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Julio Gomes

Sem Neymar, Tite ganha paz e a chance de resgatar o trabalho

Julio Gomes

06/06/2019 05h20

A fase de Neymar anda tão ruim, mas tão ruim, que muita gente está duvidando da lesão que lhe afastou da Copa América. Pois é.

Logicamente, a lesão não é fake e nunca se pode celebrar quando um esportista vive seu pior pesadelo. Desejo o melhor a Neymar neste novo período de recuperação. Infelizmente, seja por culpa dele ou por culpa da má sorte, o Neymar-craque-projeto-de-melhor-do-mundo não aparece desde 2015.

Agora, pensando na Copa América que se aproxima, essa é uma ótima notícia para Tite – ainda que ele nunca vá admitir externamente e talvez nem ache que seja.

É claro que a perda técnica de Neymar é grande. Mas será que ele renderia tecnicamente tudo o que pode precisando depor à polícia no meio de tudo isso e se defender da acusação de estupro e agressão a uma mulher? O cara está no meio de uma guerra de informações e de conquista de opinião pública, não há como focar apenas na bola.

A Copa América com Neymar seria uma Copa América em que o foco não estaria na seleção brasileira. E mais: ainda que o público endinheirado que comprou ingressos tenha mais o perfil de apoiar Neymar, ele é uma figura que, hoje, divide a sociedade.

Entre os que amam e os que detestam, Neymar vira pivô de um afastamento da seleção com a torcida. São muitas as manifestações nas redes sociais dizendo: "agora que Neymar está fora, posso torcer tranquilo pela seleção".

Para Tite, Neymar é solução. Mas, no atual contexto, Neymar é problema. É muito melhor poder trabalhar com uma distração a menos. A lesão acaba corrigindo um erro de Tite, que não deveria tê-lo convocado após o soco dado no torcedor, na França.

O Brasil tem jogadores bons o suficiente para ganhar a Copa América sem Neymar. Tem uma defesa para lá de sólida e veterana, vários atacantes que podem desequilibrar um jogo, tem dois campeões europeus. É a chance de Tite resgatar o espírito de coletividade e solidariedade. Resgatar aquela seleção que jogava o fino antes da Copa do Mundo.

Desde a Rússia, da campanha tumultuada pelas simulações e pelo cai-cai, Tite nunca mais encontrou o caminho.

Talvez o título não venha, talvez o título não viesse com Neymar. Não é disso que se trata. Não é só disso que se trata. Há vida sem Neymar. Agora, o homem pode trabalhar em paz e se reencontrar.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.