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Julio Gomes

Faltou equilíbrio, e não Jesus, para o City de Guardiola

Julio Gomes

15/03/2017 19h58

É claro que Pep Guardiola eliminado nas oitavas de final da Champions pela primeira vez é um prato cheio para quem não gosta dele. Tem muito técnico brasileiro dando risada. "Está vendo? Sem estar no Barça ou no Bayern, o buraco é mais embaixo".

Acho desnecessário defender Guardiola. O homem é um idealista, um revolucionário, alguém que faz bem para o esporte e que comandou o melhor time que já vi (o Barcelona de 2009 a 2011). Ele mesmo sabe, até porque sempre disse, que os desafios no City serão outros. A liga inglesa é mais competitiva, tem mais times do mesmo nível e o elenco do City tem, de fato, buracos a serem preenchidos.

Na atual temporada, o City está fora da Champions, praticamente sem chances na Premier, sobra a Copa da Inglaterra (semi contra o Arsenal, eventual final contra Chelsea ou Tottenham). Seria importante para Guardiola ganhar um título no primeiro ano? Sem dúvida. Mas tampouco essencial. Não será mandado embora. Está lá para comandar um projeto de anos.

Leonardo Jardim, o ótimo português que comanda o Monaco, está há três anos no clube mesclando juventude, veteranos, encontrando fórmulas. A chave para Guardiola será atacar bem o mercado no meio do ano, principalmente para ampliar opções de banco e resolver os buracos defensivos.

No gol, Bravo não deu certo. Kolarov ou Fernandinho jogando na zaga? Não parecem grandes opções. Stones e Otamendi? Hummmm. Suspeitos. O erro de Kolarov no terceiro gol, em uma bola parada, determinou a classificação do Monaco.

O grande desafio de Guardiola daqui para frente é ser um técnico que encontre soluções defensivas. Na parte criativa do jogo, ele já mostrou seu valor. Se defender com a posse de bola, como fazia no Barça e no Bayern, não parece ser viável no futebol inglês, mais dinâmico e com menos faltas marcadas pelos árbitros. Times de Guardiola se darão bem quando defenderem melhor. Quando forem mais equilibrados.

Aguero perdeu dois gols contra o Monaco que Gabriel Jesus não perderia? Não sei. Tem que ver também se Jesus faria os gols que Aguero fez na ida, certo? O City fez seis gols na eliminatória contra o Monaco. Não foi um problema de falta de gols que eliminou o time de Guardiola. E, sim, um problema de excesso de gols sofridos.

O City não perdeu para qualquer um. O Monaco é o melhor ataque da Europa. Mesmo sem seu grande artilheiro, Falcao García, foi capaz de virar a eliminatória contra um forte rival. Fez os três gols que são sua média. Porque não é um ataque de indivíduos e, sim, um time que joga inteiro voltado ao ataque.

Os laterais sobem, os volantes sobem (foram deles o segundo e terceiro gols na volta), os meias afunilam, triangulam, abrem o jogo. Há muita movimentação, muito volume.

Quem vai segurar o ataque do Monaco? Barcelona e Real Madrid, por exemplo, são candidatíssimos a tomar um caminhão de gols desse time. Porque defendem mal. Assim como o City de Guardiola.

Por camisa, tradição, nomes e pelo que fizeram nas últimas Champions, Bayern, Barça e Real são os óbvios favoritos. Mas Juventus e Atlético de Madri seguem fortes, como nos últimos anos, e podem tranquilamente chegar à final de novo. Para Juve e Atlético, é melhor enfrentar um dos três em ida e volta do que em um jogo só.

O Monaco me parece a zebra que pode ser a grande surpresa da temporada. Borussia Dortmund e Leicester só chegam à semifinal se forem sorteados para um confronto entre eles nas quartas.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.