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Julio Gomes

A matemática que pode definir título do Cruzeiro nos dois próximos jogos

Julio Gomes

19/09/2013 01h11

Antes de mais nada, quero reiterar o mea culpa e avisar que não mais o farei. Errei completamente minha estimativa do que o Cruzeiro poderia fazer nesse campeonato. Me parecia um time mediano, de meio de tabela, talvez podendo sonhar com Libertadores. Errei feio. Sempre me esqueço que o Brasileirão é mediano na sua essência. Então um time médio, se bem treinado, contando com alguns fatores de apoio (torcida, sorte, estabilidade) pode virar um time muito bom. Campeão, enfim.

O Cruzeiro, logicamente, gastou mais do que devia/podia. Assim como o Atlético. Talvez até por causa do Atlético. Mas é assim que a banda toca no Brasil… torcedor de futebol não está preocupado com a saúde econômica de seu clube, está preocupado em ganhar campeonato. Esse é outro tema, outro debate. Não o deste post.

Em um campeonato de pontos corridos, reviravoltas são possíveis. Mas não são comuns. Nos 10 anos de pontos corridos no Brasil, 7 vezes o campeão do turno manteve o posto até o fim. 70%. É um altíssimo percentual. E isso em um futebol mais equilibrado do que o de outros países. É importante falar isso, porque o discurso mais comum e fácil é o do "tudo pode acontecer".

Comentarista que fala sempre que "tudo pode acontecer" está verdadeiramente protegido, não é verdade? Eu, vocês já perceberam, gosto de arriscar. Gosto de tentar antever as possibilidades e o que vai acontecer. Às vezes o futebol me surpreende, mas na maioria das vezes é possível analisar, com baixa taxa de risco, o que é mais provável.

Quem joga poker, sabe. Joga-se com probabilidades. O melhor jogador não é exatamente aquele que acha que "tudo pode acontecer".

Pois bem. Cruzeiro 3, Botafogo 0. E agora são 7 pontos de diferença para o Botafogo, 11 para o Grêmio. Para o Atlético-PR, são 14 que podem virar 11. Para o Internacional, são 15 que podem virar 12. Grêmio, Atlético-PR e Inter só podem ser campeões se acontecer um desastre com o Cruzeiro: oito jogos sem ganhar, seis derrotas consecutivas, algo assim. Vocês consegue ver algo assim acontecendo? Não? Nem eu.

Quanto ao Botafogo, resolvi separar os 16 jogos restantes em três blocos. 5, 6 e 5. Os cinco finais são aqueles em que times disputando o título raramente perdem pontos. Então quem chegar 3, 4, 5 pontos na frente na reta final, não perde mais. Os próximos 5 jogos são os que eu considero cruciais. Ou o Botafogo alcança AGORA ou já era.

O Cruzeiro pega Corinthians e Inter fora, Portuguesa em casa, Náutico fora e São Paulo em casa. O Botafogo tem quatro jogos seguidos no Rio, contra Bahia, Ponte Preta, Fluminense e Grêmio, depois pega o Náutico fora.

Considero que o Botafogo precisa tirar seis pontos nas duas próximas rodadas, quando ele pega duas babas em casa, e o Cruzeiro, ao menos em teoria, pega dois rivais difíceis fora. Vamos imaginar que o Botafogo faça os seus 15 pontos, o que é uma hipótese improvável, mas possível. Se o Cruzeiro perder as próximas duas e ganhar as três seguintes, fará 9 pontos. Ainda estará dois na frente, mas eles chegarão à reta final do campeonato separados por uma diferença mínima. E aí, vamos que vamos.

Repito. O Botafogo tem que tirar, nos próximos cinco jogos, seis ou mais pontos do Cruzeiro para se manter vivo na competição. É o único trecho da tabela em que ele tem vantagem, pela qualidade dos rivais e pela ausência de viagens, o que ajuda muito.

Se o Botafogo fizer 13 pontos, uma hipótese bem mais provável. E o Cruzeiro ganhar um desses jogos "pedreira" ou empatar os dois… fizer 10 ou 11 pontos, digamos, nesta série de 5 jogos. Ele ainda estará 4 ou 5 pontos na frente na reta final, o que parece pouco, mas é muito. Porque a sequência de jogos é muito mais amigável ao time azul. E não se esqueçam que, no meio de tudo isso aí, o Botafogo fará dois clássicos desgastantes contra o Flamengo pelas quartas de final da Copa do Brasil, enquanto o Cruzeiro tem a dádiva de estar fora da competição concentrado, focado e com as pernas firmes no Brasileiro.

O bloco de seis jogos "do meio" deles, antes da reta final: Botafogo faz dois clássicos, contra Vasco e Flamengo, recebe o Atlético-MG e faz três jogos bem chatos fora de casa, contra Vitória, Goiás e Internacional. Já o Cruzeiro, nos seus seis jogos seguintes, tem o clássico contra o Galo, três jogos no Mineirão, contra Fluminense, Criciúma e Grêmio, e sai de casa para pegar Coritiba e Santos. Indiscutivelmente, a tabela destes seis jogos seguintes é melhor para o Cruzeiro do que para o Botafogo.

Então, amigos, o campeonato se decide (ou não) nas próximas rodadas.

Se o Botafogo ganhar de Ponte e Bahia e o Cruzeiro perder de Corinthians e Inter, a coisa se reabre. Se o Cruzeiro ganhar um desses jogos ou mesmo empatar os dois… na minha matemática, tudo estará decidido.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.