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Julio Gomes

Novo Barça ganha o clássico "sem Messi". Real reclama, desta vez com razão

Julio Gomes

26/10/2013 16h08

Nos acostumamos, nos anos de José Mourinho no Real Madrid, a achar que todos os superclássicos eram decididos pelos árbitros, nunca pelos jogadores. É o jeito de ser do português, gostem ou não. Sempre apontando o dedo para a arbitragem, nunca para os erros de seu time. Na enorme maioria das vezes, sem razão. Algumas vezes, com toda a razão.

Depois do superclássico deste sábado, no Camp Nou, muito vai se falar de Undiano Mallenco, o árbitro. Foi uma boa atuação do lado disciplinar, acertando sempre com cartões e faltas. O problema é o erro em lance capital, é o que mata arbitragens. Com 1 a 0 para o Barcelona e o Real Madrid jogando melhor, no segundo tempo, Mascherano empurra Cristiano Ronaldo por trás na área. Não há muita margem para interpretação, não foi ombro com ombro. Empurrão por trás, falta, no caso, pênalti. Poderia ter sido o empate.

Minutos depois, o 2 a 0. O Real Madrid vai reclamar muito. Claro, é também uma maneira de minimizar a derrota. Mas que foi pênalti, foi.

À parte a polêmica, foi interessante ver esse novo Barcelona, de Tata Martino. A bola praticamente não passou pelos pés de Messi durante toda a partida. No primeiro tempo, o jogo fluiu sempre por Iniesta e Neymar. No segundo tempo, o jogo foi do Real Madrid. Messi foi quase um espectador. É mais bonito? Não, não é. Mas é competitivo. E Martino está encontrando modelos de jogo para a fase aguda da temporada, lá no mata-mata da Champions.

Mas foi surpreendente. Pensar em um clássico com Messi levando uma nota 5… olhando o bonde passar. Chega a ser surreal, depois de tantos anos de domínio do argentino. Em todos os jogos mas, especialmente, nos grandes.

O Barcelona entrou em campo com Busquets na proteção, Xavi, Iniesta e Fábregas controlando o jogo no meio, Neymar aberto pela esquerda, Messi pela direita. Um modelo completamente diferente do que vimos na era Guardiola e, depois, com Tito Vilanova.

Carlo Ancelotti errou feio na escalação. Mudou o Real Madrid, copiou, de alguma maneira, o que fez José Mourinho em alguns dos clássicos contra o Barcelona. Adotou uma estratégia de adiantar um zagueiro para a posição de volante, para congestionar o meio e não deixar Messi flutuar entre as duas linhas defensivas.

No passado, Mourinho fez isso com Pepe. E teve relativo sucesso, foram vários os clássicos em que o Real Madrid conseguiu equilibrar as coisas e vencer ou quase vencer o Barça. Ancelotti preferiu adiantar Sergio Ramos. Só que Tata Martino já tinha o antídoto antes mesmo de precisar entender o que queria Ancelotti.

Porque seu time já tinha outro desenho. Com Messi caindo pela direita, Marcelo não podia subir e Sergio Ramos ficou sem função ali no meio de campo. Para piorar as coisas, Iniesta fez um primeiro tempo espetacular. É um gênio da bola, nada menos do que isso. Iniesta se aproveitou do posicionamento dos meias do Real, encontrou metros, pintou e bordou. E, claro, se associou com Neymar o tempo inteiro nas costas de Carvajal, o lateral direito.

Foi um muito bom primeiro tempo de Neymar. É verdade que errou um número de jogadas, às vezes tentando o passe e errando, às vezes deixando de tentar o drible no mano a mano. Mas sua movimentação deu fluência às jogadas de ataque do Barcelona, deu uma saída após os avanços de Iniesta. E, é claro, ele acertou naquela uma bola, a do gol. Uma bola que passa milimetricamente perto de algumas pernas na área e entra no cantinho.

Essa, para mim, continua sendo a grande qualidade de Neymar: o poder de finalização. E gols mudam partidas e destinos. Estrear em um clássico fazendo o gol do 1 a 0 é um passo gigantesco para a consolidação de Neymar no futebol europeu.

Depois do gol, vimos claramente a postura desse novo Barcelona. Abriu mão da posse de bola, deixou o Real Madrid fazer o que quisesse com ela. Só que o Real não fez nada e, assim, foi-se o primeiro tempo. No segundo, as coisas mudaram. Especialmente com o reposicionamento de Modric, mais adiantado, e as entradas de Illarramendi e Benzema por Sergio Ramos e Bale – aliás, Bale, titular, fez uma partida medíocre. Melhor deixá-lo "entrar" mais no ritmo, porque o jogador mais caro do mundo está queimando o filme.

No segundo tempo, o Real Madrid dominou. Foi para cima, criou chances, teve o pênalti não marcado, uma bola linda de Benzema no travessão. E aí o Barcelona aumentou e matou o jogo no primeiro contra ataque que encaixou, com Alexis Sánchez tocando por cobertura contra um adiantado Diego López.

Perceberam que não falei o nome de Messi?

Foi o pior clássico do argentino. O jogo passou por Iniesta e Neymar no primeiro tempo. Sí vimos Messi uma vez, em um mano a mano, perdendo gol que não costuma perder. E o jogo não passou pelos pés desse novo Barcelona no segundo. As consequências disso? Veremos…

Por enquanto, com um quarto do campeonato transcorrido e um dos superclássicos disputados, o placar é: Martino 1 x 0 Ancelotti. Neymar 1 x 0 Bale. E só por jeito de falar, mesmo. Porque, nessas comparações, por enquanto Martino e Neymar levam por goleada.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.