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Julio Gomes

A hora de ver se Guardiola encontrou soluções

Julio Gomes

15/04/2016 08h49

Dois anos atrás, o Bayern de Munique defendia o título europeu na Champions League quando foi emparelhado para jogar com o Real Madrid de Carlo Ancelotti na semifinal. Era a primeira temporada de Pep Guardiola no clube.

O Bayern parecia ter evoluído em relação ao time campeão de tudo. Era uma verdadeira máquina.

Na partida de ida, em Madri, o Real ganhou por 1 a 0. Na volta, em Munique, em uma cidade em que historicamente o Real Madrid se dava mal, a grande surpresa. Um inapelável (e inédito na história entre os clubes) 4 a 0.

Um ano antes (2013), o Bayern havia goleado o Barcelona no que parecia (e era) ser o fim de uma era no clube catalão. O futebol avançara. A posse de bola "inútil", sem verticalidade, seria massacrada por times que fizessem uma transição brutalmente rápida e contra atacassem com eficiência. Em 2014, o Real Madrid fez exatamente a mesma coisa, e o Bayern, agora com Guardiola, passava a ser a vítima.

No ano passado, a história se repetiu, mas com alguns atores diferentes. De novo na semifinal, o Bayern de Munique enfrentou um espanhol. Tomou conta da bola, viveu no campo adversário. E foi impiedosamente massacrado nos contra ataques. Só que daquela vez o algoz era o Barcelona, de Messi, Suárez e Neymar, que meteu logo 3 a 0 no jogo de ida e resolveu a classificação para a final.

Costumo sempre falar que nos anos de Guardiola no comando do Bayern o time alemão seria o campeão europeu – disparado – caso a disputa ocorresse em pontos corridos. Mas a Champions tem outro formato. E as derrotas contundentes para Real e Barcelona fizeram Guardiola ser muito questionado no Bayern. A relação se deteriorou, e a saída dele do clube alemão já foi anunciada, se manda ao final da temporada.

Pois bem.

Quis o destino que, em sua terceira e última semifinal europeia com o Bayern, Guardiola enfrentasse um terceiro clube espanhol. Desta vez, o Atlético de Madri.

O Atlético já mostrou do que é capaz contra o Barcelona nas quartas de final. Sabe defender como ninguém, de forma coesa e com sincronia de movimentos, e sai com muita qualidade para a transição no contra ataque. Terá contra o Bayern exatamente o mesmo plano de jogo que os times de Ancelotti e Luis Enrique tiveram nos anos anteriores.

Por um lado, é verdade, o Atlético não tem os mesmos recursos ofensivos que os outros dois rivais espanhóis tinham. No entanto, é muito mais firme defensivamente.

No site da Uefa, o sorteio foi tratado como negativo para o Bayern. "O adversário que Guardiola não queria".

A grande pergunta antes desta semifinal é: será que Guardiola conseguiu encontrar soluções para que o destino do Bayern não seja o mesmo dos dois anos anteriores?

O técnico mais badalado do mundo conseguiu identificar como ganhar esses jogos, em vez de levar sacoladas nos contra ataques?

Se tivermos como parâmetro os duelos contra a Juventus, pelas oitavas de final, a resposta é "não". E olha que a Juventus é um time muito parecido com o Atlético de Madri em termos de obediência tática, concentração total na defesa, transição rápida, eficiência.

Contra a Juventus, foi perceptível como a "fórmula Guardiola" depende de um Messi, um rompedor. Alguém que quebre as linhas com genialidade. No Bayern, esse cara é Robben. Ribery não é mais o mesmo, Douglas Costa ainda não é o que pode vir a ser nesse sentido.

O Barcelona de Luis Enrique não conseguiu furar o Atlético de Madri, entre outras coisas, porque não "teve" Messi. O Messi de sempre, pelo menos.

simeone_guardiola

 

O único duelo até hoje entre Simeone e Guardiola foi disputado em 26 de fevereiro de 2012, em Madri, e o Barça ganhou por 2 a 1 do Atlético, com gol de Messi no finalzinho. Simeone havia assumido apenas dois meses antes, e Pep deixaria o Barça ao final daquela temporada.

O que Simeone fez com o Atlético depois daquilo e o que fará nas semifinais contra o Bayern nós todos já sabemos. As interrogações moram do outro lado.

Amo o modo criativo e "fora da caixa" que Guardiola vê o futebol. Para mim, o cara é um revolucionário. Mas ele precisa provar, fora do Barcelona e sem o melhor do mundo com a camisa 10, que tem mais soluções para o dinamismo do futebol, que te apresenta problemas novos a cada semana. Uma terceira eliminação consecutiva para um clube espanhol, principalmente se ocorrer da mesma forma que as outras duas, seria uma decepção tremenda.

A ver, Pep.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.