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Julio Gomes

Argentina, com Bauza e sem Messi, dá mais um vexame. Tem salvação?

Julio Gomes

28/03/2017 18h59

Ganhar em La Paz não é fácil. Nas eliminatórias de pontos corridos, a Argentina só conseguiu uma vez em seis jogos. Por pior que esteja a Bolívia, ela costuma complicar muita gente por lá nas eliminatórias sul-americanas. São 3600 metros de altitude e isso não é desculpa, é um fator que beneficia – e muito – o time da casa. A Argentina levou 2 a 0 em La Paz nesta terça-feira. Só que o resultado não é o maior dos problemas.

Com a derrota, a Argentina deve acabar o dia na quinta colocação, que a levaria para a repescagem. Mas, mais do que a matemática da classificação, o problema argentino é a falta de jogo.

Os times de Edgardo "Patón" Bauza nunca primaram pela ofensividade. Sempre foi um técnico de empatar ou perder fora, vitórias magras em casa, sufoco. E isso nos clubes, com tempo de treino.

Talvez algum gênio da combalida Federação Argentina tenha achado que a seleção, com tantos talentos na frente, precisava de alguém para arrumar a casa atrás. Não só não aconteceu isso como há um nítido descompasso entre as ideias futebolísticas de Bauza e dos jogadores.

Beira o inacreditável a Argentina, que tem Simeone, Sampaoli e Pochettino, não conseguir encontrar um nome melhor que o de Bauza, à altura dos jogadores que tem.

Como uma seleção que pode convocar Messi, Higuaín, Aguero, Dybala, Pratto e Di María tem o terceiro pior ataque das eliminatórias, com 15 gols marcados em 14 jogos?

Talvez a explicação seja a escalação conservadora de Bauza em La Paz. Deixar Aguero no banco??

A Argentina não era uma coisa maravilhosa com Sabella ou com Tata Martino. Mas, quer queira quer não, chegou a três finais em três anos, perdeu uma na prorrogação (Alemanha), outras duas nos pênaltis (as Copas Américas para o Chile). Em todos esses jogos teve claras ocasiões de gol perdidas por Higuaín que poderiam ter mudado tudo.

Com Bauza, tudo piorou. Nas eliminatórias, foram três vitórias em casa (1-0 sobre Uruguai e Chile, este último de forma injusta, e 3-0 na Colômbia); uma derrota em casa contra o Paraguai; fora, um sacode levado para o Brasil; empates contra Peru e Venezuela, agora a derrota para a Bolívia. A Argentina fez dois pontos em nove possíveis contra as três piores seleções do continente fora de casa.

O time não joga nada, não cria nada, não há jogo coletivo, linhas de passe. Nada de nada de nada. E não terá Messi em três das últimas quatro partidas das eliminatórias, se a exagerada suspensão de quatro jogos não for revista.

A Argentina enfrenta em agosto/setembro: Uruguai em Montevidéu, é plausível imaginar uma derrota, e Venezuela em casa. Depois, em outubro, Peru em casa e Equador na altitude de Quito.

Se a Argentina ganhar da Venezuela e do Peru em casa, chega a 28 pontos. Até hoje, nas eliminatórias de pontos corridos com dez seleções, 28 pontos sempre foram suficientes para a classificação. Mas no limite. E desta vez as eliminatórias estão diferentes, pois o Brasil disparou, Bolívia e Venezuela fazem poucos pontos, há muito equilíbrio entre as seleções que ocuparão da segunda à sexta colocações.

Essa distribuição indica que segundo e terceiro colocados possam fazer menos pontos do que as seleções que ocuparam essas posições nos últimos anos. No entanto, quarto e quinto devem fazer mais pontos do que sempre fizeram. Talvez os 28 pontos não sejam suficientes.

A única boa notícia para a Argentina é o derretimento do Equador, a seleção que sempre se aproveitou tão bem da altitude e conseguiu vaga em três dos últimos quatro Mundiais. Depois de vencer os quatro primeiros jogos e disparar na liderança, o Equador ganhou só dois dos nove jogos subsequentes.

A Argentina deve acabar o dia em quinto, com 22 pontos, e o Equador em sexto, com 20. Se vencer Venezuela e Peru em casa, a Argentina chega a 28. Teria de torcer para o Equador fazer no máximo quatro pontos nos seus jogos seguintes: Brasil e Chile fora, com o Peru em casa no meio. Como o Brasil está impossível, o Equador deve fazer três ou quatro pontos contra Peru e Chile. Neste cenário, a Argentina chegaria ao jogo de Quito, na rodada derradeira, sem poder ser alcançada pelo Equador.

Nas três próximas rodadas, precisa tratar de fazer dois pontos a mais que o Equador – para evitar um jogo de vida ou morte na altitude.

Tratar de conseguir os pontos com ou sem Bauza?

Na minha visão, já é tempo e ainda é tempo de trocar.

Com Bauza e sem Messi tudo fica mais difícil.

 

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.