Topo

Julio Gomes

Estádios às moscas na Copa América: quem está surpreso?

Julio Gomes

16/06/2019 21h27

Foram 13 mil gatos pingados para Uruguai x Equador. 16 mil aqui, 10 mil ali, tem jogo da primeira fase com menos de 2 mil ingressos vendidos, nem amistoso da seleção teve casa cheia no Beira Rio antes do início da Copa América.

Junto com os públicos pífios, acrescente o ambiente patético no Morumbi para a estreia do Brasil. Renda monstruosa, quase 500 contos de ticket médio. Mas um silêncio sepulcral, a noite mais gelada da história do estádio são-paulino.

Rico não sabe torcer? Não é bem isso. Estádio é hábito. É saber do jogo, conhecer do jogo, entender o momento mais importante para se manifestar e como se manifestar. Quando os estádios ficam cheios de pessoas com o mesmo perfil, que raramente vão a uma partida de futebol, o resultado é que o vimos em muitos jogos da Copa, que vimos na abertura da Copa América e que veremos ainda bastante neste mês. É o público cliente.

Não ficaram aí falando que "o cliente tem sempre a razão" e que "torcedor tem direito de falar/xingar/vaiar quem quiser na arquibancada"? Pois é. Eles acreditaram.

Os preços dos ingressos para a Copa América são abusivos. E quem determinou os valores deve ter achado que haveria outra invasão sul-americana ao Brasil. Deve ter achado que aqui o futebol é assim tão amado. Ou seja, não sabem de nada.

Primeiro, "Brasil, país do futebol" é uma falácia. No Brasil, as pessoas gostam de jogar futebol, não necessariamente assistir. Ver futebol é ver o time, não ver qualquer jogo. Outra frase feita, "o que importa é competir", não pegou por aqui. Segundo, Copa América tem toda hora em diversos países vizinhos, não é um evento raríssimo e inédito para tantos sul-americanos, como a Copa do Mundo.

O cara pode ver Messi, Aguero, James, Suárez e Cavani em seu próprio país, em jogos de eliminatórias sul-americanas. Não precisa gastar os tubos para vir ao Brasil só para isso.

O que a cartolagem da Conmebol e da organização da Copa América fez foi afastar completamente o público do torneio. Não falo apenas das pessoas com menos condições financeiras. Porque, vejam bem, basta dar uma espiada nos preços de ingressos do Campeonato Brasileiro para saber que o povão já está longe dos estádios faz tempo. Os preços afastaram pobre, rico, classe média alta, baixa… todo mundo.

Eventos como a Copa América são ótimos para incluir, para dar chances, para levar a criançada ao campo… e depois, claro, você cobra caro na final, semifinal, etc, porque a parte comercial importa. Mas será que não dava para pegar leve nos jogos da primeira fase???

Outra coisa. Para que fazer a Copa América brasileira nas cidades mais saturadas de futebol? São Paulo, Rio, BH, Porto Alegre…

Para que mesmo serviu fazer estádios em Manaus, Natal, Cuiabá, Fortaleza… Por que não fizeram essa Copa América em cidades turísticas, com ótimos estádios e com público sedento por futebol?

É surreal. Não conseguimos dar uma dentro. Nenhuma. Nenhuminha. Que fase horrorosa, vive o Brasil.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.