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Julio Gomes

Exclusivo: Encontrei o Soldado que mais apoia as manifestações pelo Brasil

Julio Gomes

22/06/2013 14h52

Roberto Soldado, 28 anos, é uma manchete ambulante. Não tem jornalista esportivo que não tenha feito alguma brincadeira com o sobrenome do atacante que, atualmente, é o titular da melhor seleção de futebol do mundo. "Estou acostumado, desde pequeno fazem piadas com isso", diz, sorridente.

A seleção espanhola é consideravelmente mais aberta do que a brasileira. O problema é que só os jornalistas locais sabem disso, enquanto os estrangeiros ficam mais restritos às insuportáveis coletivas. Meus cinco anos morando e trabalhando lá me ajudaram a entrar na turma, e a conversa com Soldado foi uma grata surpresa. Cada vez fico mais convencido de que o futebol é jogado tanto com a cabeça quanto com os pés, conhecer o esporte, entender o jogo são fatores fundamentais para o sucesso dentro de campo.

Esse Soldado não é raso. Enquanto a polícia desce o sarrafo nas manifestações Brasil afora, encontrei o Soldado com palavras mais amigas (não resisti às piadas! Parei por aqui). Abaixo, a entrevista exclusiva para este blog.

Julio Gomes: Roberto, aqui no Brasil só se fala desse Brasil contra a Espanha que ainda não aconteceu. Vocês conversam sobre isso entre vocês, também estão ansiosos por este duelo?

Roberto Soldado: Quando você está em um campeonato assim, sempre quer jogar com os melhores. O Brasil já mostrou que está em alto nível. A final contra o Brasil é o que todo mundo quer e nós também, porque queremos sempre enfrentar os melhores. E o Brasil já demonstrou estar nesse nível, por isso quero muito jogar essa partida.

JG: Vocês ganharam duas Eurocopas, um Mundial, o Barcelona faz o que faz… jogar contra e ganhar do Brasil é a única coisa que está faltando? É a cereja no bolo?

RS: O que falta para a Espanha é a Copa das Confederações. E sabemos que, para isso, se tudo corre normalmente e os dois passamos da semi, vamos pegar o Brasil na final. Queremos ganhar essa Copa, é o que falta ao nosso futebol e é o que querem todos os espanhóis. Para ganharmos, sabemos que há muita possibilidade de que seja contra o Brasil.

JG: Como vocês estão vendo a organização, o país, tudo o que está acontecendo nas ruas…?

RS: Nós não sofremos na própria carne nenhuma manifestação nem nada. Mas acho que precisamos ter um pouco sensibilidade com o povo brasileiro… Por todos os problemas, pelos preços (altos), são muitas coisas que afetam o povo brasileiro. Se vê que se gastou muito dinheiro com infraestrutura para estádios e por isso há que se entender essa gente que se manifesta pacificamente. Não tem que dar bola para os radicais, porque não acrescentam nada e não ganham nada sendo radicais. Mas as pessoas querem essa liberdade para falar, estão se manifestando pacificamente e sendo exemplares.

JG: Esse é um time que joga de maneira muito parecida à do Barcelona. Como é para um jogador formado no Real Madrid, que nunca jogou no Barça, se adaptar a este estilo?

RS: Na minha posição, o trabalho é mais fácil. Minha tarefa é fazer gols, e quando você fica rodeado de gente que sabe jogar muita bola, se aproveita disso. São muitos jogadores próximos dentro de campo e isso facilita muito a vida do atacante.

JG: Você aprendeu muito com Ronaldo?

RS: Ronaldo, desde que vi jogar no Barcelona, foi um jogador em quem sempre me espelhei. Seus movimentos dentro de campo, a hora de definir. Depois, tive a sorte de dividir vestiário com ele e aprendi muito. Foi um sonho.

JG: Aqui no Brasil, você é o campeão das piadas. Soldado ganha a guerra, esse tipo de coisas… na Espanha é assim também?

RS: (risos) Estou acostumado desde pequeno com as piadas sobre meu sobrenome. É bom, é bom. É legal que falem de você, é sempre bom. Cada vez que meto um gol brincam com isso nas capas, nas manchetes. Eu gosto!

JG: Qual é o país do futebol?

RS: Agora, a Espanha! Antes, o Brasil. Hoje, a Espanha.

 

Obrigado, Roberto! Foi o Soldado mais simpático e solícito que já conheci. De longe…

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.