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Julio Gomes

Brasil x Espanha: Se pudessem, que jogadores os técnicos "roubariam" do outro?

Julio Gomes

30/06/2013 01h05

Daniel Alves falou na entrevista coletiva de sábado. Falou para caramba, inclusive. Mas quero me ater a uma frase. "Eu não trocaria nenhum jogador nosso por um deles". Se não foi exatamente assim, esse foi o espírito do que disse o lateral titular do Barcelona e da seleção. Será mesmo? Eu duvido, mas vamos dar um voto de confiança ao bom baiano.

Consegui resistir, ao longo da semana, à tentação de comparar individualmente os jogadores de Brasil e Espanha. Ouvi e li isso em um monte de lugares. Simplesmente não acho que seja a melhor maneira de comparar ou avaliar Brasil e Espanha. É um exercício interessante e quase irresistível, é uma conversa de bar inevitável, é um dos grandes baratos desse esporte. Mas sempre convém lembrar que o futebol é um esporte coletivo. E um dos passos para o Brasil voltar ao topo é justamente entender isso, ver o futebol de maneira menos individual e mais coletiva – seja nas peneiras ou na mídia.

Coletivamente, nem mesmo existe uma discussão entre Espanha e Brasil. É bobagem perder tempo com isso. Um time tem uma forma de jogar desenvolvida ao longo de 9 anos, que joga de memória, que é maduro, que ganhou tudo de importante. Contra outro time jovem, formado há pouco tempo, com um sistema tático conhecido e que depende demais das individualidades.

O que eu proponho aqui é uma brincadeira. Mas, para ter sentido, é preciso que a gente se atenha aos sistemas utilizados pelas duas seleções até agora no torneio. O Brasil em um 4-2-3-1: com dois laterais, dois zagueiros, dois volantes, um armador, dois jogadores abertos pelos lados e um atacante de referência. A Espanha em um 4-1-3-2, com dois laterais, dois zagueiros, um volante, três armadores, um atacante aberto pelo lado e outro de referência.

A pergunta é: quem você trocaria? Que jogador você tiraria de uma seleção para encaixar na outra? Tem que ser na mesma posição!

Vou falar aqui nesse post o que eu faria. E o que eu acho que cada técnico faria, conhecendo o estilo dos dois.

Se eu fosse Del Bosque…

Eu pegaria, do time brasileiro, Daniel Alves, Marcelo e Neymar. Somente estes três. Daniel Alves seria muito mais Daniel Alves na Espanha do que no Brasil, porque é no Barcelona que ele aprendeu a jogar com associações, é por lá que ele tem a ajuda de Xavi e aproveita o campo aberto deixado pelas diagonais puxadas por Pedro. E tem Busquets sempre atento a suas subidas. Alves seria um reforço gigante para a Espanha.

Na outra lateral, são dois jogadores muito parecidos. Marcelo e Alba são dois laterais muito ofensivos e velozes, com dificuldades claras na marcação. Têm características semelhantes, mas Marcelo tem mais volúpia no ataque, mais criatividade e uma certa anarquia que pode definir um jogo. Aqui, é pau a pau. Mas eu escolheria Marcelo, e acho que Del Bosque também.

Por fim, Neymar. Não daria para abrir mão de Neymar. Mas ele não jogaria no lugar de Pedro, pois não é capaz de fazer o mesmo trabalho sem bola, tanto na parte defensiva quanto na ofensiva (puxando diagonais para abrir espaço para os outros, sem a perspectiva de receber o lançamento). Neymar entraria no lugar do atacante, seja ele Soldado ou Torres, fazendo a tal função do falso 9. Foi assim que a Espanha jogou na Eurocopa-2012. Teria Busquets, Xavi, Iniesta, Silva ou Fàbregas, Pedro e Neymar.

Se eu fosse Scolari…

Aqui, acho que haveria mais trocas. Se eu fosse Scolari, gostaria de ter um dos zagueiros espanhóis, os três meio-campistas e mais Pedro. Seriam cinco trocas.

Thiago Silva e Piqué, de um lado, e Sergio Ramos e David Luiz, do outro, são zagueiros semelhantes. A primeira dupla é mais técnica, mais refinada, mas às vezes refinada demais. Thiago Silva e Piqué, juntos, dariam uma qualidade incrível na saída de bola, mas talvez faltasse ali uma pitada de tensão. A segunda dupla é mais bruta, mais faltosa, é onde sobra a tensão, mas às vezes falta técnica. Curiosamente, ambos são bons lançadores, bons batedores de faltas e bons cabeceadores. Acho que Felipão escolheria Ramos a David Luiz pela rodagem e por ser, digamos assim, um pelinho mais maldoso de forma inteligente.

Outra opção seria Ramos na lateral, no lugar de Daniel Alves, deixando a dupla de zaga atual intacta. Scolari nunca escondeu que gostaria de ter um lateral mais apoiador e outro mais defensivo. Daniel Alves não tem no Brasil os mesmos "sócios" que façam seu jogo crescer.

Nos três meio-campistas, não vou me alongar muito. Busquets-Xavi-Iniesta ou Luiz Gustavo-Paulinho-Oscar? Acho que nenhuma pessoa no mundo escolheria o segundo trio. Individualmente, juntos, alternados, de olhos vendados, enfim… não importa muito. E não é demérito para os brasileiros. Estamos falando, principalmente quando nos atemos a Xavi e Iniesta, em dois dos melhores meio-campistas da história do futebol mundial. Felipão pegaria os três de olhos fechados. Busquets, então… nossa, seria o xodó de Scolari. É a pitada de mau-caratismo (que o homem adora) nesse time de bonzinhos.

Fred e Neymar seguiriam ali. Mas Hulk, creio, perderia o lugar para Pedro. Muitos no Brasil não dão o devido valor ao jogo de Pedro, porque olha-se muito, somente, para suas ações com a bola. Além de ser bom com a bola, Pedro faz um trabalho sem bola que é impressionante. Scolari optou por Hulk em vez de Lucas, lá atrás, justamente pela capacidade de Hulk compor a marcação e ainda ter físico para chegar com velocidade à frente. Mas o homem adora jogadores rápidos e dribladores, basta ver como Bernard superou Lucas ao longo deste mês de treinos. Ele adoraria ter um Pedro – rápido na frente, decisivo fechando espaços e roubando bolas.

Acho que é por aí. Se eu fosse Del Bosque, eu pegaria três brasileiros e manteria meu sistema de jogo. Se eu fosse Felipão, pegaria cinco espanhóis e manteria minha ideia de jogo. Com os 22 em mãos, meu time teria Casillas; Daniel Alves, Sergio Ramos, Thiago Silva e Marcelo; Busquets, Xavi e Iniesta; Pedro, Fred e Neymar.

E vocês, o que acham que os técnicos fariam? E o que você faria?? Divirta-se!

PS – Brincadeira à parte, acredito que a Espanha tenha Fàbregas de volta ao time, não sei se no lugar de Silva ou como falso 9, substituindo Torres. Acredito que Jesús Navas ficará como opção de banco para abrir o jogo no segundo tempo. No Brasil, infelizmente sinto que Felipão usará Hernanes no lugar de Hulk, fortalecendo o meio. Por que "infelizmente"? Porque não acho que ganhar seja a coisa mais importante no domingo e, sim, ver como a formação ideal que ele escolheu se sai diante da campeã do mundo. Manter o time que jogou todo o torneio e ver em que pé está o Brasil.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.