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Julio Gomes

Os pontos fortes e fracos dos quatro claros favoritos à Champions

Julio Gomes

16/09/2014 06h00

Bayern de Munique, Chelsea, Real Madrid ou Barcelona? Os quatro são os maiores candidatos a ficar com o título da Champions League. O melhor e mais importante torneio interclubes do planeta começa nesta terça-feira.

Bayern, Real e Barcelona somam, juntos, 19 Copas da Europa. O Chelsea não tem todo esse curriculum. Mas já ganhou o dele e está há 12 anos sempre lá, sempre forte. Virou tradição.

Após a fase de grupos, metade dos 32 times vai para o mata-mata. É quando a coisa começa de verdade e vemos o que de melhor existe no futebol mundial, superior até ao que vimos na Copa. Os grandes clubes do mundo são melhores que seleções nacionais. Como tudo se decide em jogos de ida e volta, até chegarmos à final, é lógico que o torneio pode muito bem ter um campeão que não seja um dos quatro citados.

Mas, antes de falarmos de quem pode surpreender, vamos aos favoritos.

BAYERN DE MUNIQUE
É o segundo ano de Guardiola. Com o jogo consolidado e uma diferença brutal de elenco para os outros times da Alemanha, o Bayern deverá novamente passear na Bundesliga. A Champions será o torneio pelo qual o treinador será julgado. A perda de Kroos não pode ser subestimada, mas há muitos outros jogadores que podem desempenhar bem no meio de campo. A chegada de Lewandowski, um camisa 9 de garantias, eleva o ataque do Bayern a um outro patamar. Negativo? Talvez a defesa muito adiantada possa permitir que times de contra ataque veloz causem muito dano, como foi com o Real na última semifinal. Segue sendo o melhor da Europa, o time mais completo de todos. É, afinal, uma espécie de Alemanha campeã do mundo com as adições de craques de diversos países. Na minha opinião, o favorito número um ao título.

CHELSEA
O segundo ano de José Mourinho é tradicionalmente seu melhor ano em qualquer clube. Desta vez, haverá pressão acima do normal. Afinal, ele construiu o espírito do Chelsea campeão, lá desde 2004, mas nunca chegou à final da Champions com os Blues. Foi Di Matteo quem levantou a taça em 2012. No Real Madrid, é verdade, trouxe o time de volta às fases decisivas. Mas foi só sair do clube para, finalmente, a Décima ser conquistada. A arte de montar elencos, de trabalhar no mercado, é dominada por Mourinho, que reforçou o Chelsea exatamente nas posições necessárias. Courtois já desbancou Cech no gol, Diego Costa foi um verdadeiro plug and play no ataque, Cesc Fábregas se reencontrou com o tipo de futebol que mais gosta de jogar. Tudo isso e ainda Hazard, Oscar, Willian… O miolo de zaga não é extraordinário, só para encontrar um defeito. Será que os sorteios de mata-mata nos permitirão ver Guardiola e Mourinho em uma final de Champions? É minha aposta.

REAL MADRID
O atual campeão, hoje, é menos consistente do que os times acima. Mas o que importa, já sabemos, é o que vai acontecer lá em março, abril e maio. O fato é que não será fácil para o Real Madrid encontrar a maneira ideal de jogar sem Xabi Alonso e Di María. Kroos e James Rodriguez são ótimos, mas não são substitutos naturais para os que saíram. Além disso, o Real tem um sério problema no gol, com Casillas pressionado, vaiado, esculhambado e já além de seu melhor momento. E, claro, há a maldição. Nunca um time ganhou duas Champions seguidas desde que o nome e a ampliação de times foram adotados, no início dos anos 90. Não se pode menosprezar o campeão, um time com Cristiano Ronaldo, Bale, craques e mais craques e mais craques. Mas Ancelotti terá de fazer milagre para encontrar a consistência da temporada passada nos jogos europeus.

BARCELONA
Técnico e goleiros novatos. Defesa pouco confiável. Xavi virou passado. São várias as razões que podem nos levar a não considerar o Barcelona um dos favoritos para o título da Champions League. Mas tem uma razão que desmonta todas as outras. Que time do mundo tem um trio de ataque com Messi, Neymar e Luiz Suárez? E tudo isso com Iniesta para "brincar". Se a Champions fosse um torneio de pontos corridos, creio que seria impossível um título do Barcelona. Mas é mata-mata. E ninguém tem tanto arma para matar quanto o time catalão. Mesmo que as coisas não funcionem ao longo do ano, na hora H esses três caras podem tirar mais de um coelho de suas cartolas.

Mas fora esses quatro gigantões, quem mais poderia ser campeão europeu?

Os principais candidatos a fazê-lo seriam o Manchester City, o Paris Saint-Germain e o Atlético de Madri. Os primeiros são dois clubes tradicionais, mas com pouca história europeia. Seguiram os passos do Chelsea, foram comprados por milionários, montaram esquadrões e estão a ponto de entrar nesse pequeno grupo de favoritos ano após ano.

O City deu um certo azar com sorteios nos anos anteriores. Tem ótimo treinador, elenco e parece estar pronto para dar um passo a mais. É o time número cinco na minha lista de favoritos. O PSG tem a forte defesa da seleção brasileira, um atacante fantástico (Ibra e Cavani) mas, ao contrário do City, um treinador pouco brilhante e pouca competitividade em sua liga doméstica. Faltam também laterais e um meio-campista brilhante.

E o Atlético de Madri?

É dureza duvidar do Atlético. É, afinal, o campeão espanhol. E era o campeão europeu até os 48 minutos do segundo tempo da final de Lisboa. Mas não acredito que milagres se repitam. Não se perde um dos melhores goleiros e um dos melhores centroavantes do mundo impunemente. O Atlético será competitivo de novo, se reforçou bem, não venderá barato derrota para ninguém. E, acima de tudo, conquistou aquilo que poucos conquistam na vida: a crença em si mesmo. A ideia incutida de que pode derrotar qualquer um, em qualquer estádio, em qualquer situação.

Ficarei surpreso se for novamente à decisão. Pode acontecer? Pode. Mas é difícil.

Fora os citados, só outros quatro times podem surpreender: Arsenal, Liverpool, Juventus e Borussia Dortmund. Todos têm times bons, jogadores talentosos, mas estão abaixo dos sete times acima. Podem ganhar um ou até dois duelos de mata-mata contra rivais fortes. Mas chegar a uma semifinal, me parece, seria o teto.

Em outros tempos, não tantos anos atrás, mais times, talvez mais do que a metade dos participantes, teriam chances de levantar a taça. Em 2003, as semifinais foram compostas por quatro times que não eram citados, nem de perto, entre os favoritos. Os grandes europeus não eram tão grandes como agora. Hoje, eu coloco 11 na lista. Mas, na verdade, não acredito que o campeão não seja um dos quatro favoritos ou o Manchester City. A diferença está ficando preocupante. Menos mal que é mata-mata.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.