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Julio Gomes

Iniesta e Modric, gênios do clássico e do futebol total

Julio Gomes

03/12/2016 15h17

Quem esperava ver Messi e Cristiano Ronaldo no superclássico deste sábado, em Barcelona, viu mesmo Andrés Iniesta e Luka Modric. Dois jogadores exemplares, símbolos do futebol total que se joga hoje em dia nos quatro cantos do mundo.

Não, não quero aqui tirar os méritos de Messi, Suárez e Neymar, três gênios da bola. Apenas colocar um asterisco. Como funciona melhor o badalado trio de ataque do Barcelona quando Iniesta está em campo!

Iniesta não é um jogador subestimado, eu diria. Sim, ele é valorizado. Mas talvez mais por aquele gol de Johanesburgo, da final da Copa de 2010, do que pela bola que joga há mais de dez anos, semana sim, semana também.

Uma lesão no joelho deixou Iniesta fora dos gramados desde 22 de outubro. No período, coincidência ou não, o Barcelona viveu seu pior momento em dois anos e meio de Luís Enrique. Tropeços em casa na Liga, derrota na Champions, seis pontos abaixo do líder na tabela. Em 12 anos, desde o início da "era Ronaldinho" e a subsequente fase de títulos, a maior da história do Barça, nunca o clube catalão chegou para um clássico contra o Real Madrid tão contra a parede.

Se perdesse hoje, adeus Liga. Em dezembro?? Sim, em dezembro. Nove pontos abaixo… esqueçam. Até mesmo o empate é horroroso para o Barça, principalmente com um gol sofrido aos 44min do segundo tempo. Gol de Sergio Ramos que fez justiça ao que foi o jogo todo, o 1 a 1 ficou de bom tamanho no Camp Nou.

E o fato é que o primeiro tempo e o início do segundo refletiram exatamente o momento dos clubes.

O Real Madrid foi bastante melhor que o Barcelona, tinha as ideias claras em campo, sabia melhor o que fazer para seu plano de jogo triunfar. O Real marcou atrás, com linhas bem juntas e sem deixar o trio de ataque do Barça receber bolas com espaço ou sem ajudas de marcação.

Aos 2min de jogo, a arbitragem prejudicou o Real ao não marcar pênalti tão claro como bobo de Mascherano em Lucas Vázquez. O erro não abalou o líder. Modric só não fez chover no meio de campo. Futebol total, essa talvez seja a melhor definição. Box to box. Cortando as linhas de passes de Messi, infernizando o argentino sem dar um carrinho sequer, se associando com todos os setores, participando de tudo. Modric é o Iniesta do Real, o motorzinho. Não tão absurdamente genial com a bola nos pés, mas incrivelmente eficiente de área a área, com ou sem a posse.

O domínio não foi traduzido em chances claríssimas de gol, mas o Real teve finalizações perigosas com Cristiano Ronaldo e Varane, de cabeça. O Barça nada fazia. Aos 40min, um cruzamento de Alba foi cortado com o braço por Carvajal. Outro pênalti não marcado. Claro que a história do jogo teria sido totalmente outra se o Real abrisse o placar aos 2min de jogo, mas ficou uma sensação de "elas por elas", com um pênalti não marcado para cada lado.

No segundo tempo, a história era a mesma. Até que saiu o gol. Como sempre, o gol muda tudo. Não foi uma grande partida de Neymar, mas ele sofre a falta e cruza para Suárez marcar de cabeça. Na construção de jogo, nada funcionava para o Barça. Na bola parada, tudo se resolveu.

Logo depois, entrou Iniesta. E aí virou um desfile em campo de um jogador que tem tudo. Classe, inteligência, velocidade, visão, noção de espaço.

Tivemos então um gol perdido por Neymar e outro por Messi (após passe genial de Iniesta, tipo tacada de bilhar, quebrando todas as linhas de marcação possíveis). Messi, maior artilheiro da história dos clássicos, está há seis jogos sem marcar contra o Real. Devia ter feito o 2 a 0, o empate vai para a conta dele.

Ficou aquela sensação de que o Barça havia perdido a chance de matar o jogo. E foi exatamente isso. Zidane colocou Casemiro em campo, ausente da Liga por dois meses. Entrou um volante por um meia. Em um time que estava perdendo. A substituição foi perfeita. Casemiro conseguiu dar mais equilíbrio ao meio de campo, e Modric se aproximou mais do ataque.

Nos dez minutos finais, o Real foi para cima do Barcelona e chegou ao empate também na bola parada. Cruzamento perfeito de Modric, quem mais seria? Com Sergio Ramos em campo, amigos, é melhor nunca fazer uma falta perto da área nos minutos finais. Ele está sempre lá para ser herói. O Atlético de Madri sabe bem disso.

Para o Barcelona, fica o gosto da derrota. Em vez de colocar fogo na Liga, segue seis pontos atrás com quatro empates em seus últimos cinco jogos. Por outro lado, a melhor notícia é a volta deste gênio chamado Iniesta. Um sopro de esperança.

Paremos de falar do trio MSN. É justo começar a citar sempre o quarteto MSNI.

Para o Real Madrid, é um empate com gosto de vitória e título. Placar justo, dada a atuação do primeiro tempo e o pênalti não marcado no início. Recuperando machucados e com esta vantagem, o Real de Zidane, invicto há 33 partidas, está cada vez mais forte. A maior invencibilidade da história do Real? 34 jogos. Tem algo grande acontecendo no Bernabéu.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.