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Julio Gomes

Cinco razões pelas quais o Bayern é favorito a vencer o Real Madrid

Julio Gomes

12/04/2017 06h15

Bayern de Munique e Real Madrid fazem o maior clássico da Europa. É isso mesmo que você leu. Não há jogo maior no mundo envolvendo times de países diferentes. Muito se deve ao fato de ambos serem os maiores campeões de seus países e dois dos maiores do continente. Mas o grande fator que faz esse jogo tão grande é o fato de terem se enfrentado tantas vezes em horas tão importantes.

Bayern e Real farão nesta quarta o 23o jogo entre eles – um recorde entre clubes em competições europeias. Até hoje, foram dez duelos de mata-mata, com cinco classificações para cada um. Só falta mesmo uma grande final, que nunca ocorreu (foram seis semifinais).

Junto com o Barcelona, os dois têm dominado o futebol europeu recentemente. São os três times apontados como favoritos desde o início da Liga dos Campeões. No entanto, este blog considera o Bayern bastante favorito para o jogo contra o Real, e o time alemão tem a chance de deixar a eliminatória encaminhada. Aqui estão as cinco razões.

1- Técnico

É o típico confronto entre mestre e pupilo, com a diferença que o aprendiz não parece nem um pouco perto de superar o professor. Zidane foi auxiliar de Ancelotti quando o italiano passou pelo Real Madrid. O próprio Zidane credita muito de seu estilo como técnico ao que aprendeu neste período.

Por mais que tenha conquistado a Champions League no ano passado, no entanto, Zidane ainda tem muito para provar. Seu time joga o arroz com feijão e é ultradependente das bolas aéreas. Com o que tem em mãos, poderia fazer muito mais. Sem dúvidas, Zidane fala a linguagem da boleirada, entende o Real Madrid, o torcedor, as necessidades. São fatores que não tiro da lista de méritos dele. Por outro lado, é nítida a dificuldade para ler partidas durante os 90 minutos e fazer alterações que melhorem o time. É quase sempre o seis por meia dúzia, tudo muito previsível.

Já Ancelotti, um mestre da arte, conhece o elenco do Real Madrid de trás para frente e sabe como explorar os pontos fracos. Tampouco se notabilizou na carreira pela criatividade, mas é bastante mais refinado que Zidane na leitura de jogo.

2- História

O passado pode não servir para garantir o futuro, mas certamente nos indica tendências. E, nos confrontos entre Bayern e Real, historicamente quem joga em casa se dá bem. O Bayern recebeu o rival espanhol 11 vezes em Munique: ganhou nove, empatou uma e perdeu só uma, a última, aqueles 4 a 0 de 2014 que levaram o Real à decisão. É bom lembrar que aquele era um jogo de volta – após o Real vencer na ida – e que Guardiola escancarou o Bayern para os contra ataques madridistas.

Das cinco vezes em que o jogo de ida de um mata-mata entre eles ocorreu em Munique, o Bayern venceu quatro.

O Real Madrid é um clube que se considera o maior do mundo. Os torcedores dizem não ter medo de nada nem ninguém, o clube já se mostrou capaz de tudo – e acreditar nisso certamente ajuda. Mas é inegável que o Bayern é o clube mais temido pelo Real, talvez o único. Não à toa, há faixas, camisetas e cachecóis em Munique com os dizeres "La bestia negra". Eles adoram o apelido dado pelos próprios madrilenhos.

3- Defesa desfalcada

O Real Madrid já não tinha Varane e perdeu Pepe para o jogo e para a temporada, com duas costelas quebradas. Nacho atuará na zaga ao lado do Sergio Ramos, uma considerável queda de qualidade. Nacho entrou no dérbi, sábado, e logo teve posicionamento falho que permitiu a Griezmann empatar o jogo para o Atlético de Madri.

Na imprensa de Madri, Nacho é muito elogiado. Natural, é o único jogador do elenco que subiu da base para o time principal sem passar por outros clubes – a prata da casa é sempre valorizada e precisa ter a confiança do torcedor. Pelas muitas lesões dos outros, foi titular em 25 dos 47 jogos. Não é um completo novato, mas não tem a bagagem de um Pepe. Além do mais, Sergio Ramos jogará a ida pendurado, o que limita muito sua atuação em Munique. É um Real sem reservas para a zaga, no limite da improvisação.

4- BBC? Ou RLR?

Eu ODEIO essa sopa de letrinhas que inventaram na Espanha. BBC, MSN, PQP. Seria ridículo apelidar o ataque do Bayern de RLR, não é mesmo? O que não é ridículo é o futebol que estão mostrando Robben, Lewandowski e Ribèry.

Robben e Ribèry juntos e saudáveis, uma raridade. O Bayern sofreu demais sem os dois em boa forma na hora H das últimas três temporadas. Agora, não só estão bem como têm entre eles o que talvez seja o melhor camisa 9 do mundo hoje: Lewandowski. Até gol de falta ele anda fazendo, um atacante completo e que já destruiu o Real Madrid quando jogava no Dortmund.

A fase do ataque é tão boa (39 gols nos últimos 11 jogos) que mal nos lembramos que o Bayern tem um certo Thomas Mueller no elenco – em má temporada, é verdade, mas um jogador que já mostrou muito valor em partidas enormes.

Atualização: Algumas horas antes do jogo, o Diário Marca noticia que Lewandovski não jogará, por problemas no ombro. Mueller em seu lugar. Sensível baixa técnica para o ataque do Bayern, mas um substituto de peso.

O contraponto é o trio do Real Madrid. Cristiano Ronaldo não consegue fazer a mesma temporada de outros anos, e Bale não entrou nos eixos após a lesão que lhe deixou três meses sem jogar. Tanto não funciona como em outros anos que o principal "atacante" do Real Madrid, nos momentos mais agudos, foi Sergio Ramos. Morata pede passagem ou até mesmo uma formação diferente, mas Zidane insiste com o BBC.

5- Jogo coletivo

O Real tem problemas defensivos (só deixou de sofrer gols em 3 dos últimos 21 jogos) e de construção. É nítido que o time sofre demais quando Kroos e Modric são bem marcados. A bola não chega no trio de ataque e, por isso, o Real tem dependido tanto da bola parada para ganhar jogos. Sim, são 52 jogos seguidos fazendo gols, um mérito inegável. Mas quantos deles tiveram a ver com o "jogo jogado"?

Na temporada, o Real Madrid fez 132 gols e levou 56 em 47 partidas. O Bayern fez 109 gols e levou 24 em 41 jogos. Tem números ofensivos parecidos, mas sofre muito menos gols.

É um jogo coletivo mais fluido, com um meio de campo formado por jogadores capazes de tudo: destruir, cobrir laterais, construir com passes curtos ou longos, chegar à frente e marcar gols. Xabi Alonso, Vidal e Thiago são completos e vivem grande momento de forma.

O alicerce de qualquer time é o meio de campo. O do Bayern está melhor conectado com as linhas de trás e de frente do que o (também ótimo) meio de campo do Real Madrid.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.