Topo

Julio Gomes

Qual será o futuro de Rogério Ceni?

Julio Gomes

09/11/2018 09h57

O Fortaleza será campeão da Série B. Pode ser que seja amanhã, ainda que o jogo, na Ressacada, contra um Avaí buscando o acesso, não seja dos mais fáceis. Pode ser no feriado de 15 de novembro, com uma grande festa no Castelão, diante do Juventude. É apenas questão de tempo.

E o que será de Rogério Ceni?

Depois de anos estancado na Série C, onde definitivamente não era o lugar do Fortaleza, o Leão pula da B para a A logo na primeira tentativa. E de forma para lá de consistente. Liderou do início ao fim, na quinta rodada já sabíamos que subiria.

Ceni, que talvez tenha aceitado de forma prematura pegar o São Paulo ano passado, pôde, na Série B, em uma longa disputa de pontos corridos, acertar, errar, tentar, testar, superar os obstáculos, ver o que funciona e o que não funciona em seus métodos como treinador de futebol.

Já está pronto para a próxima? Só saberemos quando chegar a próxima. Será que a próxima já tem que ser logo agora?

O Brasil é um deserto de ideias. Alguns elementos do jogo, não tão visíveis para o público em geral, estão chegando só agora por aqui. Rogério Ceni parece ser do time de treinadores antenados, globalizados e que buscam colocar em prática o que está sendo feito no mundo hoje em dia – e não só replicar aquilo que ele vivenciou como atleta.

Gente assim costuma colher frutos rápido e já ser alçada a postos bem mais importantes, talvez prematuramente. No futebol brasileiro, etapas são queimadas o tempo todo.

Qual seria o destino ideal de Rogério Ceni? E o quanto sua ligação histórica com o São Paulo altera os possíveis cenários?

Vejamos.

Palmeiras e Corinthians têm pinta de que manterão seus treinadores para 2019 e acho que existiria mesmo, um bloqueio à figura de Ceni.

E o Santos? Se Cuca sair, poderia ser uma possibilidade. O clube pode estar na Libertadores em 2019, mas vive problemas financeiros, turbilhão político e há também um passado de alguma rivalidade. Seria uma dilema, se existisse esse convite.

O Flamengo vai passar por eleições e 10 em cada 10 flamenguistas sonham com Renato Gaúcho. Seria a figura ideal para o clube, pois tem qualidade, liderança, pulso firme e histórico de ídolo. Mas Renato pode querer ficar no Grêmio.

O Flamengo seria grande demais para Rogério Ceni? Eu acho que seria uma boa aposta, dado o cenário de mercado atual.

E se algum outro clube do Rio viesse atrás dele? Fluminense, Vasco ou Botafogo. Neste momento, os três parecem firmes com seus técnicos, mas tudo pode mudar em um estalar de dedos. Nestes casos, sinceramente, acho que seria um erro de Ceni aceitar um eventual convite.

São clubes com história? Sem dúvida. Mas colocam 50 mil pessoas no estádio, como faz o Fortaleza? Não tem sido assim. São lugares com perrengues financeiros importantes e com exigência, por parte de torcida e imprensa, incompatível com a realidade. É melhor ficar no Fortaleza, disputando um Brasileirão de Série A, sempre com estádio lotado, em que o objetivo da permanência seria muito mais valorizado do que nos citados clubes cariocas.

Inter, Cruzeiro e Atlético Mineiro devem manter seus treinadores. O Grêmio vai depender de Renato. Se perder seu técnico para o Flamengo, creio que seria também um bom lugar para Ceni.

E há, claro, o São Paulo. Que deveria manter Aguirre para a Libertadores do ano que vem, mas que pode sucumbir à pressa.

Rogério Ceni voltará ao São Paulo fatalmente um dia. Será que precisa ser agora? A exigência em relação a ele, especificamente, no São Paulo, especificamente, será diferente do normal. E o clube ainda não está pronto para títulos e grandes coisas. O São Paulo precisa melhorar bastante para voltar a ser protagonista.

Resumindo. Se aparecer uma oportunidade no Flamengo ou no Grêmio, creio que seria um salto interessante e com boa chance de sucesso para Rogério Ceni – que disputaria a Libertadores pela primeira vez como técnico (o que nem sei se é vantagem, dada a loucura que é esse calendário, não dando tempo a técnicos para trabalharem).

O São Paulo seria um erro. E, para ir para qualquer outro clube não-protagonista da Série A, melhor seria ficar no Fortaleza, mantê-lo na primeira divisão e, depois, pensar em um salto.

E se ele resolvesse abrir mão do alto salário que talvez seja oferecido aqui no Brasil para galgar uma bela carreira na Europa? Da minha parte, terá todo o apoio. Alguém, uma hora, precisa sair da dinâmica "altos salários-alta rotatividade-nenhum tempo de trabalho" do Brasil para se aventurar no primeiro mundo da bola.

 

Sobre o Autor

Julio Gomes é jornalista esportivo desde que nasceu. Mas ganha para isso desde 1998, quando começou a carreira no UOL, onde foi editor de Esporte e trabalhou até 2003. Viveu por mais de 5 anos na Europa - a maior parte do tempo em Madrid, mas também em Londres, Paris e Lisboa. Neste período, estudou, foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol, entre outras publicações europeias. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.

Sobre o Blog

Este blog fala (muito) de futebol, mas também se aventura em outros esportes e gosta de divagar sobre a vida em nossa e outras sociedades.