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Julio Gomes

Flamengo é o melhor time do século. Mas irá além de um Palmeiras-96?

Julio Gomes

25/10/2019 13h23

O atual time do Flamengo é o melhor time brasileiro do século.

Ninguém, nem o Cruzeiro-2003, teve um time de 1 a 11 tão forte em todas as posições. É o primeiro time brasileiro desde o Corinthians 98-2000 com nível para encarar até mesmo equipes fortes da Europa.

Tem goleiro de nível europeu, laterais de nível europeu, um zagueiro de nível europeu e um, de fato, europeu – uma linha capaz de jogar o jogo como se joga por lá, diminuindo o campo, comandados por um técnico… europeu. Arão poderia ser o nome destoante, mas conseguiu elevar seu nível.

E, daí para frente, são cinco jogadores com qualidade para jogar em praticamente qualquer time da Europa. Gabigol e Bruno Henrique, em especial, têm nível de Champions League, e por um acaso vieram parar no Santos – não deveriam ter voltado, mas voltaram por N razões.

O Corinthians, com Dida, Gamarra, Kléber/Sylvinho, Vampeta, Rincón, Marcelinho, Ricardinho, Edílson e Luizão foi o último time brasileiro de nível europeu.

Não importam os feitos de Inter, São Paulo e o próprio Corinthians neste século, eram times bastante abaixo dos europeus. Com Champions League/Lei Bosman/Mercado Comum Europeu, criou-se o abismo. Um abismo que parecia e ainda parece insuperável.

O Flamengo, com as contas em dia e o aumento no volume de dinheiro que circula no futebol brasileiro, conseguiu montar um time improvável para nossos padrões. Acertou a mão. Fundamental também a escolha de um treinador que está antenado com o que acontece no principal centro do futebol e que não trabalha em função de se segurar no cargo, como faz a maioria.

Mesmo o São Paulo de Telê, o Palmeiras de Scolari e o Corinthians já citado, apesar de terem jogadores de altíssimo nível, não submetiam os adversários desta forma – talvez também porque os rivais da época fossem melhores, havia mais times fortes no Brasil do que há hoje.

Se voltarmos aos anos 60/70/80, aí nem se fala. Times brasileiros eram tão bons ou possivelmente melhores do que os melhores europeus.

O último time que vi por aqui massacrando todo mundo foi o Palmeiras de 1996. Velloso, Cafu, Júnior, Conceição, Djalminha, Rivaldo, Luizão, Muller. O time de Luxemburgo entrava em campo, e a dúvida era apenas se faria 4, 5, 6, 7 ou 8 gols.

Não havia dúvida sobre quem venceria, apenas por quanto venceria. Quem viveu e viu, sabe do que estou falando.

É isso que estamos vendo com o Flamengo hoje. Mesmo neste equilibrado futebol daqui, com tantas camisas históricas, a dúvida não está em "se" o Flamengo irá ganhar o próximo jogo, apenas em "por quanto".

Mas há um detalhe. Aquele Palmeiras ganhou apenas um Paulistão. Sem Muller, caiu na final da Copa do Brasil.

É um time que está na história para quem ama futebol, mas não necessariamente na história para quem ama resultados e para quem elenca times de acordo com as conquistas.

Para quem enxerga futebol assim, o São Paulo de Muricy era uma máquina. Para quem vai além de listinhas, o futebol é outra coisa.

O Flamengo de 2019, um time de apenas quatro meses, pode ganhar "só" um Brasileirão e ser desfeito. Pode perder a Libertadores, pode perder Gabigol, podem acontecer muitas coisas nos próximos anos.

Só o tempo nos dirá se esse time, com ou sem Jorge Jesus, construirá uma espécie de dinastia, como fizeram São Paulo e Corinthians duas décadas atrás.

Ou se ele será um time de um semestre só, como foi o Palmeiras de 1996.

Mas, com dinastia ou sem dinastia, com Libertadores ou sem Libertadores, o futebol brasileiro não vê nada nem parecido com o que esse time aí está fazendo há quase duas décadas.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.