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Julio Gomes

Cruzeiro campeão é o Cruzeiro que morde, da pressão dos atacantes

Julio Gomes

02/10/2013 23h24

Já é básico no futebol há alguns anos, mas só "chegou" ao Brasil no ano passado, com o Corinthians de Tite. Uma das grandes chaves do Cruzeiro neste Campeonato Brasileiro é a maneira como o time de Marcelo Oliveira morde lá na frente.

Esta foi a chave da goleada, mais uma agora, agora sobre a Portuguesa.

A Lusa tem o terceiro melhor ataque do campeonato, é verdade. Mas também tem a quarta pior defesa. Desde o começo da competição, vem tomando gols demais, quase sempre em falhas individuais, mais até do que de sistema. Era esperada uma goleada no Mineirão, já que o melhor ataque enfrentaria uma defesa ruim.

No primeiro turno inteiro, somente o Corinthians passou um jogo inteiro sem fazer gols na Portuguesa. No segundo turno, a Lusa conseguiu fechar a torneira em três jogos seguidos: Náutico, Inter e Corinthians. Ganhou os três. Já estava passando da hora de voltar à realidade.

E nada "melhor" para os outros 19 times do campeonato do que pegar o Cruzeiro para tomar uma ducha de realidade.

O primeiro gol do Cruzeiro é um chutão de Bruno Rodrigo. Corrêa cabeceia para trás e dá um passe para Borges. Um lance de ataque da Portuguesa vira um gol do Cruzeiro em 4 segundos. No terceiro gol, Ferdinando, e no quarto gol, Luis Ricardo, saem jogando errado e dão a bola nos pés do ataque do Cruzeiro.

Conforme a defesa vai fazendo lambança, a goleada vai sendo construída. Mas é simplista colocar o placar só na conta dos erros. Os erros acontecem muito devido à pressão exercida por meias e atacantes do Cruzeiro. O time azul força o erro, eles não são casuais. E tem muito, mas muito mérito nisso aí.

Venho falando disso há muito tempo. Essa é a grande impressão digital do Barcelona, por exemplo, tanto quanto (ou até mais) do que a tal posse de bola. Pressão. E quando o mundo inteiro viu que Messi, o melhor jogador do planeta, marca, morde, corre atrás como qualquer outro, uma mensagem estava sendo transmitida.

"Ei, você aí… só porque você é atacante acha que não tem que marcar? Até o Messi marca!"

Se o melhor do mundo defende para atacar, porque os "craques" dos nossos campos não podem? Os grandes times europeus jogam assim faz tempo, as maiores seleções mundiais também. No Brasil, isso chegou com o Corinthians, com anos de atraso. A seleção brasileira de Felipão fez o mesmo na Copa das Confederações. E, agora, o Cruzeiro é quem domina a arte.

Willian, Éverton Ribeiro, Ricardo Goulard, Borges ou quem quer que entre, todos mantêm a pegada lá em cima. Bola roubada é quase sinônimo de gol.

O Cruzeiro já é campeão brasileiro e está a caminho de bater recordes de pontos e gols.

A Portuguesa não tem que baixar a cabeça. Fez um jogo digno. Teve chance clara com Luis Ricardo ainda com 0 a 0, chute no travessão de Souza com 0 a 2. E muitas chances de gol no segundo tempo. O que precisa é abrir o olho lá atrás. Ainda não tem pontuação para estar relaxada no campeonato, ainda é preciso ganhar 4 jogos dos 13 que restam, sendo que 6 deles serão no Canindé. A Portuguesa tem mostrado bola para não cair, mas é muito importante chegar tranquila às últimas três, quatro rodadas, senão vira aquele pega pra capar. E aí não há coração rubro-verde que aguente.

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Por falar em Twitter. Uma enxurrada de cruzeirenses tem se aproveitado do momento para recuperar um tweet meu de maio, antes de o campeonato começar, quando eu dizia que não achava que o Cruzeiro estaria na zona da Libertadores. Errei, obviamente. Não acho que o Mineiro seja referência para nada (nenhum Estadual é) e não acreditava que o Cruzeiro teria elenco para brigar lá em cima. Em minha defesa, digo: quem acreditava? O torcedor fanático pode até ser, ele sempre acredita. Mas, em regra, pouquíssimas pessoas podiam antever o passeio que tem sido o campeonato. Falar agora é fácil…

Parabéns, cruzeirenses! Divirtam-se. Foi um primeiro semestre difícil. Aproveitem o segundo, o futebol é para isso, não para rancor e ódio.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.