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Julio Gomes

Favoritos sofreram e sofrerão na Copa nivelada por cima

UOL Esporte

01/07/2014 19h40

Os grandes sobreviveram às oitavas de final desta grande Copa do Mundo. Sobreviveram. Brasil, Argentina e Alemanha sofreram mais do que muitos esperavam. Não foi surpresa para eles, no entanto.

É um jogão atrás do outro! Quatro dias de coração na boca e será assim nos oito jogos que faltam.

Para os "gigantes", foram sofrimentos distintos em circunstâncias distintas de jogo.

Não é uma boa leitura minimizar as dificuldades enfrentadas pelo Brasil só porque outros também sofreram.

Muita gente andou falando no Twitter coisas do tipo "o Brasil sofreu contra o Chile, mas olha só os outros sofrendo contra times piores".

"Pior" e "melhor" é muito relativo. Se olharmos o ranking da Fifa, por exemplo, pouquíssimos são "melhores" que a Suíça, que era cabeça de chave do grupo dela.
A Suíça jogou um futebol extremamente negativo. Nunca quis ganhar o jogo, o plano foi sempre embaralhar a entrada da área, congestionar o campo e esperar pelos pênaltis.

Tiveram um par de contra ataques no primeiro tempo e nada mais do que isso. A lição de casa era copiar o que fez o Irã e não permitir os espaços que a Argentina tinha tido contra a Nigéria.

É definitivamente uma boa estratégia para enfrentar a Argentina, que joga de modo muito estático. Messi está parado, quer bola no pé e, quando ela chega, rapidamente uma marcação dobrada (muitas vezes até triplicada) era imposta pelos suíços.

O outro rompedor de defesas é Di María, que fez um mal jogo, tomando muitas decisões equivocadas. Virou o herói no final, mas estamos falando aqui dos 118 minutos anteriores.

A Suíça tem poder de fogo, no entanto. E poderia ter pelo menos tentado ganhar o jogo. Pagou por ter abdicado do futebol, uma punição justa a quem decidiu fazer um jogo negativo.

Brasil, Alemanha, qualquer um teria sofrido contra a Suíça. É sempre difícil jogar contra linhas sólidas, juntas e envolvendo os dez atletas de linha.

A Argélia fez algo bastante diferente contra a Alemanha. Além de marcar muito, tentou ganhar o jogo de forma inteligentíssima. Correndo para cima de uma zaga lenta, pelo meio, apostando realmente em fazer dano dessa maneira.

É o ponto fraco alemão e quase a maior zebra da Copa apareceu.

No Brasil, temos a mania de ignorar e desprezar times médios e pequenos europeus. São ridicularizadas por muita gente que quer "provar" que as ligas domésticas europeias são ruins por terem "apenas dois ou três times bons".

Os argelinos, espalhados pelos Sportings e Getafes da vida, mostraram não só qualidade, mas muita inteligência tática. Não foi o antijogo suíço, foi algo muito mais ousado, sofisticado e digno de aplausos.

O Brasil possivelmente teria tanto trabalho quanto contra a Suíça e bastante menos contra a Argélia. Com laterais e zagueiros mais rápidos que os alemães, as ameaças seriam menores.

Já a Alemanha possivelmente teria tido menos trabalho contra o Chile. Porque gosta da bola, não permitiria que os chilenos dominassem a posse e fizessem o jogo como quisessem. Além, claro, de serem brilhantes em bolas aéreas – o grande defeito defensivo do Chile.

Que o futebol não tem mais bobo é algo que todos deveriam saber faz tempo, ainda que muita gente siga achando que camisas ganham jogos. O futebol evoluiu, é global, esses caras jogam em grandes ligas europeias.

Foram sofrimentos diferentes e esperados. Que não falam tão mal de Brasil, Alemanha e Argentina, mas, sim, bem de seus adversários e do nível atingido no futebol global.

Zebra mesmo será se o Brasil não sofrer contra a Colômbia. A Alemanha, contra a França (aliás, mal vejo um favorito aqui). A Holanda, contra a brava Costa Rica, convidada de honra desta grande festa. E se a Argentina não passar apuros contra a Bélgica também.

(Aliás, Colômbia e Bélgica prometiam. E cumpriram. O que vier a partir de agora é lucro e histórico).

É zebra se os favoritos não sofrerem. Não é zebra alguma se perderem.

Não é uma Copa nivelada por baixo, daí o equilíbrio. Muito pelo contrário. Estamos vendo qualidade, velocidade e gols. Times abertos, buscando a vitória. Não dá para pedir muito mais.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.