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Julio Gomes

Flamengo passeia, juiz e Guerrero estragam o espetáculo

Julio Gomes

25/09/2019 23h26

Há poucas coisas mais irritantes no futebol do que juiz autoritário, tão dono da situação, tão acima do bem e do mal, que inevitavelmente estraga o espetáculo.

Foi o caso de Luiz Flávio de Oliveira, árbitro de Flamengo 3 x 1 Internacional, nesta quarta, no Maracanã.

O Flamengo é mais time que o Inter, isso já ficou comprovado na Libertadores. O Flamengo muito provavelmente ganharia o jogo de hoje em circunstâncias normais.

Mas as circunstâncias não foram normais, pois as decisões do árbitro determinaram o destino da partida. Eu falo sempre: se o futebol fosse simples, bastaria um robô em campo para colocar regras em prática. Mas não é assim, tem muito cinza entre o preto e o branco, há muitas nuances, muitas interpretações.

Ser juiz de futebol possivelmente seja mais difícil do que ser juiz em qualquer outro esporte. É necessário conduzir o espetáculo, mediar, tentar passar despercebido. A letra fria da regra precisa ser interpretada.

Começamos pelo pênalti em Gabriel, cometido por Bruno. É lance de pênalti? Eu acho um lance discutível. Bruno, de fato, tenta agarrar Gabriel, põe o braço em volta do tronco do flamenguista. Porém, os que acham que não foi pênalti argumentam que o jogador do Flamengo nem mesmo se desequilibra no lance, o agarrão não é suficiente para derrubá-lo ou mudar o destino da jogada.

Revendo o lance, é nítido que Gabriel reclama pênalti pelo fato de seu chute ter sido bloqueado pelo cotovelo de Bruno, caído no chão. E não pelo agarrão.

Eu acho até que daria o pênalti. Dizer que é discutível não é dizer que não foi pênalti. É dizer que é discutível. Repito: eu entendo quem acha que não foi. Eu, como a maioria, daria.

Uma vez marcado o pênalti, é totalmente desnecessário expulsar Bruno. É a tal penalização dupla, deixar um time atrás no placar e com um jogador a menos com 17 minutos de jogo! É claro que faz diferença expulsar com 17min de jogo e com 27min do segundo tempo. "Ele não estava disputando a bola", dirão os defensores da letra fria da regra.

Bruno tenta disputar espaço com Gabriel, buscando, logicamente, tirar a bola do flamenguista, chegar à frente no lance. Não há violência alguma no lance, há uma luta por espaço em que o jogador colorado transgride a lei com um leve agarrão (que nem desequilibra o atacante).

É pura interpretação. Na minha opinião, dado o pênalti, dado o fato de ser começo de jogo, não há a necessidade de expulsar Bruno e praticamente definir o destino da partida.

Ainda assim, o Inter, que, convenhamos, fez um jogo heróico, arrumou um lance de ataque. E, no momento da finalização de Guerrero, ele é tocado por Rodrigo Caio. Pênalti fácil de ser marcado mesmo ao vivo, sem replay. É inacreditável que o VAR não tenha chamado o todo-poderoso árbitro para rever o lance.

Ali, talvez, saísse o 1 a 1. E provavelmente o Flamengo ganharia o jogo do mesmo jeito, com um a mais e mais time.

Mas o lance deixa Guerrero desequilibrado emocionalmente, e o atacante peruano é expulso após mostrar o dedo do meio para o árbitro. A expulsão é correta. Guerrero teve, mais uma vez, atitude infantil, de criança mimada, como sempre acontece quando é contrariado ou está frustrado em campo. Ele deixou Luiz Flávio sem opção.

Espero que Guerrero seja suspenso por vários jogos, a atitude não é aceitável.

O único "porém" é que tudo isso acontece após o pênalti claro não marcado.

O primeiro tempo acaba com o Flamengo na frente e o Inter com 9. As decisões da arbitragem, portanto, são cruciais para o destino da partida, para transformá-la em uma partida fora dos padrões.

O Flamengo leva o empate, em lances "moles" de Arão e Rodrigo Caio contra Patrick, seguidos do chute de Edenílson. Mas a diferença era simplesmente grande demais. O Fla faz 3 a 1 e só não faz mais porque tirou o pé, já pensando no São Paulo e no Grêmio.

O Flamengo está fazendo valer a enorme superioridade que tem em relação aos outros rivais, ganha a oitava seguida. É o melhor time do Brasil (disparado) e caminha firme rumo ao título.

Foi ajudado pela arbitragem?

Não vejo fantasmas nem conspirações, como gostam tantos torcedores. O Flamengo acaba de ser prejudicado pela CBF com a convocação de Tite. Todos são ajudados e atrapalhados por erros humanos.

Eu discordo das interpretações do árbitro hoje, que geraram um jogo atípico. Mas o passeio do Flamengo, talvez, fosse simplesmente inevitável.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.