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Julio Gomes

A lição de mais um drama pro Fla: ritmo mais intenso desde o início

Julio Gomes

17/12/2019 16h21

No fim das contas, considerando que saiu perdendo, considerando o drama todo, considerando que tantos outros já deram o vexame de perder para algum time aleatório na semifinal do Mundial de Clubes, o que vale para o Flamengo nesta terça-feira é a classificação para a final.

Não dá para imaginar que não seja contra o Liverpool. O fator "tensão", a vontade extra de ganhar, já foi benéfica aos sul-americanos que atuaram contra europeus em diversas ocasiões. No entanto, é claramente prejudicial neste jogo "obrigatório" de semifinal.

Seria, no entanto, simplista concluir que o Flamengo sofreu contra o Al Hilal por causa dos nervos. "Tensão de estreia" é uma cascata daquelas que colou por aí.

Os nervos entram em campo essencialmente quando as coisas vão dando errado. E quase deram muito errado para o Flamengo hoje porque o ritmo do time em campo não foi o ritmo necessário.

Todos sabemos que o futebol jogado na Europa é muito mais intenso do que o jogo jogado na América do Sul. A velocidade é outra. Dentro da Europa, o jogo é mais intenso e pegado ainda na Inglaterra. Enquanto, em nosso continente, é mais cadenciado ainda do que o normal aqui no Brasil.

A distância está encurtando. Vimos, no Brasileirão 2019, elementos de jogo presentes faz tempo no futebol de alto nível da Europa. Vimos jogos mais intensos, times mais intensos, mais velocidade e verticalidade. E esse ritmo é padrão em muitos lugares, até o Al Hilal joga com mais velocidade do que estamos habituados a ver.

O Flamengo nunca impôs um ritmo de jogo forte contra o Al Hilal e essa é a grande lição para a possível final contra o Liverpool. Não dá para entrar em campo esperando para ver o que acontece.

O jogo precisa ser jogado em alta rotação desde o primeiro segundo. O "modo blasé" do Flamengo gerou "somente" um 1 a 0 para os sauditas. Se entrar assim contra o Liverpool, vai estar 3 a 0 em 10 minutos.

No primeiro tempo, a chave foi a lentidão do Flamengo.

Lentidão para entrar no jogo (quando entrou, já estava 1 a 0). Lentidão para perceber que o Al Hilal estava fazendo um jogo de velocidade e sempre buscando o lado esquerdo da defesa flamenguista, as costas de Filipe Luís (problema que só foi resolvido no segundo tempo). E, claro, a principal lentidão: a de raciocínio para os passes.

O Flamengo jogou o primeiro tempo em um ritmo de Brasileirão. Cadenciado, lento, diferente do que o próprio Flamengo fez (vai virar moda?) neste ano, acelerando o jogo. Passes lentos, curtos, nada de primeira, nenhuma virada de jogo, nenhum passe para quebrar as linhas adversárias.

Era um problema fácil de ser resolvido. Bastava colocar a cabeça no lugar e jogar o jogo que o time jogou no segundo semestre.

E foi assim que saiu o empate, logo no comecinho do segundo tempo. Velocidade, passes rápidos, de primeira, jogo de precisão e verticalidade. Aí sim, entram os nervos e o medo de perder, de levar um contra ataque.

Mas o Flamengo teve a mesma paciência que teve na final contra o River Plate. Nunca foi para cima de forma tresloucada. Fez seu jogo e chegou à virada naturalmente.

Era para ter sido mais fácil? Sim. O drama seria menor, se o ritmo de jogo fosse maior. O título mundial depende desta lição ter sido aprendida hoje.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.