Topo

Julio Gomes

Dez anos atrás, Messi e o futebol eram reinventados

Julio Gomes

02/05/2019 04h00

Era o dia 2 de maio de 2009. Dez anos atrás, em um dia como hoje, o futebol mudava.

Você pode ler esse texto até o final e achar que é exagero meu. Eu digo que não há exageros quando falamos de Lionel Messi e Josep Guardiola.

Era a 34a rodada do Campeonato Espanhol 2008/2009, a primeira temporada de Guardiola no banco do Barcelona. Clássico no Santiago Bernabéu, Real Madrid quatro pontos atrás, invicto havia 18 rodadas. Era, vamos lá, a final do campeonato.

Na véspera, Guardiola estuda o jogo, como sempre faz. "Descobre", por vídeos de clássicos anteriores, que o Madrid exerceria muita pressão no meio de campo do Barça (Xavi, Yaya Touré) e deixaria um enorme pedaço de campo entre volantes e zagueiros. Passa a mão no telefone e liga para Messi. Era ali que ele precisaria jogar, trocando de posição com Eto'o e deixando o time sem centroavante.

Ali, surge Messi, o "falso 9".

Em suas primeiras temporadas como profissional, Messi foi um jogador de lado de campo, atuando pela direita. O astro do time era Ronaldinho. O artilheiro, Eto'o. O armador, Deco. Em 2006, o melhor do mundo era o Gaúcho. Em 2007, Kaká. Em 2008, Cristiano Ronaldo.

A temporada 08/09, a primeira de Pep, é também a primeira de um Messi verdadeiramente estrelar. E, a partir do jogo do Bernabéu, Messi vira astro do time, artilheiro do time, armador do time, melhor do mundo. Vira tudo. Messi como falso 9 simplesmente destrói o Real Madrid, e o Barcelona impõe uma goleada de 6 a 2 ao maior rival.

Acelere a fita em 10 anos e descubra que Messi chegou ontem, em sua atuação monumental contra o Liverpool, a 600 gols pelo Barça. É um gênio. E seria um gênio multicampeão nas mãos de qualquer outro técnico. Mas quanto tempo levaria para alguém "descobrir" que Messi poderia, com uma simples mudança de posicionamento, elevar seu jogo à enésima potência?

Após o 2-6 do Bernabéu, Messi se transformou no que é. E o Real Madrid entrou em pane, recorreu de novo ao poderoso Florentino Pérez, que voltou à presidência com seu patrimônio e visão empresarial, contratou Cristiano Ronaldo. História.

Eu tive a felicidade de estar no Bernabéu naquele 2 de maio. Havia acabado de voltar ao Brasil após cinco anos morando na Espanha, mas precisei retornar a Madrid meses depois para resolver algumas coisas pessoais. É um dos jogos da minha vida. Você sabia, naquele dia, naquele estádio, que estava vendo algo diferente acontecer na história. Não era um jogo normal, uma goleada trivial, dessas que acontecem sem querer.

O Barcelona conquistaria o "sextete" em 2009. Ganhou tudo. Mas chegou a seu auge em 2011 – aquele que foi, para mim, o melhor time da história do futebol.

Eu não vi Pelé. Mas, mesmo quem viu Pelé, não viu nem metade dos jogos dele. Messi está lá, todas as semanas, sendo visto, analisado, dissecado. Para o mundo todo ver. Não acho absurdo algum dizer que Messi é o melhor da história. Não entro nesse debate, acho difícil comparar épocas, ingrato comparar conquistas individuais em um esporte coletivo. Hoje, por exemplo, a Champions League supera a Copa do Mundo em qualidade.

Digo que Messi é o Pelé deste século. E, de alguma forma, o que aconteceu 10 anos atrás, em Madrid, moldou o que vimos depois. Guardiola foi embora, muitos treinadores passaram pelo Barcelona, muitos jogadores, como Neymar, Xavi, Iniesta, Henry, Ibra, etc, etc, etc, vieram e se foram.

Pessoas vêm e vão, Messi fica. O tempo não passa para ele, e o Barcelona nunca pareceu tão dependente nele. Na verdade, sempre foi. Todos nós, que amamos o futebol, somos. Viva!

Nesse link, relembre o Real 2 x 6 Barça.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.