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Julio Gomes

O Vasco já é time rebaixado. Planejar é mais útil que sonhar

Julio Gomes

02/09/2015 22h16

A matemática é cruel. É fria. Mas é útil. Estatísticas nos indicam caminhos, tendências, possibilidades. O torcedor vascaíno vai ficar bravo, mas este post trata de mostrar que o gigante da colina já caiu. Será rebaixado para a Série B nacional pela terceira vez em sete anos. Triste, mas virou um time elevador.

Sim, escutaremos nas próximas semanas aquele famoso "só um milagre" nas TVs, rádios, portais, jornais. Quando você ouvir, leitor, acredite. Porque só um milagre mesmo. Não estamos falando de coisas improváveis. Estão mais perto de impossíveis.

Desde 2006, o Campeonato Brasileiro de pontos corridos tem 20 times – a atual é a décima edição seguida. Nas nove anteriores, todos os clubes que chegaram à marca mínima de 73 pontos ganhos foram campeões. O Corinthians abriu a rodada com 46. O Atlético Mineiro, com 42. Portanto, daqui até o fim, na teoria, o Corinthians precisaria de mais 27 pontos para ser campeão. O Atlético, 31.

Pois bem. O Vasco, para se salvar com garantias, precisa de 32 pontos. Precisa, daqui até o fim do campeonato, fazer mais pontos do que os líderes que disputam o título necessitam.

O Vasco tem atualmente 13 pontos, com 3 vitórias em 22 partidas. Nos 16 jogos restantes, ainda tem o azar de enfrentar fora de casa todos os seus rivais na luta contra o rebaixamento: Ponte Preta, Cruzeiro, Avaí, Joinville e Coritiba. Repito: faz TODOS os confrontos diretos no estádio dos adversários.

Também fora de casa, pega Palmeiras e São Paulo, que brigarão até o fim pela Libertadores. E fará os clássicos contra Flamengo e Fluminense.

Em casa, o Vasco enfrenta Atlético-MG, Atlético-PR, Chapecoense, Sport, Grêmio, Corinthians e Santos. Ou seja, receberá, com obrigação de vencer, somente times que ocupam a metade de cima da tabela, com exceção da Chapecoense.

Na história do Brasileirão com 20 times, nunca alguém foi rebaixado tendo feito 47 pontos. Também nunca com 46 pontos – ainda que o Fluminense-2013 teria sido, não fossem os pontos tirados da Portuguesa pelo STJD. Nove times terminaram o campeonato com 45 pontos ao longo dos anos – destes, oito se salvaram e só um caiu.

Com 44 pontos, três ficaram, três caíram. Com 43 pontos, três se salvaram. Com 42 pontos ou menos, só dois se salvaram ao longo desses anos todos (Atlético-GO em 2010, Palmeiras em 2014). Foram exceções que confirmam a regra.

Os técnicos falam muito na marca de 45 pontos para a salvação. Mas vamos dar uma lambuja e pensar que times que cheguem a 43 pontos  PROVAVELMENTE se salvem. Neste caso, o Vasco precisaria de 30 pontos a partir de agora (e alguma sorte).

Ou seja, um time que ganhou 3 de 22 até agora teria de ganhar 10 dos últimos 16 jogos. Ou, sei lá, ganhar 8 e empatar uns 6.

Olhe para a lista acima dos jogos do Vasco. De onde virão essas 8, 9, 10 vitórias? Difícil, né? É que não virão.

"Mas Julio, como você pode afirmar isso?".

Olhando para essa matriz de informações. Histórico do campeonato, os pontos necessários, a distribuição de adversários e, claro, o time horroroso e tremendamente sem confiança que o Vasco tem no momento.

O pior time não-rebaixado desses anos todos foi o Palmeiras do ano passado, que perdeu 20 jogos e fez 34 gols em 38 rodadas. Pouquíssimos times perderam 18, 19 jogos (um turno inteiro) e acabaram se salvando. O Vasco já perdeu 15. E o pior, o dado que "anuncia" o rebaixamento. Foram 8 gols marcados até agora. OI-TO. Precisa de uma média de dois gols por jogo daqui para frente para sonhar.

Foi-se o tempo em que péssimas administrações eram camufladas no futebol brasileiro – por formatos, viradas de mesa, sorte, arbitragens, o que seja. O Vasco já estava mal. Mas conseguiu ficar ainda pior voltando no tempo e colocando a presidência nas mãos de Eurico Miranda. O castigo veio mais rápido do que muita gente esperava.

Os jogadores têm a obrigação de lutar. Os torcedores podem se apegar à Copa do Brasil, porque o Brasileiro deste ano já era. Não adianta sonhar. E a diretoria, essa sim, já precisa pensar na Série B. Precisa desenhar um plano para o Vasco nos próximos dez anos, em vez de ficar alimentando feitos impossíveis.

Logo depois de retornar pela primeira vez, em 2009, o Vasco viveu bons anos, como há tempos não vivia. Vai voltar de novo e disputar a primeira divisão em 2017, não tenho dúvidas. Mas, a partir daí, seria aconselhável pensar no clube dentro de um novo cenário. Que não é mais o que foi um dia.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.