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Julio Gomes

Rodada que sintetiza nosso futebol coloca quase todo mundo em risco

Julio Gomes

09/10/2013 23h53

Tem que gente que confunde equilíbrio com qualidade. Eu não acho o Campeonato Brasileiro bom porque é parelho. Não é que os ruins sejam bons, é que os bons também são ruins. E nenhuma rodada até agora deixou isso mais claro do que a vigésima sétima, a atual.

O grande amigo Mauro Beting disse um dia desses que o Brasileiro tinha 20 times jogando para não cair e o primeiro a se salvar seria o campeão. Olha… tem sentido. "Cruzeiro, parabéns, se livrou do rebaixamento. Ah, e foi campeão!" hahaha. Esquisito, mas tem sentido.

O campeonato teve alguns jogos muito bons. Mas, em tempos de tantas críticas ao calendário do futebol brasileiro, fica nítido o quanto ele é importante. Para o mal. Conforme as rodadas foram passando, os jogos foram piorando, inclusive dos times que vinham com partidas sólidas. As pernas foram cansando, as lesões foram aparecendo, a busca desesperada por pontos foi se intensificando, os treinos foram rareando.

O exemplo mais nítido disso é o Botafogo. Um time em clara decadência física, e a queda veio acompanhada de resultados piores.

No calendário europeu, quem joga muitas partidas não joga taaaaantas a mais do que os times daqui. Sim, o número de jogos é maior aqui. Mas há algo além disso, há um detalhe a que poucos se atentam. Na Europa, a carga maior de jogos em meio de semana acontece na primeira metade da temporada. Quanto mais para o fim, mais times ganham semanas inteiras de folga. No Brasil, é o contrário. Quando mais o Brasileiro se aproxima do final, menos descanso os times têm. É uma lástima. Entre outros fatores, o calendário é o maior destruidor do campeonato. Destruidor técnico. Para quem gosta do equilíbrio pelo equilíbrio, o Brasileirão é uma fartura.

O nivelamento por baixo causa o que vimos nesta quarta-feira. O Náutico chegou a estar ganhando do Botafogo, mas perdeu. À parte o lanterna, que já está virtualmente rebaixado, os outros seis times que vinham imediatamente acima na tabela ganharam: Ponte Preta, Criciúma, Vasco, São Paulo, Coritiba e Bahia. Todo mundo ganhou.

Sendo que o São Paulo ganhou do líder, que não perdia havia 458 jogos, em pleno Mineirão. O Criciúma fez o mesmo contra o vice-líder, o Grêmio. Bahia e Vasco ganharam clássicos regionais. De normal na noite de quarta-feira mesmo, só o enésimo empate sem gols do Corinthians. A "vítima" da vez foi o Atlético Paranaense, mais um picado pela mosca do futebol modorrento corintiano.

O que significa tudo isso? Que qualquer um pode ganhar de qualquer um, disso já sabíamos. Repito, em campeonatos nivelados por baixo, essa é uma característica.

Mas tem mais do que isso. As vitórias destes seis times ensanduicharam tudo na tabela. A Ponte Preta, eu sigo considerando um caso quase impossível. Mas do Vitória, sexto, com 37 pontos, ao Criciúma, antepenúltimo, com 29, todo mundo pode cair. Ainda faltam 11 jogos! E temos 13 times neste espaço citado. Do Vitória ao Vasco, o primeiro dentro do Z-4, são 12 times separados por 5 pontos. Duas vitórias.

O campeonato hoje tem cinco blocos.

O líder do pelotão, o Cruzeiro, arrancou para o título. Grêmio, Botafogo e Atlético-PR sabem que não vão pegar o Cruzeiro e têm bastante gordura para administrar a permanência no G-4. O terceiro bloco é só do Atlético-MG, que vai ficar ali brincando e se preparando para o Mundial. O quarto bloco é o do pelotão todo. E o último bloco tem só o Náutico.

Detalhe: Grêmio, Botafogo ou Atlético-PR, um deles pode ganhar a Copa do Brasil. E isso abriria uma vaga a mais na Libertadores! Ou seja, a turma toda ali dos 37 pontos para baixo corre risco de cair… mas corre também risco de se classificar para a Libertadores. Dá para ser mais bizarro??

55 pontos, vaga na Libertadores. 50, rebaixado. Alguém duvida?

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.