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Julio Gomes

Álvaro Pereira: boa estreia, ótima atitude

Julio Gomes

26/01/2014 19h15

O calor não pode ser ignorado na vitória de 2 a 1 do São Paulo sobre o Oeste, pelo Paulistinha. Não dá para não levar em conta uma temperatura na casa dos 30 graus em um jogo de início de temporada.

Não dá, também, para ignorar o fato de o calor valer para todos, para os dois times. Somos um país quente no verão (às vezes até no inverno, em muitos lugares), e jogadores de futebol estão habituados a estas condições.

No intervalo do jogo do Morumbi, após um modorrento primeiro tempo, eu aguardava as entrevistas e observações sobre o calor. Um jogador, somente um, poderia encher a boca para falar dos 30 graus: Álvaro Pereira, que acaba de desembarcar do frio de Milão, onde vinha treinando e jogando. A adaptação, para ele, é obviamente mais sofrida.

Que nada!

Nem uma palavrinha sobre o calor. "Tem que fazer cada jogo como se fosse uma final", foi o que ele disse. "O jogo não está ganho, temos de tomar cuidado".

As duas frases me pareceram exageradas.

A segunda, ele acertou em cheio. O São Paulo jogou com o freio de mão puxado, Luis Fabiano perdeu um pênalti, o Oeste achou um golzinho e foi um pega pra capar nos 10 minutos finais. Não fosse uma ótima defesa de Dênis, o Oeste teria empatado.

A primeira frase é muito mais simbólica. É a atitude do jogador uruguaio, a forma de pensar e encarar um jogo de futebol. Claro que nem todo cidadão uruguaio é guerreiro e nem todo jogador de futebol brasileiro é preguiçoso. Estamos falando de generalizações que se adequam a boa parte dos casos.

Álvaro, na estreia, já virou o homem das bolas paradas – dos pés dele, saiu o cruzamento para o segundo gol de Antônio Carlos. Apoiou e marcou com consistência. Não reclamou do calor. E só saiu de campo quando desabou, já aos 30 e tantos do segundo tempo, com cãimbras.

Por que os torcedores gostam tanto de uruguaios?

A resposta me parece fácil. É a atitude, o esforço, a entrega, o respeito pela camisa que veste. Nós, brasileiros, costumamos prezar muito mais a classe do que a raça. Mas classe é algo que está bastante em falta por aqui. Aparece aqui e ali, mas já não é, há tempos, a marca do futebol praticado em nossos campos. Pouco a pouco, o gosto popular foi se transformando. Hoje, um grosso raçudo vale muito mais do que um bom de bola preguiçoso.

Se for bom e raçudo, então, aí cai nas graças de qualquer torcida. Parece ser o caso de Pereira.

Viva o intercâmbio! Assim como com Seedorf, tenho que certeza que os jovens das bases do São Paulo, os companheiros, os adversários, os jornalistas e torcedores têm muito a aprender com este uruguaio de seleção, de Copa do Mundo.

Álvaro aprenderá, no entanto, que não é necessário jogar todas as partidas do Paulistinha como uma final. Basta a ele ler o regulamento…

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.