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Julio Gomes

Mourinho voltou. Olho nesse Chelsea

Julio Gomes

03/02/2014 20h52

Minha avaliação pré-temporada inglesa era a de que Manchester City e Chelsea disputariam o título, com favoritismo para o City. Ao longo do primeiro turno, vimos um Arsenal e um Liverpool bastante acima do esperado, um United claudicante, como esperado, e um Tottenham bastante abaixo da expectativa.

City e Chelsea, lá em cima. Um com seu ataque demolidor. O outro… bem. O outro com os pontos. Como sempre fazem os times de José Mourinho.

Não, o Chelsea não encanta. Não enche os olhos. Não nos anima a marcar um churrasco só para ver o jogo dele. Mas, cirurgicamente, como sempre fez, Mourinho foi buscando os reforços que precisava. O homem é o um gênio do mercado. Não queria Juan Mata no time, mas não poupava elogios ao espanhol. Resultado? Venda por um valor discutível (pra mim, muito alto) para um desesperado Man United. Perde um jogador bom, mas que não considera essencial, enche o caixa do clube e esvazia o do rival. Este é só mais um exemplo.

Nessas, veio Willian. Caro, é verdade. Mas veio. Veio Eto'o, que muitos davam como acabado. Veio Matic. E o Chelsea vai ganhando uma solidez que poucos times da Europa têm.

A partida desta segunda, entre City e Chelsea, poderia ter sido definitiva para o campeonato. Se o City ganhasse, abriria seis pontos do time londrino. Reassumiria a ponta E, me desculpem os torcedores do Arsenal, mas essa temporada mais vai mostrar que os Gunners estão de volta às disputas que outra coisa. Não vejo gás para brigar ponto a ponto, até o fim, pelo título.

O Chelsea foi lá, onde o rival tinha 100% de aproveitamento e média de quatro gols por jogo, ganhou por 1 a 0 e saiu com os três pontos. Foi aos mesmos 53 do City, dois abaixo do Arsenal. Dois jogos, duas vitórias contra o todo poderoso City.

Foi uma partida perfeita. Defesa sólida, como sempre com os times de Mourinho. Intensidade defensiva, participação dos 10 jogadores de linha de forma coesa e solidária. No primeiro tempo, marcação pressão adiantada, à la Barcelona de Guardiola, impedindo o início das jogadas do City e forçando o caminho via bolas longas. Recuperação de bola e saída em velocidade com Willian e Ramires. Hazard, o homem do desequilíbrio. David Luiz e Matic, os volantões, perfeitos na transição.

O Chelsea fez um gol e acertou a trave três vezes. Poderia ter matado o jogo antes dos 30min do segundo tempo. Foi quando o gás para os contra ataques acabou e, logicamente, o time da casa pressionou para buscar o empate. Aí, apareceu Cech. Goleiro bom está lá para isso, afinal. Se o jogo tivesse acabado em empate, teria sido injusto dado o domínio tático do Chelsea por 75 minutos.

José Mourinho mandou um recado para aqueles que esquecem do que ele é capaz. Amigos, estamos falando do técnico mais vencedor e importante do mundo nos últimos dez anos. O único capaz de fazer frente a um Barcelona revolucionário e dominante nos últimos 8, 9 anos.

Mourinho é uma espécie de Cristiano Ronaldo dos técnicos. Absolutamente completo. Taticamente excelente, conhecedor da parte física, motivador, estudioso, com muitos idiomas no repertório para atingir o lado emocional de jogadores dos mais diferentes países. Corajoso, metódico, um homem que preza pelo bem geral, não individual em seu grupo de trabalho. Não falta nada.

Falta humildade, dirá algum. Nunca vi o Mourinho egocêntrico que muitos veem. E nunca ouvi um jogador que passou pelas mãos dele que corroborasse com essa ideia. Ele é, sim, e esta é minha crítica, uma dessas pessoas para quem os fins justificam os meios. Fala coisas que extrapolam o respeito ao adversário, até a ética, sempre em nome da sua religião: vencer. Não gosto desta faceta de Mourinho, confesso.

Mas há de se respeitar a história de José no futebol.

Quem vai derrubar o Chelsea na Champions League?

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.