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Julio Gomes

Portugal joga um futebol horroroso, mas aprendeu a ganhar

Julio Gomes

25/06/2016 18h41

Eu não vi todos os jogos da Eurocopa até agora. Vi quase todos. Dos que eu vi, nenhum foi tão ruim quanto Croácia x Portugal, um dos duelos mais esperados das oitavas de final.

Acredite se quiser. Mas o jogo teve ZERO finalizações corretas a gol. ZE-RO. Até os 10 minutos do segundo tempo da prorrogação.

Sim, houve um chute aqui, outro ali. Mas nenhum a gol. Se os dois goleiros tivessem passado 115 minutos amarrados à trave, de olhos vendados, tomando champanhe, o placar teria sido o mesmo.

De repente, tudo mudou. A Croácia acerta uma bola na trave (com Perisic) e, no contra ataque, após um cruzamento sensacional de Nani, Cristiano Ronaldo acertou a primeira finalização do jogo. Uma finalização horrorosa, em cima do goleiro Subasic, um desses gols que ele não costuma perder. Mas, no rebote, Quaresma cabeceou para dentro.

Quaresma. Aquele.

quaresma

1 a 0 para Portugal, que enfrenta a Polônia na quinta-feira, em Marselha. É um time que joga um futebol horroroso, o lusitano. Mas um país que definitivamente aprendeu a ganhar. Se não ganhar campeonatos, pelo menos ganhar jogos grandes. Bom lembrar que os portugueses estiveram pelo menos na semifinal em três das últimas quatro Euros. Pode chegar à quarta em cinco edições. Ninguém mais conseguiu isso (Alemanha, Itália, Espanha, etc).

Contra Polônia e, depois, Gales ou Bélgica ou Hungria, não dá para desprezar a chance de Portugal, desse jeito aí, chegar à final e tentar a redenção 12 anos depois da tragédia da Luz.

Quem me lê aqui sabe que eu não gosto ou desgosto de jogos baseado no placar. Há muitos 0 a 0 ótimos, bem jogados, bem disputados em que simplesmente não sai o gol. E um monte de 3 a 3 horroroso, com erros defensivos grotescos e a única coisa que salva o jogo é a emoção, pela alternância de placar.

O Portugal x Croácia foi tenebroso em todos os aspectos. Não é que os times se anularam, as defesas foram brilhantes, sistemas táticos perfeitos, etc. Foi um jogo de futebol ruim, em que as seleções foram reféns da vontade/necessidade de passar de fase.

(Ainda mais com a perspectiva de enfrentar a Polônia nas quartas de final, ou seja, boa chance de estar entre os quatro).

A Croácia é um bom time de futebol. Não é qualquer seleção que tem caras como Modric e Rakitic no meio de campo. Criativos e combativos, dois protótipos do jogador moderno.

Mas os croatas transformaram essa qualidade em… nada. Incrível como seleções assim perdem chances históricas por falta de ambição. Tiveram mais posse de bola, mas não criaram, não ameaçaram. No máximo, alguns chuveirinhos (e, claro, o calor nos minutos finais). Isso contra um Portugal totalmente recuado, em campo apenas para contra atacar – e sem fazê-lo bem.

Fernando Santos é um técnico que não tem nada a ver com o desenvolvimento do futebol português nos últimos 10, 20 anos. Tem tanta gente em Portugal que vê e trabalha o futebol de forma mais moderna e bacana, dá até preguiça listar. Portugal é hoje uma espécie de centro de formação e estudos de futebol. Fernando Santos é das antigas.

Um treinador que sempre se notabilizou por sistemas defensivos sólidos. É o que tenta fazer com Portugal. A ideia, contra a Croácia, era contra atacar com Cristiano Ronaldo. Muito pouco para quem tem time um dos melhores jogadores de futebol do mundo.

Cristiano Ronaldo é tão bom, tão bom, que pode ser utilizado de várias maneiras dentro do campo. Neste sábado, ele foi utilizado da pior maneira possível. Aquela em que ele não participa. Uma das maiores subutilizações da história do futebol.

Nas quartas de final, Portugal enfrenta a Polônia. Promessa de outro jogo ruim, já que a Polônia também é uma seleção defensiva. Possivelmente, os poloneses terão mais a bola, e Portugal jogará do mesmo jeito. O técnico já disse que "assina embaixo ser campeão europeu sem ganhar um jogo sequer". Uma frase detestável, tanto quanto o futebol luso nesta Euro. Pelo menos já ganhou uma.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.