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Julio Gomes

Brasil voa e expõe uma Argentina deprimida

Julio Gomes

10/11/2016 23h59

A Argentina só ficou fora de quatro Copas do Mundo até hoje. Não jogou os Mundiais de 38, 50 e 54 por motivos extra-campo. Ficar sem jogar por não conseguir vaga mesmo só aconteceu em 1970, eliminada pelo Peru.

Depois disso, a Argentina deu dois papelões e ficou contra a parede para se classificar para os Mundiais de 94 e 2010. Nas eliminatórias de 94, levou aqueles 5 a 0 para a Colômbia em casa, o que a obrigou a jogar a repescagem contra a Austrália, ganhando com um magro 1 a 0 em Buenos Aires.

A partir de 98, as eliminatórias sul-americanas passaram a ser disputadas em pontos corridos, todo mundo contra todo mundo, e a Argentina se classificou sem problemas em quase todas as vezes. Menos para a Copa de 2010. Naquela campanha, ficou cinco jogos sem ganhar, trocou de técnico, assumiu Maradona (medida desesperada), levou 6 da Bolívia (lembram?), levou sacolada do Brasil de Dunga em casa em uma série de três derrotas seguidas e acabou chegando à última rodada contra as cordas.

Em outubro de 2009, quando a Argentina chegou para jogar contra o Uruguai, em Montevidéu, uma derrota poderia deixá-la fora até da repescagem. Acabou ganhando por 1 a 0, com um gol no fim de um herói improvável, Bolatti. Foi a senha para Maradona mandar todos os jornalistas para a p* que pariu.

O tempo passou, Messi se consolidou como um dos maiores jogadores da história e a Argentina chegou a três finais consecutivas. Copa do Mundo-2014 e Copas Américas de 2015 e 2016. Perdeu uma na prorrogação, duas nos pênaltis. Bateu na trave para quebrar o jejum de títulos da absoluta, que vem desde 93.

E agora a coisa desandou. A seleção argentina parece uma seleção deprimida e cabisbaixa em campo.

Messi ameaçou se aposentar da seleção após a nova final contra o Chile, mas se arrependeu. Tata Martino saiu em circunstâncias estranhas. Tentaram Simeone, não deu certo. Sampaoli já havia ido para o Sevilla. Com tanto treinador argentino bom por aí, o cargo caiu no colo de Patón Bauza, que está muito longe de ser gênio. Seus times historicamente caminharam aos trancos e barrancos, com números pífios atuando fora de casa. Será que chega ao ano que vem?

Bauza ganhou do Uruguai na estreia. Depois disso, empates com Venezuela e Peru, derrota em casa para o Paraguai e os 3 a 0 desta quinta, que poderiam ter sido mais, para o Brasil no Mineirão.

Antes da Copa América, era o Brasil quem estava contra a parede. A decisão (atrasada, mas correta) de trazer Tite para o comando colocou as coisas nos eixos. Jogando bem, um futebol moderno e que ressalta as (muitas) qualidades de seus melhores jogadores, a seleção ganhou cinco seguidas. É lider das eliminatórias com 24 pontos e já está virtualmente classificada para a Copa-2018.

O jogo do Mineirão foi um passeio. Por mais que a Argentina tivesse mais posse no primeiro tempo, estava claro que o Brasil chegaria ao gol pela movimentação do time inteiro e pela leveza de espírito em campo. O golaço de Coutinho faz o rival desabar. A defesa é segura, o meio de campo é dinâmico (Paulinho fez mais um bom jogo) e o atacante é rápido, insinuante, com três velocistas e grandes finalizadores. Podia ter sido uma goleada histórica se a seleção apertasse mais no segundo tempo.

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Enquanto o Brasil se encontrou, a Argentina tomou as decisões erradas. Pela segunda vez na história, fica quatro jogos seguidos sem ganhar nas eliminatórias. Está fora da zona de classificação até para a repescagem e só não vive situação francamente dramática porque a rodada foi perfeita (evidentemente, exceto a derrota acachapante da própria Argentina). O Equador perdeu, o Paraguai perdeu em casa do Peru e Colômbia e Chile só empataram.

Brasil, com 24, e Uruguai, com 23, já estão garantidos. Aí são seis seleções separados por apenas quatro pontos. Duas vão para a Copa, uma para a repescagem e três vão sobrar. A Colômbia tem 18, Equador e Chile com 17, Argentina com 16, Paraguai com 15 e Peru com 14. No papel, Argentina, Chile e Colômbia são os favoritos para as três vagas. Mas como ignorar a altitude do Equador? A tradição do Paraguai? E até o Peru, de Cueva e Guerrero?

A última rodada das eliminatórias neste ano, terça-feira, tem Argentina x Colômbia, Chile x Uruguai, Equador x Venezuela, Bolívia x Paraguai, Peru x Brasil. O jogo contra os colombianos (treinados por Pekerman, um argentino) é decisivo para a vida de Bauza e da albiceleste nas eliminatórias.

No ano que vem, a Argentina pega Chile (casa, fantasmas), Bolívia (fora, fantasmas) e Uruguai (fora, casca de banana) antes de, finalmente, ter dois jogos supostamente fáceis: Venezuela e Peru em casa. Encerra na altitude equatoriana. Não é uma tabela tranquila, não.

Com uma defesa ridícula e um sistema ofensivo que parece cansado de bater na trave, desmotivado, abalado, a Argentina corre risco real de ficar fora da Copa.

E o Brasil está voando.

Como o futebol é dinâmico…

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.