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Julio Gomes

Vaias ao francês do salto com vara na entrega de medalhas foram ridículas

Julio Gomes

17/08/2016 02h03

Depois da vitória de Thiago Braz no salto com vara, na noite de segunda-feira, o francês Renaud Lavillenie fez duras críticas à torcida brasileira, que vaiou seu último salto. Ele fez sinal de negativo antes de partir com a vara. A pressão entrou em sua cabeça. Errou. O recordista mundial e campeão em Londres-2012 precisou se contentar com a prata. Não respeitou o adversário que tinha pela frente.

Critiquei aqui no blog Lavillenie pelo mimimi, pela atitude.

Percebi ao longo do dia que muitas pessoas concordaram com meu ponto de vista. Li também outros pontos de vista, que respeito, especialmente de um grande amigo que disse:

"Torcer é algo que deve ser positivo. É a tua maneira de ajudar atletas. Vaiar é apenas uma expressão de intenções negativas para destruir o oponente. Esporte não é guerra, ainda mais em Olimpíadas. Desculpar a atitude do público dizendo que em outros países se faz o mesmo não é um argumento válido. Errado não vira certo só porque todos estão fazendo errado".

Respeito muito o ponto de vista. Apenas não concordo com ele no caso específico da prova do salto com vara. É uma torcida pelo ouro, pelo atleta da casa, no calor da competição. É um estádio! Esporte não é guerra. Mas não considero o que foi feito no Engenhão algo próximo de uma guerra.

De qualquer maneira, todos tiveram horas para esfriar a cabeça.

A organização dos Jogos pediu desculpas ao francês pelo comportamento do público, que, quer queira quer não, certo ou errado, não é o de costume em provas de atletismo pelo mundo. Lavillenie pediu desculpas pelo exagero em suas críticas, por ter comparado (absurdamente) as vaias às recebidas por Jesse Owens pelos nazistas em 1936.

E eis que chegamos à hora do pódio, na noite de terça, no Engenhão.

E, no momento da entrega da medalha de prata ao francês, uma sonora vaia ecoou no Estádio Olímpico do Rio. Thiago Braz, que está longe de ser amigo do francês, fez um gesto de incredulidade, tentou consertar tudo pedindo aplausos. Funcionou mais ou menos, mas já era tarde.

Um absurdo completo. Um ridículo. A primeira vez na Olimpíada que senti vergonha do público brasileiro.

choro_frances

Foi um dia difícil para o Brasil. Boas notícias com o ouro no boxe e a prata na canoagem, ambas medalhas inéditas, de baianos resgatados do nada para brilhar no esporte. Heróis. Mas muitas más notícias também, com as derrotas das mulheres do vôlei, do handebol, do futebol, de Fabiana Murer, com o amargo quarto lugar de Scheidt na vela.

Nenhuma má notícia, no entanto, se compara com o que foi feito no Engenhão. Aquela sim, a pior das notícias.

Fizemos um atleta chorar. "Nunca pensei que me sentiria humilhado em um pódio olímpico", lamentou-se Lavillenie no Facebook.

Feio. Muito mais feio do que as notícias de assaltos, a piscina verde ou as filas. Foi a pior derrota do Brasil na Olimpíada até agora.

O francês foi ridículo no calor da competição, segunda. O público foi ridículo no dia seguinte. De cabeça fria, o que é até pior.

Que pena.

 

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.