Superclássico de muita camisa e pouco futebol
Difícil falar de futebol em uma sexta-feira 13 como esta. Os assassinatos em Paris mostram, pela enésima vez, a que ponto pode chegar o ser humano. Difícil ter otimismo com o futuro da humanidade. Somos uma espécie que realmente deu errado.
Evitar Paris passa por entender por que tais atrocidades ocorrem. Coisa que o Ocidente nunca fez questão. Ações individuais são sempre resultado de um contexto maior e com muito mais gente envolvida. Sem compreensão do contexto, não há como conter indivíduos. Combater apenas os indivíduos é enxugar gelo.
Não quero comparar uma tragédia de tal proporção com um mero e insignificante jogo de futebol. Mas um pequeno paralelo existe. Fico triste, decepcionado e desesperançoso por ver que não estamos conseguindo, aqui no Brasil, mudar a visão individualista do jogo. A análise em função de desempenhos isolados, como se os jogadores não estivessem inseridos em um contexto maior. Como se não existisse um time.
A natureza nos ensina diariamente. Cadeias alimentares. sistemas planetários, as marés. O mundo existe porque seres e coisas se relacionam de forma dependente. Mas no futebol achamos que cada um é cada um. Aliás, tem uma porção de gente que acha que a própria vida seja assim.
Quantas vezes escutamos nas últimas semanas questionamento como "quais jogadores do Chile têm lugar na seleção brasileira?", "quantos jogadores da Argentina jogariam pelo Brasil?"….
O que importa?? Será que é esta mesmo a medida que mostra quem é melhor, que aponta quem vai ganhar?
O Brasil fez um primeiro tempo coletivamente lamentável em Buenos Aires. Nada funcionou. No segundo tempo, as mudanças de jogadores, de atitude e posicionamento transformaram a cara do time.
Lucas Lima, que já estava sendo chamado de "despreparado" para baixo no primeiro tempo, virou de "craque" para cima no segundo. Logicamente, não é nem uma coisa nem outra.
Individualidades só costumam aparecer dentro de um contexto coletivo. O lance do gol do Brasil teve, segundo o "narrador oficial", "quatro ótimas jogadas individuais". Quatro jogadas individuais, na visão deste escriba, formam uma ótima jogada co-le-ti-va. Neymar atrai a marcação pela esquerda, vira com perfeição para Daniel Alves, que ocupou o espaço no outro corredor. Este cruza para Douglas Costa, que se beneficiou da marcação arrastada pela diagonal de Neymar.
O Brasil nadou de braçadas no futebol mundial no passado e foi perdendo o bonde justamente na era de transformação para um jogo mais coletivo, em que peças se encaixam e atuam de forma dependente. As trocas de comando técnico, com tudo começando do zero em pequenos períodos de tempo, e a ausência de uma escola e forma de pensar o jogo são os grandes vilões. Não há hábitos, automatismos e nem tempo para criá-los.
Seguiremos falando mal deste, bem daquele, e fechando os olhos para o que realmente importa no futebol de hoje.
A Argentina, apesar dos ótimos treinadores que tem, sofre de males parecidos. Não é à toa que Messi não consegue ser na seleção nem sombra do que é no Barcelona. Talentos espalhados pelo mundo, falta de um jeito de jogar, escola se diluindo.
Precisamos nos acostumar com a ideia de que seleções são, hoje em dia, muito, mas muito inferiores aos clubes. Sempre se destacarão os que tiverem de forma clara uma maneira de jogar e anos e anos de convivência entre os jogadores. Nos casos de Brasil e Argentina, a quantidade atrapalha na geração de qualidade.
Nunca as duas potências começaram tão mal uma eliminatória no formato de pontos corridos. A Argentina tem apenas dois pontos, não ganhou nenhuma. O Brasil tem quatro pontos. Pelo menos serve de consolo ter jogado contra duas pedreiras fora de casa.
Será que algum deles irá sobrar nas eliminatórias? Pelo que vimos em 2015 até agora, não é absurdo pensar em uma zebra deste tamanho.
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