Real Madrid deixa interrogações, Atlético deixa certezas
O jogo do Real Madrid era para lá de completo. O time tinha uma grande atuação contra um grande adversário. Mas o recuo exagerado nos 15 minutos finais foi punido. O Atlético de Madri buscou o empate, e o dérbi madrilenho acabou em 1 a 1.
O Real Madrid chega a 72 pontos. E a grande sorte que teve no dia veio mais tarde, já que o Barcelona perdeu por 2 a 0 do Málaga e ficou três pontos atrás. O Real ainda tem um jogo a menos, então segue com gordura antes do superclássico do dia 23.
O grande problema para o time de Zidane são as dúvidas que ele deixa no ar. É um time capaz de empurrar, dominar, criar. Mas passa a impressão de só fazer gols de bola parada. E de não ter a mesma intensidade o tempo todo, como fazem times como o Atlético. Zidane não consegue fugir do arroz com feijão nas substituições.
Bale era o pior jogador do time durante toda a partida. Mas o francês tirou Kroos para colocar Isco. A substituição certa era tirar Bale e reforçar um meio de campo que estava sendo atropelado pela intensidade atlética.
O Real, previsível, tem agora dois confrontos "só" contra o Bayern de Munique. Haverá momentos para um lado e para o outro nos dois duelos. Mas será que o Real conseguirá derrubar o mais completo elenco da Europa só com bolas paradas?
O número de gols de bola parada que o Real Madrid fez na temporada é brutal. O amigo Vítor Birner, companheiro blogueiro aqui no UOL, criou um apelido: Zidanebol.
De fato, em muitos jogos da temporada o Real Madrid não fez absolutamente nada e encontrou a vitória depois de uma falta ou escanteio levantados na área. Foi deste jeito que o Real achou o gol no dérbi deste sábado. Para não ser injusto, Zidanebol seria se o Real Madrid fizesse apenas isso. Se levantar bolas na área fosse o recurso único. Não foi o caso contra o Atlético. Ainda assim, foi só desse jeito que saiu o gol.
O Atlético de Madri é um baita time de futebol. Se o Real sai do dérbi com interrogações, o Atlético sai com certezas. Vive seu melhor momento na temporada e tem tudo para passar o carro em cima do Leicester e chegar a mais uma semifinal europeia.
Não dá chutão. Não adianta ser tão bom defensivamente, recuperar bolas e dar uma bicuda para ver o que acontece. Era assim três, quatro anos atrás, ainda com Diego Costa. Ao longo das últimas temporadas, o Atlético foi desenvolvendo esse jogo de bola no chão, passes curtos, saída rápida e com qualidade.
Alterna marcação alta com marcação mais recuada, sempre com incrível sincronia. Sabe sair trocando passes de trás, sabe alongar para a velocidade nas costas dos laterais. O Atlético sabe, enfim, levar partidas de futebol de muitos modos diferentes. É mais imprevisível. Tem mais recursos táticos do que o Real Madrid sob Zidane.
O primeiro tempo neste sábado foi um grandíssimo jogo de futebol, apesar do 0 a 0. O Atlético fechou as linhas de passe para Modric e Kroos, deixando a bola sobrar para Casemiro e os zagueiros. Mesmo assim, o Real Madrid conseguiu mandar no duelo. E foi pelo meio, primeiro após uma tabela, depois com bola roubada por Modric, que o Real quase chegou ao gol. Benzela obrigou Oblak a fazer uma defesaça, e Cristiano Ronaldo teve gol certo salvo em cima da linha por Savic.
Ao Atlético, faltava a conexão final com Griezmann e Torres. O time marcava bem, saía bem da marcação do Real, mas não conseguia conectar com os homens de frente – até porque Saúl fazia péssima partida, errático nos passes, e Carrasco estava muito afastado do campo de ataque.
Ainda assim, Griezmann chegou a obrigar Navas a fazer ótima defesa e algumas bolas paradas levaram perigo.
O segundo tempo começa com mais uma defesaça de Oblak contra Benzema. E, aos 7min, vem a falta infantil de Saúl, colocando a mão na bola em um lance bobo na intermediária. Quem dá bolas paradas de graça para o Real Madrid paga o preço. O cruzamento de Kroos foi na medida para o gol de Pepe.
Neste momento, o Real tinha o jogo a seu dispor. Mas o Atlético é um time tão bom e experiente que não caiu na armadilha. Não foi desesperado para frente, dando o contra ataque que o Real tanto ama.
Numa enfiada pelo meio, Torres ficou cara a cara, e Navas fez ótima defesa. Saíram Saúl e Torres, os piores do Atlético. A entrada de Correa deu mais do que certo. O argentino e Thomas conseguiram trabalhar entre as linhas do Real, sobrecarregando Casemiro. Zidane perdeu Pepe, que levou uma joelhada de Kroos, e tirou o próprio alemão.
O Real Madrid recuou demais na expectativa de contra atacar. Não agrediu. Quis segurar o 1 a 0. E aí o Atlético, que sabe jogar também com a bola nos pés, tomou conta do jogo. Em uma enfiada de Correa, Griezmann, um dos atacantes mais quentes do momento, empatou. Nacho, que entrou no lugar de Pepe, não parece ter a capacidade de ser o zagueiro titular ao lado de Ramos. Mas com Varane e, pelo jeito, Pepe fora de combate, é o que Zidane tem para hoje.
O Real Madrid quis fazer o que não sabe. Não é um time que domina todas as facetas do jogo, como seu rival de hoje.
O Atlético dominou os minutos finais, contra um Real Madrid aturdido em campo. É intensidade demais para um jogo só.
Desde que Simeone chegou ao Atlético, no fim de 2011, foram 22 dérbis: 8 vitórias do Real, 7 do Atlético, 7 empate. São três vitórias atléticas e um empate nos últimos quatro jogos entre eles pela Liga espanhola no Bernabéu.
O Atlético era freguês de carteirinha do maior rival. Hoje, é uma pedra de sapato quase que intransponível.
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