Final da 'Conquistadores' não pode apagar nossa tragédia
Tenho alguns bons amigos do Boca Juniors, alguns bons amigos do River Plate. Um deles, do River, foi de São Paulo a Buenos Aires para a final de duas semanas atrás. Foi ao estádio no sábado e foi de novo no domingo. Voltou para casa com uma frustração do tamanho de seu corpanzil.
Outro, que mora em Madrid há quase duas décadas, talvez nem saiba mais como é torcer por seu time no estádio. Apesar da total desconexão, tem uma foto com Maradona e camisa do Boca no hall de entrada de seu apartamento, foto que prova que um dia ele teve cabelo, e terá a estranha possibilidade de ver o seu Boca jogar por mais uma Libertadores… na cidade que adotou.
É bizarro que a final da Libertadores da América seja em Madrid, capital da Espanha. Será a final da Conquistadores da América? Tenho certeza que a cartolagem barriguda e fumadora de charuto leu poucos livros de história na vida. Eles são mais das finanças, mesmo. Nem sabem o paradoxo que promovem.
É verdade também que os espanhóis, hoje, não têm mais o afã imperialista e assassino de outrora. Nesse sentido, se pensarmos em Conquistadores contemporâneos, mais bizarra seria uma final em Miami – não se enganem, este é o grande sonho da cartolagem, que consegue ter a final única que tanto queriam em campo neutro, oficial a partir de 2019, na prática a partir de 2018.
Tudo o que envolve esta final de Libertadores é uma tristeza. A incapacidade de organizar um evento, de encontrar os culpados, de desafiar quem usa o futebol para agredir e machucar, a incapacidade de acordo entre partes opostas, a incapacidade de fazer a "maior final de todas".
Pois, então, cruza-se o oceano com o rabo entre as pernas e orelhinhas abaixadas. E vamos lá, pedir ajuda a quem sabe o que faz. E o pior é há nem mesmo como debater nosso vira-latismo.
A final de hoje será espetacular. Madrid está tomada de argentinos, e, seja os que foram até a Espanha, seja os que lá vivem, todos sabem como torcer e apoiar em um estádio de futebol. O Bernabéu estará dividido em dois, com duas torcidas fanáticas. Possivelmente será quebrado qualquer recorde de decibéis, se é que existe uma medição assim.
O jogo tem tudo para ser bom. Ao River, a punição acaba sendo grande e justa – não jogar a final diante de sua torcida. Ao Boca, a chance de ganhar o título no campo, não no tapetão, com a motivação extra por tudo o que ocorreu.
A final acabará sendo vista e acompanhada em toda a Europa. Talvez até mostre para muitos europeus que nossos hábitos nas arquibancadas são muito mais legais do que os deles.
Estou tentando ver o copo meio cheio. Mas o copo já foi derramado inteirinho.
A final de Madrid, com ambiente maravilhoso e repercussão mundial, não pode apagar o que aconteceu. Não podemos ficar entorpecidos pela última impressão. O êxtase de quem está em Madrid contrasta com a depressão em Buenos Aires. A América Latina precisa repassar seu futebol de cabo a rabo, tanto em termos técnicos quanto no posicionamento social.
Só corrige seus erros quem sabe e admite que errou.
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