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Julio Gomes

Com saída de Tito do Barça, Europa vê troca-troca inédito entre gigantes

Julio Gomes

19/07/2013 16h03

O câncer venceu a batalha contra Tito Vilanova. Torço, aqui à distância, para que não vença a guerra. O fato é que o Barcelona anunciou nesta sexta-feira que o treinador teve nova recaída por culpa da doença, deverá voltar a fazer tratamentos fora do país e não poderá seguir no comando técnico.

Quem vem para o lugar? Alguém de dentro? Villas-Boas? Laudrup? De Boer? Algum outro holandês? A certeza é que não será um brasileiro, dado que nossos treinadores não foram capazes de abrir de verdade o mercado do mundo onde o futebol é mais forte. Mas isso é história para outro post.

A Europa vive um momento único, inédito. Os sete clubes mais ricos do continente no momento, as maiores potências de seus países, entrarão na temporada com um novo treinador. No ano passado, por exemplo, isso não aconteceu com nenhum deles.

O Real Madrid tirou Carlo Ancelotti do PSG, cansou de José Mourinho (e vice-versa). Este, por sua vez, voltou para a casa, para o Chelsea. Na Inglaterra, Alex Ferguson finalmente se aposentou, chegou David Moyes ao Manchester United. Uma incógnita. O City, afinal, cansou do medíocre Roberto Mancini e trouxe o ótimo Manuel Pellegrini para o lugar. O mais poderoso da Alemanha, o campeão europeu, Bayern de Munique, já havia anunciado havia tempos a chegada de Pep Guardiola para o lugar de Jupp Heynckes. O novo rico da França, o PSG, perdeu Ancelotti para o Madrid e foi atrás de uma ótima solução local: Laurent Blanc.

Agora, a sétima troca: o Barcelona. Sai Vilanova e entra quem? Falo disso daqui a pouco.

Difícil imaginar que o título da próxima Champions League não fique com um destes sete: Barcelona, Real Madrid, Chelsea, Manchester United, Manchester City, Bayern de Munique ou Paris Saint-Germain. Mas há de se ressaltar que não há troca simples, o treinador tem um peso muito importante dentro destes clubes.

Quem pode se beneficiar? Quem não trocou. Arsenal, com Arsene Wenger, e Tottenham, se segurar o ótimo André Villas-Boas, podem, por que não?, sonhar com algo diferente na liga inglesa. De repente sonhar com o título, certamente com Champions. Na Alemanha, se Guardiola claudicar, o Dortmund, de Jurgen Klopp, estará ali pronto para beliscar. Na França, o PSG tem a companhia de um novo rico, o Monaco, de volta à primeira divisão e com Claudio Ranieri no comando.

(Aliás, vocês se lembram do primeiro técnico do Chelsea na fase "novo rico"? Quem tomou um pé de Roman Abramovich para a chegada de Mourinho, em 2004? Ele mesmo… Ranieri. Ao final da temporada que vem, com esse monte de jogador bom no Monaco, bem capaz que a história se repita com Ranieri, um técnico nota 5,5).

Em termos de Champions League, quem pode se beneficiar são os italianos, especialmente a Juventus. A Juve é campeã italiana, manteve a base fortíssima e ainda atuou super bem no mercado, trazendo Tevez e Llorente. Com mais punch ofensivo, Antonio Conte pode sonhar com algo grande na Europa – especialmente considerando esse troca-troca nos outros rivais de peso da Europa.

Como já fez com Mourinho e Villas-Boas, o Porto aposta em um treinador muito promissor, Paulo Fonseca. Só 40 anos de idade e um grandíssimo trabalho no Paços Ferreira na temporada passada. O Benfica manteve Jorge Jesus. Devem travar nova batalha pelo título local, podem, sim, incomodar algum "gigante" em um mata-mata na Champions, mas não vejo elenco para pensar no maior título continental. O mesmo serve para Milan e o Napoli, agora com Rafa Benítez. Estes estão mais no nível de Lazio, Fiorentina, Inter e Roma, alguns bons degraus abaixo da Juventus.

Na Espanha, onde o abismo econômico entre Real, Barça e os outros impera, a disputa será mesmo entre os dois gigantes. Com técnico novo, velho, cego, ausente, presente, não importa. Mas, enfim. O que será do Barcelona?

Dos sete clubes fortes que eu citei, foi o único que trocou de técnico de maneira forçada. E agora, com a temporada começando, terá de arrumar alguma solução em plena decolagem. O presidente Sandro Rosell fez apenas um comunicado expressando a tristeza pelo fato de Tito Vilanova ter saído e disse que o novo técnico será anunciado no início da semana que vem.

Serão dias de muita especulação. O Barça foi rápido ao subir Guardiola para o lugar de Rijkaard e Vilanova para substituir Guardiola. O fato de não ter sido igualmente rápido hoje me indica que, talvez, não haja nenhum técnico lá dentro visto como pronto para pegar o comando técnico.

Há rumores fortes de que o Barcelona poderia tirar André Villas-Boas do Tottenham. Seria um bom nome, na minha opinião, um treinador moderno, pupilo de Bobby Robson (assim como Mourinho) e capaz de fazer um grande trabalho no Barcelona sem virar as costas ao modelo de futebol do clube.

Essa é a chave. O Barça, se trouxer alguém de fora, precisa se certificar que esse "alguém" não tenha ideias tão prontas que sejam conflitantes com a filosofia do clube. É por isso que não acredito em Marcelo Bielsa, por exemplo. Teria mais sentido ir buscar Frank de Boer, que já foi jogador do clube e, em três anos de carreira, ganhou três títulos holandeses com o Ajax. Outra opção na mesma linha é Michael Laudrup, outro ex-jogador do Barcelona e que fez trabalho fantástico no Swansea, implementando um jeito de jogar bem "à la Barça" em plena Premier League.

E Xavi? Xavi será técnico do Barcelona um dia. Mas ainda é jogador e quer disputar a Copa do Mundo no ano que vem, simplesmente ainda não é a hora.

Laudrup e De Boer têm o perfil do Barcelona e são nomes de peso para um vestiário consagrado. Villas-Boas seria uma aposta um pouco mais ousada e cara. Trazer alguém de baixo talvez seja ainda mais ousado, dado que esse clube engole profissionais em sua disputa cabeça a cabeça com o Real Madrid. Nos próximos dias, é tomar cuidado com as especulações e aguardar os movimentos do clube.

Apesar do título espanhol, não acho que Vilanova tenha feito um trabalho espetacular em seu ano como substituto de Guardiola. Mas guardarei comigo todas as críticas a seu trabalho. Não é hora disso. É hora de torcer para ele vença a guerra inglória contra essa doença cretina que tanto mal no faz. Força, Tito!

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.