta, um bom cruzamento que Marquinhos cabeceou no travessão. Não dá para reclamar.

Eu sou uma voz que destoante da maioria ao analisar o futebol de Neymar. O rapaz é um craque, disso não há dúvidas. Mas, a meu ver, sua principal qualidade é a finalização.

Com isso, não quero dizer que ele não seja bom driblador ou que não saiba armar o jogo. Apenas digo que a melhor versão de Neymar é aquela em que ele joga bem perto do gol, recebendo bolas limpas e com poucos adversários pela frente. De preferência, em velocidade. Ele tem um índice de aproveitamento ao concluir para o gol do nível de Cristiano Ronaldo e outros finalizadores pelo mundo.

Em quatro temporadas no Barcelona, Neymar fez 88 gols de bola rolando. 40 deles com apenas um toque na bola, 39 com domínio e finalização e somente 9 construindo o próprio gol.

Na estreia, o gol veio com toque único na bola. É lógico que essa proporção vai mudar no PSG. Ele jogou de 10. A mudança de camisa nunca foi tão fiel à mudança tática. Jogou como Messi faz em vários momentos no Barcelona, recebendo bolas no meio de vários adversários (como ilustra a foto abaixo). É bom. Ficarão mais fáceis as comparações.

Na temporada passada, a primeira do técnico Unai Emery, o Paris jogou quase sempre com dois jogadores bem abertos – entre Draexler, Di María e Lucas. Neste domingo, Neymar e Di María jogaram centralizados, abrindo o corredor para os laterais. Só que praticamente "tirando" do jogo o italiano Verratti, que é originalmente o principal armador do time.

Daniel Alves deu poucas estocadas pela direita, com o tempo vai adquirir mais entrosamento com o argentino. Kurzawa avançou muito pelo espaço que seria de Neymar na esquerda. Dele saiu o cruzamento que mais tarde acabaria no gol de Neymar.

E o jogo todo passou pelos pés do brasileiro. Até demais. Uma coisa é ter liberdade em campo. Ter posição saindo da esquerda, mas ter liberdade de movimentos. É assim que Neymar joga na seleção brasileira.

Não foi o que aconteceu na estreia. Ele foi um meia de fato, um armador, o principal construtor de todas as jogadas. Foi mais um Isco ou um Rodriguinho ou um Iniesta do que Neymar. Foi mais Verratti do que Verratti. Deste jeito, em alguns momentos de vacas magras pré-Tite, a coisa não funcionou tão bem na seleção.

Ocupou uma parte do campo em que há mais gente, mais congestionada. E ficou longe demais do gol.

No primeiro tempo, o PSG, apesar de ter a bola o tempo todo, criou pouquíssimas chances de perigo real. No segundo tempo, ganhou um presente de Ikoko, um gol contra dos mais bizarros que todos veremos em nossas vidas.

Aí sim, o jogo mudou, ficou fácil, o PSG passou a ter mais espaços. Neste cenário, em um contra ataque, Neymar deu um passe maravilhoso para Cavani fazer o segundo gol. Sua primeira assistência com a nova camisa.

O número de passes para gol inevitavelmente aumentará. Mas é bom ressaltar que Neymar já dava muitas assistências no Barcelona. Isso não passa necessariamente por ter um posicionamento de "playmaker".

Sinceramente, não acho que esse posicionamento se manterá e é justo que o técnico tente em uma partida contra um adversário fraco como o Guingamp.

Na hora H da temporada, acredito que Emery vai preferir Neymar jogando mais à esquerda, mais perto do gol, onde ele é muito mais produtivo.

Se o plano de sair do Barcelona e ir para o PSG era ser protagonista e jogar como Messi, parece que ele será mesmo colocado em prática. Vai faltar… jogar como Messi.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.