Flu é o "melhor" rebaixado da era dos pontos corridos
O Fluminense conseguiu o que poucos imaginavam. Campeão brasileiro em 2012, entrou na edição que acabou ontem como um dos favoritos ao título. E acabou rebaixado, um fato inédito na história do futebol nacional. Mas não foi este o único "feito" do Flu. Nunca, na era dos pontos corridos, um time havia sido rebaixado com aproveitamento acima dos 40%.
Desde 2006, quando o campeonato passou a ser disputado por 20 times, em sistema de todos contra todos, nunca uma equipe com 46 pontos havia ficado entre as quatro últimas, na zona de rebaixamento. Foi o que aconteceu com o Fluminense, que terminou com os mesmos 46 pontos do Criciúma, mas uma vitória a menos.
Somente uma vez, em 2009, um time havia sido rebaixado com 45 pontos: o Coritiba, um ponto atrás do próprio Fluminense. Por isso, treinadores costumam considerar 45 uma pontuação segura para a salvação. De fato, em regra, é suficiente. Mas não foi em 2009, não foi em 2013.
Entre 2003 e 2005, variou o número de rebaixados e o número total de times, mas ninguém ocupou a zona de descenso com mais de 40% de aproveitamento.
Desde que o rebaixamento passou a fazer parte do Brasileiro, a partir de 1988, somente três times caíram para a segunda divisão com um aproveitamento maior do que o do Fluminense. Mas em circunstâncias absolutamente incomuns. O Gama, em 1999, teve 41,3% de aproveitamento, mas acabou em décimo-quinto entre 22 participantes, sendo rebaixado porque, naquele ano, era calculada uma média de pontos que levava em conta o campeonato anterior, de 98.
O América Mineiro, em 1993, teve 50% de aproveitamento, mas era um regulamento que rebaixava oito times e em um tempo em que as vitórias ainda valiam dois pontos. O Atlético-PR, em 1989, teve mais de 50%, mas jogou oito jogos em um grupo de repescagem, contra os piores do campeonato.
Isso tudo nos faz a chegar a uma conclusão que serve de pouco (ou nenhum) consolo aos tricolores: o Fluminense é o melhor rebaixado de todos os tempos do futebol brasileiro.
O que não faz com que o descenso tenha sido injusto. O Fluminense errou demais ao longo de toda a temporada e errou (equívoco bastante comum) ao não pensar que poderia ser rebaixado. Foi fazendo aquele campeonato sem vergonha, sem pensar que o pior poderia acontecer. De repente, estava lá em baixo. E, neste cenário, times que jogaram o campeonato inteiro para não cair (Portuguesa, Criciúma, Bahia) acabam lidando melhor com o momento.
Jogar para não cair é toda uma arte, é algo diferente. Qualquer ponto é importante e muitas vezes times grandes não conseguem jogar assim. São empurrados a buscar vitórias e sofrem derrotas em jogos em que empates estariam de bom tamanho.
O Fluminense não pode reclamar da sorte, das arbitragens, de punições do STJD, da seleção. Nada. Errou, como a maioria dos times, ao achar que preservar elenco campeão seria garantia de sucesso. O mesmo erro do Corinthians. Não é porque ganhou que todo mundo virou craque, e havia problemas evidentes no Fluminense-2012. No ano passado, foram vários, muitos mesmos, os jogos que o Fluminense deveria ter perdido, mas se saiu com três pontos na combinação milagres de Cavalieri + gol de Fred.
Não tem milagre todo ano. E não tem Fred saudável todo ano. Aí a Unimed fecha a torneira, saem Thiago Neves e Wellington Nem, Deco para de jogar. Resumindo: vão-se os bons, ficam os campeões coadjuvantes. O Fluminense achou o quê?? Que os que sobraram faria algo importante?
E aí vem o erro definitivo: a demissão de Abel Braga. Não sou fã dos times de Abel, discordo de alguns conceitos futebolísticos. Mas o Fluminense não demitiu Abel por causa de conceito algum. Demitiu por causa dos resultados. Demitiu porque achava que, com Abel, não daria para ser campeão ou chegar na Libertadores. Achou certo, demitiu errado. Com Abel, não teria caído. Com Abel, teria feito um campeonato modorrento, pasmaceira, tipo o do Corinthians, o do Flamengo. Mas não teria caído. Não teria passado nem perto.
Aí contratou mal, contratou um treinador que o presidente não queria e que a patrocinadora impôs. E depois também demitiu mal Luxemburgo porque, uma vez com ele, deveria ter ido até o final. Era véspera do jogo contra o Náutico, viriam com Luxemburgo as mesmas duas vitórias que vieram com Dorival. Ou seja, o Fluminense fez tudo errado. E não com a conivência, mas com a interferência da patrocinadora.
Quem manda no clube, afinal?
As pessoas passam. As empresas passam. E o clube fica. Que Fluminense ficará quando esse conto de fadas do Flunimed acabar? Está na hora de o Fluminense e seu torcedor se preocuparem menos com títulos e mais com o futuro da instituição. O Fluminense pré-Unimed era um clube de dois rebaixamentos seguidos. É bom pensar no que será o pós-Unimed. Com ou sem ela na Série B do ano que vem.
Rebaixamentos nos pontos corridos:
2013 – Primeiro livre: Criciúma (46). Primeiro rebaixado: Fluminense (46) – 40,4% de aproveitamento
2012 – Primeiro livre: Portuguesa (45). Primeiro rebaixado: Sport (41)
2011 – Primeiro livre: Cruzeiro (43). Primeiro rebaixado: Atlético-PR (41)
2010 – Primeiro livre: Atlético-GO (42). Primeiro rebaixado: Vitória (42)
2009 – Primeiro livre: Fluminense (46). Primeiro rebaixado: Coritiba (45)
2008 – Primeiro livre: Náutico (44). Primeiro rebaixado: Figueirense (44)
2007 – Primeiro livre: Goiás (45). Primeiro rebaixado: Corinthians (44)
2006 – Primeiro livre: Palmeiras (44). Primeiro rebaixado: Ponte Preta (39)
2005 (22 times) – Primeiro livre: Ponte Preta (51). Primeiro rebaixado: Coritiba (49) – 38,9% de aproveitamento
2004 (24 times) – Primeiro livre: Botafogo (51). Primeiro rebaixado: Criciúma (50) – 36,2% de aproveitamento
2003 (24 times) – Primeiro livre: Paysandu (49). Primeiro rebaixado: Fortaleza (49) – 35,5% de aproveitamento
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