Topo

Julio Gomes

Bola de Ouro para Neymar? Só em 2018

Julio Gomes

11/01/2016 17h59

Neymar conseguiu um feito ao aparecer no pódio da Bola de Ouro. A carreira, quer queira quer não, está se desenrolando conforme um bom planejamento.

Surgiu cedo no Santos, não foi logo para a Europa, conseguiu feitos importantes no clube, aprendeu a lidar com críticas, pernadas, sucesso, fama, protagonismo. Ganhou casca (muitos jovens saem daqui sem ela e sucumbem).

Saiu para um clube pronto, time feito. Nada de aventuras nem rótulo de salvador da pátria. Foi jogar no melhor do mundo, com os melhores do mundo ao lado. Logo, ficou mais fácil se adaptar ao país, cultura, estilo de jogo.

Em dois anos de Europa, 23 de idade, já foi campeão nacional, continental, mundial e está entre os três melhores.

No meio de tudo isso, na seleção, há pouco para se reclamar. Verdade que tropeçou na final olímpica. E que deu bola fora na Copa América. Mas brilhou na Copa das Confederações, se livrou do vexame na Copa do Mundo. Está alcançando grandes nomes da história nacional na lista de artilheiros. Logo logo, só terá Pelé à frente.

Não sou o maior fã de prêmios e avaliações individuais. Mas julgar jogadores de futebol individualmente faz parte da cultura do jogo em todos os lugares.

Não reflete a importância deles, mas é muito difícil mensurar o fator coletivo, dentro e fora de campo, de jogadores de futebol. Resta a análise individual do que cada um faz.

No entanto, isso está claro, o resultado coletivo acaba sempre tendo uma importância fundamental na hora do voto.

Primeiro, olha-se para quem ganhou o quê. A partir daí, os indivíduos – Fábio Cannavaro nunca foi o melhor jogador de futebol do mundo, mas ganhou o prêmio em 2006 pelo feito da Itália na Copa.

Se a Juventus tivesse vencido o Barcelona naquela final da Europa, em junho do ano passado, possivelmente Neymar ainda não estaria entre os três primeiros. Apareceria ali Tévez, Pogba, algum juventino no lugar dele.

neymar_messi_boladeouro

A benesse de estar em todo um Barcelona, no entanto, será também, ironicamente, o principal obstáculo para Neymar subir os degraus que faltam para se consagrar individualmente.

Porque, enquanto ele tiver Messi à frente, muito dificilmente conseguirá ser eleito o melhor.

Em um cenário em que o Barcelona fracasse na temporada, possivelmente o eleito será um jogador do time de maior êxito. Já em um cenário de Barcelona campeão, Messi estará sempre à frente. Justa ou injustamente, é assim que vai funcionar no imaginário coletivo de quem vota. O triunfo coletivo do Barça é o triunfo individual de Messi.

Não seria assim se a Bola de Ouro continuasse sendo definida como era até 2009. Mas, desde que a Fifa se apossou dela, com esses votos dados por capitães e técnicos do mundo todo, a coisa mudou. Os atletas menos famosos, de menos nome, perderam qualquer chance de ganhar o prêmio.

Ou Neymar sai do Barcelona e brilha em outro lugar. Ou então ele leva o Barça ao sucesso sem que Messi esteja ao lado (afastado por lesão ou por ele mesmo ter saído do clube), como o claro protagonista.

Convenhamos, ambos os cenários descritos acima parecem improváveis hoje, ainda que o futebol seja muito dinâmico. Já faz tempo que ele participa da gala da Fifa, uma hora vai chegar a vez. Mas, em 2016 ou 2017, é difícil que aconteça…

2018, pois, seria a grande chance para Neymar. Pois é ano de Copa do Mundo, e ele joga em uma das principais seleções, que chegará à Rússia com o rótulo de uma das favoritas.

Basta ganhar o hexa!

PS – A má notícia é que Messi, Suárez e Iniesta não estarão no mesmo time em 2018.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.