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Julio Gomes

Lusa tem o melhor desempenho e volta a usar clássicos para ficar na elite

Julio Gomes

07/10/2013 03h48

Antigo. Tradicional. Habitual. Famoso por se repetir ao longo do tempo. Estes são alguns dos sinónimos e definições da palavra "clássico".

Há quem diga que quando Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos jogam com a Portuguesa, "não é mais clássico". Quem diz isso, erra. Desconhece algo tão simples quanto o significado da palavra. Não é uma questão de opinião, não é uma questão de equiparar o tamanho dos clubes (o que também seria um erro). Um jogo "clássico" de futebol será, para sempre, um clássico. A música clássica não deixa de ser clássica porque ela já foi mais ouvida no passado do que é hoje. Um carro não deixa de ser um clássico porque ele não é mais vendido. Um jogo contra a Portuguesa não deixou de ser um clássico porque a torcida lusa diminuiu ao longo dos tempos e porque o clube passou a frequentar a Série B nos últimos dez anos. Pode ser um clássico menor do que outros, sem dúvida. Que gere menos interesse e provocações. Mas nunca deixará de ser um clássico.

Não é a quantidade de títulos e torcedores que define a grandeza de uma instituição (são fatores importantes, sem dúvida, mas há tantos outros). Portuguesa x Santos é um clássico do futebol de São Paulo e, consequentemente, brasileiro. Quem acha que não, desconhece a história e o atropela o dicionário. Muricy Ramalho, outro dia desses, deu uma invertida em um repórter jovenzinho que "aprendeu" sobre o tema naquela entrevista coletiva.

Como vivemos no mundo do "o que vale é agora", em que todos têm opiniões tão definitivas quanto fugazes sobre tudo e pessoas jovens cada vez menos fazem questão de conhecer e valorizar o passado, achei importante escrever as linhas acima.

Pois bem. Com a vitória no jogo de ontem, a Portuguesa passou o próprio Santos e tornou-se o time paulista com mais pontos nos clássicos, somando os Brasileiros de 2012 e 2013 – ou seja, desde que ela, Portuguesa, voltou à primeira divisão nacional.

O número de pontos que a Portuguesa conquistou até agora nos clássicos é bastante superior ao aproveitamento nos outros jogos todos. Isso significa que foi contra os "vizinhos" que a Lusa fez pontos preciosos para se manter na primeira divisão, ano passado, e o filme parece se repetir neste ano. Com a segunda melhor campanha do segundo turno, atrás apenas do Cruzeiro (são cinco vitórias em sete jogos), a Lusa cada vez menos parece ser candidata ao rebaixamento – o que beirava a "certeza" dois meses atrás.

Só não dá para dizer que já está livre do fantasma da Série B porque… só tem mais um clássico pela frente na tabela!

No atual campeonato, de 2013, Portuguesa e Santos fizeram 10 pontos em cinco clássicos: ganharam três, empataram um e perderam um. Justamente um derrotou o outro, daí vêm as derrotas (4 a 1 para o Santos, na Vila, no turno, e os 3 a 0 para a Lusa, no Canindé). O Corinthians tem 3 pontos em clássicos – três empates e a goleada sofrida para a Lusa em Campo Grande. O São Paulo, por enquanto, só somou um ponto. No domingo que vem, São Paulo e Corinthians se enfrentam no Morumbi. Ainda faltam outros dois clássicos até o fim do ano: Corinthians x Santos e São Paulo x Portuguesa.

No ano passado, com o Palmeiras ainda na elite, o São Paulo fez 17 pontos e foi o clube que teve melhor desempenho. A Portuguesa fez 13 pontos, o Santos, 12, o Corinthians, 9, e o Palmeiras somou apenas 2 em oito clássicos. Não à toa acabou rebaixado.

Somando os clássicos de 2012 e 2013, a Portuguesa tem 23 pontos contra os rivais paulistas, o Santos somou 22, o São Paulo tem 18 e o Corinthians, 12. O detalhe é o quanto esses pontos representam relativizando a carga total. Dos 64 jogos feitos pela Lusa no Brasileiro desde a volta à elite (38 jogos em 2012 e 26 no de 2013), 13 deles foram clássicos (20,3% das partidas). Dos 79 pontos somados pelo clube nos dois campeonatos, 23 vieram nos clássicos, o que representa 29,1% do total. Ou seja, a Portuguesa fez 1,77 ponto por clássico disputado, enquanto faz 1,10 ponto por jogo contra todos os outros adversários. Um desempenho 60% melhor quando enfrenta os times contra quem a torcida mais quer uma vitória.

O Corinthians, por exemplo, fez nos clássicos 12 dos 92 pontos que somou nos Brasileiros deste ano e do ano passado. Só venceu o Palmeiras duas vezes no ano passado, não conseguiu resultados positivos contra São Paulo, Santos ou Portuguesa. É uma média de 1 ponto ganho por clássico, número que sobe a 1,54 ponto por jogo contra os outros times todos. O Santos, como a Portuguesa, também tem um desempenho melhor nos clássicos, enquanto o São Paulo tem exatamente o mesmo desempenho, independente do rival: 1,5 ponto por jogo somados os Brasileiros de 2012 e 2013.

Se incluirmos os resultados contra a Ponte Preta no Brasileirão 2013, a Portuguesa lidera o "mini Paulista" com 13 pontos, contra 10 do Santos. São 72% de aproveitamento da Lusa contra os paulistas e 35% contra os times de outros Estados. Essa comparação dá a medida exata: a salvação, a permanência na elite, está passando de novo por ganhar dos rivais mais diretos. É curioso que o time considerado por muitos "café com leite" seja justamente o de melhor desempenho nos clássicos em São Paulo.

Os paulistas nos clássicos, Brasileiros de 2012 e 2013:

Portuguesa – 23 pontos (6 vitórias, 5 empates, 2 derrotas)
Número de clássicos: 13 (20,3% do total de jogos)
Pontos por clássico: 1,77
Aproveitamento: 59%
Pontos por jogo contra os outros adversários: 1,10
Aproveitamento: 37%

Santos – 22 pontos (6 vitórias, 4 empates, 3 derrotas)
Número de clássicos: 13 (20,3% do total de jogos)
Pontos por clássico: 1,69
Aproveitamento: 56%
Pontos por jogo contra os outros adversários: 1,51
Aproveitamento: 50%

São Paulo – 18 pontos (5 vitórias, 3 empates, 4 derrotas)
Número de clássicos: 12 (18,7% do total de jogos)
Pontos por clássico: 1,50
Aproveitamento: 50%
Pontos por jogo contra os outros adversários: 1,50
Aproveitamento: 50%

Corinthians – 12 pontos (2 vitórias, 6 empates, 4 derrotas)
Número de clássicos: 12 (18,7% do total de jogos)
Pontos por clássico: 1,00
Aproveitamento: 33%
Pontos por jogo contra os outros adversários: 1,54
Aproveitamento: 51%

Palmeiras – 2 pontos (0 vitórias, 2 empates, 6 derrotas) – somente 2012
Número de clássicos: 8 (21,05% do total de jogos)
Pontos por clássico: 0,25
Aproveitamento:  8%
Ponto por jogo contra os outros adversários: 1,07
Aproveitamento: 36%
Guto Ferreira é a maior revelação entre os treinadores deste Brasileiro, está fazendo omelete com poucos ovos. Seu maior mérito foi dar estabilidade tática para o time e recuperar Moisés, um volante que atua no meio e estava afastado pelo Sargento Pincel… ops, quer dizer, o Coronel Pimenta. A Portuguesa tem uma defesa instável, que falha bastante, mas compensa criando bastante volume de jogo e finalizando muito a gol. O time joga em um 4-1-4-1 e tem muitas variáveis.

Luis Ricardo, o lateral direito, foi atacante. Rogério, o lateral esquerdo, é zagueiro de origem. Ambos sobem muito e defendem muito. Ferdinando é o volante único, é o responsável por um caminhão de faltas táticas no meio de campo. Erra muitos passes, também porque o adversário acaba "escolhendo" Ferdinando para ficar livre com a bola, mas tudo isso é compensado pelo trabalho sujo. Moisés e Bruno Henrique (muito bom jogador, anotem esse nome), são dois volantes a mais, quando o time não tem a bola, mas que viram meias, quando a tem. Diogo joga aberto pela direita (com apendicite, foi substituído por Bergson), Souza fica aberto pela esquerda. É a maneira como Guto Ferreira abre o campo, espalha o time, cria associações com os laterais e gera bolas cruzadas para Gilberto.

É um time bastante arrumado. No ano passado, a Portuguesa tinha uma boa defesa, liderada por Dida, jogava com quatro volantes e confiava na velocidade de Ananias e no oportunismo de Bruno Mineiro. Geninho jogou para empatar um caminhão de partidas – foram 15 empates no total, nenhum time empatou tanto no Brasileiro-2012. Foi uma maneira de chegar aos 45 pontos e ficar na elite. Com Guto Ferreira, é o oposto. A Portuguesa não joga para empatar, é um ganha-perde, com muitos gols feitos e muitos tomados.

Desde que Guto chegou, são 8 vitórias, 3 empates e 6 derrotas. Os empates? Gol sofrido nos acréscimos contra o Criciúma, gol sofrido aos 49min do segundo tempo contra o Coritiba, e gol feito pelo goleiro Lauro, de cabeça, aos 45min contra o Flamengo. Não era, pois, para nenhum desses três empates terem sido empates.

Clássicos da Lusa em 2012:
Palmeiras 1 x 1 Portuguesa
Portuguesa 1 x 0 São Paulo
Portuguesa 0 x 0 Santos
Corinthians 1 x 1 Portuguesa
Portuguesa 3 x 0 Palmeiras
São Paulo 3 x 1 Portuguesa
Santos 1 x 3 Portuguesa
Portuguesa 1 x 1 Corinthians

E em 2013:
Corinthians 0 x 0 Portuguesa
Santos 4 x 1 Portuguesa
Portuguesa 2 x 1 São Paulo
Portuguesa 4 x 0 Corinthians
Portuguesa 3 x 0 Santos
São Paulo x Portuguesa

 

 

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.