Robben e uma correção histórica em uma das maiores finais de Champions
Arjen Robben é um sujeito simpático. Troquei palavras com ele algumas vezes quando jogava no Real Madrid, clube de onde foi literalmente escorraçado para dar lugar a Cristiano Ronaldo. Naqueles anos, "fominha" e "quebrado" eram as palavras que mais me vinham à cabeça quando pensava no holandês. Ele era fominha. E estava sempre quebrado. Mas falava bem em inglês, sempre atendia todo mundo, sempre foi muito profissional. E jogava muita bola. Muita mesmo. Jogador agudo, partindo para cima, ajudando na marcação. Ver ao vivo é alucinante, pela velocidade que ele imprime e a rapidez de movimentos. Robben foi embora de Madrid e acabou em Munique. Virou menos fominha. E agora raramente se quebra (isso não é sorte, é preparo, fisiologia e nutrição).
Em 2010, apesar da gigante Copa do Mundo que fez, perdeu um gol que não se perde na final, frente a frente com Casillas. Aquele lance tem um mérito gigante de Casillas mas, convenhamos, atacante ali tem a obrigação de meter para dentro. Aí chega outra final, em 2012, agora a da Champions League. E Robben perde, na prorrogação, o pênalti que poderia ter dado o título ao Bayern contra o Chelsea. Em casa, em Munique. Trágico.
No Brasil, temos o péssimo hábito de avaliar jogadores por lances isolados. É como se o cara ficasse parado o jogo inteiro e aí, de repente, marcasse um gol (craque) ou perdesse um gol (grosso). A dinâmica do jogo não é essa, um jogo de futebol é muito mais do que isso. Um atleta pode fazer uma partida perfeita sem nem pegar na bola. E pode fazer uma partida horrorosa, ainda que marque dois gols. Por aqui, pois, Robben virou grosso e amarelão.
Temos então uma discussão sobre o que significa o termo. Quem amarela, para mim, é quem some. É quem se esconde do jogo, quem tem medo de arriscar, quem atua de forma mais conservadora porque não quer errar. Esse é o amarelão. Robben não fez nada disso nas finais citadas anteriormente. Ele errou, simplesmente errou. Não sumiu, não fugiu, não pediu para sair, não mudou sua forma de jogar. Apenas errou.
E neste sábado, em Wembley, parecia que a história seria a mesma para o carequinha holandês.
O início do jogo do Borussia Dortmund foi espetacular, brilhante. O Borussia adiantava as linhas de marcação e fazia com que o Bayern não conseguisse sair de seu próprio campo. A bola rodava pelos pés dos laterais e zagueiros, nunca chegava limpa a Schweinsteiger. Com muita intensidade, o time de Dortmund cortava os passes, acelerava o jogo e chegava com perigo ao gol do adversário. Neuer fez uma, duas, três defesas importantes. Os primeiros 25 minutos foram todos do Borussia, um verdadeiro nó tático aplicado por Jürgen Klopp.
A intensidade caiu, e o Bayern começou a lançar bolas para as pontas, Ribery pela esquerda e, principalmente, Robben pela direita. As bolas começaram a passar pelo alto da área do Borussia, e aí vieram as primeiras boas oportunidades para o Bayern, as primeiras boas defesas de Weidenfeller. Aqui, um parênteses. Não é de hoje que a Alemanha tem a melhor escola de goleiros do mundo. Quem assiste aos jogos da Bundesliga, sabe o que estou dizendo. Não tem goleiro estrangeiro na liga, porque todos os alemães são muito bons. Neuer e Weidenfeller foram um show à parte na final de Wembley.
Foi na segunda metade do primeiro tempo que surgiram os três grandes lances para Arjen Robben. Bolas limpas, chances reais de gol, com tempo de decidir o que fazer na jogada. Robben perdeu todas elas. E os ecos de "amarelão" cresciam, cresciam, cresciam. Eu mesmo, no Twitter, escrevi o seguinte: "Robben, você não nasceu para finais de campeonato, amigo". Afinal, era a terceira partida gigante em quatro anos, a terceira final com Robben falhando na hora H, tomando decisões erradas no momento decisivo.
No segundo tempo, o Bayern conseguiu impor seu jogo. Teve a posse de bola no campo de defesa do adversário, foi empurrando cada vez mais o Borussia para dentro da própria área e espalhando as linhas – gerando buracos para serem explorados. Sempre pelos lados do campo, sempre com Robben e Ribery e, agora, com mais participação também de Muller. O primeiro gol saiu de uma jogada entre Ribery e Robben, que cruzou para Mandzukic marcar.
Neste momento, o Bayern tinha a faca e o queijo na mão. O Borussia não conseguia criar volume, errava muitos passes e propiciava contra ataques perigosos. Empatou em um lance estúpido de Dante, que fez um dos pênaltis mais bobos que eu já vi em jogos importantes. Lembrem-se do que escrevi no terceiro parágrafo deste post, um jogador não pode ser avaliado por um lance. Dante é muito bom zagueiro, muito bom mesmo. E cometeu um erro grave, vai ficar de aprendizado (para sorte dele).
Com o empate, o Bayern seguia melhor e mantinha o controle do jogo, mas arriscava menos e já pensava na prorrogação. Até que veio o calcanhar de Ribery, a entrada de Robben em velocidade na área e… Que toque brilhante, lindo, um tapa de pé esquerdo de quem absolutamente sabe o que faz.
Foi um grande jogo de futebol, daqueles que poderiam não acabar nunca que não cansaríamos. Os jogadores erraram pouco, correram muito, foi um jogo tático para caramba e ao mesmo tempo dinâmico e emocionante. Até o juiz foi bem! Não me lembro de outra final de Champions melhor. Me lembro de atuações incríveis de um time, como o Barcelona no mesmo Wembley, em 2011. Me lembro de decisões para lá de emocionantes, como a de Istambul, em 2005. Mas uma final tão bem jogada pelos dois times… eu não lembro.
Como amante do esporte, estou contente. Um jogador dinâmico, inteligente, talentoso e trabalhador como Arjen Robben não poderia ficar para história marcado pelos gols que perdeu. O futebol tem essa incrível capacidade de se autocorrigir, de criar chances para quem merece, da redenção para os que buscam. Hoje, em Wembley, foi corrigida uma injustiça histórica.
Depois de bater na trave duas vezes, o Bayern é o justo dono da Europa. Vai faltar cerveja na maravilhosa cidade de Munique.
E, apesar da festa, Arjen Robben já pode dormir em paz.
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