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Julio Gomes

Portugal ensina a lição que parece impossível de ser aprendida no Brasil

Julio Gomes

29/12/2018 04h00

Quatro medalhas de ouro, todas no atletismo. Oito de Prata. Doze de bronze. São 24 medalhas no total. Na Rio-2016, um país com tal desempenho acabaria em vigésimo lugar no quadro de medalhas.

Portugal tem esses números de medalhas em toda a história dos Jogos Olímpicos.

Uau. Surpreendente, até. Portugal é um país pequeno, nunca foi nem será dos mais ricos, mas é um país europeu e que ama esportes. 24 medalhas na história? O Brasil, que não é nenhuma potência, ganhou 19 só no Rio!

Mas aí eu pergunto: o que é mais importante? Ganhar medalhas? Ou proporcionar a prática esportiva à população?

E aí, caro leitor, caro leitora, temos muito o que aprender com os portugueses. Aliás, a cada dia que passa fica mais fácil notar que temos muito a aprender com os portugueses em praticamente tudo nessa vida.

É claro que ter ganhadores no esporte ajuda a divulgar, incentivar, promover. Mas, me digam, o que aconteceu com o tênis brasileiro pós-Guga? Ou com a ginástica pós-Daiane? Ou com a natação pós-Cielo?

O Brasil recebeu uma Copa do Mundo, Olimpíada, Jogos Pan-Americanos, um caminhão de eventos internacionais e… nada. A última notícia? Não haverá mais ministério do Esporte. O esporte aqui é algo secundário. É visto como gasto supérfluo. As pessoas se importam com a vitória ou derrota do time, com a gozação no trabalho ou no bar. Mas não há cultura esportiva.

Em comum entre todas as nações bem sucedidas do mundo está o esporte como ponto central.

Em Portugal, tive a chance de conhecer 11 dos 14 centros de alta performance pelo país – literalmente espalhados, sem qualquer tipo de concentração nas duas principais cidades, Porto e Lisboa. A reportagem está aqui.

A divulgação dos centros é parte de um plano: Portugal quer receber equipes de diversos países e tornar todos os centros sustentáveis financeiramente. É um país europeu, a poucas horas de voo de tantos outros, com bom clima, paz e tranquilidade.

E os portugueses vão consolidando a imagem de bons anfitriões. Em nosso périplo, conhecemos uma figuraça, José Veiga Maltez, uma espécie de prefeito de Gologã, cidade que abriga o centro de referência de esportes equestres. Abriu a própria casa (ou mansão, como queiram), explicou que o tataravô teve a visão de comprar aquelas terras enquanto a corte fugia para o Brasil, mostrou sua coleção de charretes de várias épocas, seus cavalos, desfilou de carro antigo, ele para a cidade por onde passa.

Comunicação é tudo. No melhor cenário, Portugal conseguirá atrair clientes das diversas modalidades para viabilizar economicamente todos os centros de alto rendimento.

Na pior das hipóteses, pequenas comunidades podem utilizar a preços módicos quadras de tênis, badminton, piscinas, pistas de atletismo ou um alojamento de boa qualidade. Sem contar as parcerias com universidades e escolas, a intersecção, a troca de conhecimento.

Em Maia, perto do Porto, jogar tênis em uma quadra de saibro coberta custa 5,90 euros por hora. A poucos metros, dezenas de crianças de primeira e segunda idades lotam um ginásio e aprendem a usar argolas, saltar sobre o cavalo e dar mortais na trave.

Em Viana do Castelo, o surfe faz parte do curriculum escolar desde 2013.

Isso é valorizar, dar protagonismo e inserir o esporte na sociedade. O resto é conversa fiada.

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.