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Julio Gomes

Do jeito que vão as coisas, São Paulo pode acabar na frente do Corinthians

Julio Gomes

15/09/2013 19h05

Quem me acompanha em minhas tribunas eletrônicas, sabe o que eu penso de São Paulo e Corinthians, antes e durante o campeonato.

1) São Paulo disputa G-4 (portanto, obviamente não cai). E 2) Corinthians é time campeão.

Claramente, errei em minhas previsões. O São Paulo não vai disputar G-4. E o Corinthians não vai ser campeão. Em tom de brincadeira, mas mostrando o que realmente penso, disse várias vezes que cortaria um dedo se o São Paulo fosse rebaixado. Brincadeira, porque lógico que não vou cortar dedo algum. Sério, porque sempre me pareceu muito oportunista considerar o São Paulo REALMENTE ameaçado de rebaixamento.

No momento em que um time está lá embaixo, ele corre risco. Mas, somando 2 + 2, é fácil perceber que o elenco são-paulino não é de time rebaixado.

"Ah, mas tantos outros grandes já caíram…", dizem alguns. Todos esses grandes que caíram tinham elencos de nível de rebaixamento. Não tinham nada a ver com o São Paulo desse ano. O torcedor tem direito de sacanear o outro, isso é o que move o futebol. Quem entende de futebol, no entanto, não tem caneta e microfone em mãos para sacanear ninguém.

O que aconteceria com Ney Franco até o final do campeonato? O que aconteceria com Paulo Autuori? Nunca saberemos, não passará de especulação. Cada um é livre para falar o que quiser, seja porque realmente acha, seja por casuísmo, para comprovar uma tese ou ganhar uma aposta. Na minha opinião, de maneiras diferentes eles chegariam ao mesmo lugar: fora do G-4, fora do Z-4.

O São Paulo não tem um problema de time. O clube vive um momento político conturbado, rachas entre pessoas importantes, de goleiro a diretor, e tudo isso junto acabou gerando maus resultados dentro de campo. Maus resultados que acabaram tirando o time de onde ele deveria estar, brigando lá no topo. E o jogou para onde não tem como estar, lá na rabeira. Jogar futebol contra parede acaba fazendo com que jogadores atuem de forma mais ineficiente, algumas bolas não entrem, algumas vitórias virem empates, alguns empates virem derrotas. Chamamos de "zica". Possivelmente, seja o resultado da tensão. Não é o mesmo bater um pênalti quando você está em primeiro do que quando está em penúltimo.

Mas, ao longo dos meses, essas coisas vão se ajustando. Parece que já se ajustaram. Com Autuori, creio, o São Paulo teria vencido Ponte Preta e Vasco. Foi com Muricy. Então, além dos pontos, isso cria um fato novo, o fator Muricy ganha peso e o treinador, pelo histórico que tem, vira uma barreira humana que separa o time dos problemas do clube. Consegue trabalhar sem encheção.

A tendência é o São Paulo fazer um segundo turno com número de pontos próximo ou dentro de G-4, possivelmente acima de 30 pontos. Isso será insuficiente, creio, para o time estar, de fato, no G-4 ao final do campeonato. Mas fará com que, em dezembro, muitos deem risada do papo de rebaixamento. Alguns, risadas de alegria, porque torcem pelo clube. Outros, como eu, risadas de satisfação por saber que o futebol tem lógica e não é tão maluco assim. Outras, risadas amarelas de quem errou feio ou, o pior, enganou o próprio público "cravando" que o São Paulo cairia ou tinha enormes chances de fazê-lo.

O título deste post é uma provocação. Mas, amigos, pensem bem. Não são nada 6 pontos em 17 rodadas. 6 pontos em 51 possíveis, pouco mais de 10%.

O São Paulo, hoje, tem 24 pontos. O Corinthians estacionou nos 30. Em uma semana, empatou com o Náutico e perdeu do Goiás em casa. Enquanto um sobe de rendimento, o outro desce. A Fiel já não comparece como antes. Vaia o time. O técnico já abandonou a luta pelo título. O substituto de Paulinho se machucou, o meio de campo não cria volume. Que o São Paulo acabe o campeonato na frente do Corinthians… não seria absurdo algum.

O Corinthians tem problemas sérios. O primeiro, de pontaria. Não deu nenhum banho no Goiás no primeiro tempo, mas jogou melhor e poderia ter feito um gol em uma das chegadas com Pato e Romarinho. Um gol muda um jogo, como bem sabemos. Não fez. Acabou levando gols no segundo tempo e praticamente não reagiu a eles.

O segundo problema é de vontade, mesmo. Parece que a descarga de adrenalina foi tão grande com o 2012 histórico que 2013 será mesmo um ano de transição, de recarregamento de energia para 2014. A torcida cobra vontade, sobretudo. É o que faltou no ano todo. O terceiro problema é que alguns jogadores não dão mais conta, não atingem mais o nível que atingiram um dia. Os laterais saíram machucados contra o Goiás, é sintomático.

Pelo elenco do Corinthians, a forte defesa (sistema defensivo, sobretudo), a estabilidade política e estádio cheio todo jogo, acreditava mesmo que o título seria barbada. Estamos falando de um esporte feito por humanos, no entanto, não máquinas. Errei, não previ a preguiça alvinegra ao longo do ano. Analisei fria e matematicamente. O futebol, ainda bem, não é assim. Errei. "Só bate quem erra", como diria o outro.

É mais fácil mandar técnico embora do que reformular elenco. O que o Corinthians precisa fazer não é mandar Tite embora, é reformular algumas coisas. De todas as maneiras, precisa pensar em tudo isso quando acabar a temporada atual. E se a solução for trocar Tite, que seja. Mas no final do campeonato, de cabeça fria e planejamento e metas em mãos.

Você aí, amigo leitor, acha que o São Paulo acaba na frente do Corinthians? Guardarei meu palpite para mais algumas rodadas…

No Twitter, siga-me em www.twitter.com/juliogomesfilho

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.